Nós brasileiros ainda estamos aprendendo a reclamar de verdade há muito pouco tempo. Inclusive, é comum aquelas pessoas que reclamam ser taxadas de encrenqueiras e chatas, mesmo que estejam com toda razão. Reclamar deveria ser visto como um direito e não uma chatice. Reclamar é nosso direito sim e deve ser plenamente exercido!
Por Alessandro Lyra Braga
Não me refiro aqui àquelas reclamações idiotas do dia-a-dia, pois tem gente que realmente reclama de tudo. Reclama se chove, se faz sol, se está quente ou se está frio. Estas pessoas só enchem o saco e não ajudam em nada a humanidade a evoluir. Não vou sugerir que coloquemos estas criaturas em sacos e joguemos no mar, para não perdermos o saco e não poluirmos o mar, mas que seria uma boa solução, lá isto seria!
Assim, eu me refiro às reclamações que tragam melhorias ao nosso cotidiano e alicercem um melhor futuro. Eu me refiro ao pleno exercício do agora resgatado senso de cidadania. Por exemplo, nosso país é cheio de empresas que merecem todas as nossas reclamações. Empresas de telefonia, fornecimento de energia elétrica, planos de saúde e bancos, por exemplo, são campeões de reclamações junto aos órgãos de defesa do consumidor e juizados especiais, e nem assim a qualidade dos serviços prestados melhora. Muitas empresas entendem que sai mais barato pagar danos morais e indenizações a poucos reclamantes do que mudar sua estrutura operacional em busca de melhorias para todos os seus clientes. E nisto, a demora da Justiça, que até parece aos olhos dos reclamantes como uma verdadeira cumplicidade, ajuda neste quadro onde a reclamação é a arma de defesa do cidadão.
Recentemente aprendemos que reclamar das questões políticas também é uma obrigação nossa. Fomos às ruas exigindo decência na política, que mesmo que esteja bem longe de ser atingida, já serviu para colocar a nefasta classe política brasileira em prontidão. Tanto que alguns governadores e outros políticos que se consideravam donos de seu reduto político estão vendo o chão ruir debaixo de seus pés.
Fico muito feliz quando o povo invade a Câmara Municipal do Rio de Janeiro (que é sua por direito!), por exemplo, irritado com a presidência de uma CPI que deverá apurar supostas irregularidades na concessão de linhas de ônibus ser entregue a um vereador governista, que inclusive não apoiou a criação da tal CPI. O que é de espantar, é que os vereadores governistas, numa absurda manobra política, impediram o povo de assistir à sessão, que deveria ser pública, destinada a escolha da comissão que comandará a CPI. O povo está em seu pleno direito de reclamar desta arbitrariedade de um governo que se alicerça em bases de honestidade muito duvidosa, conforme se é noticiado pela mídia independente, esta sim responsável e comprometida com a verdade.
Não sei o que virá pela frente, mas sei que pelo menos eu continuarei reclamando do que considero que seja errado em meu assaltado país. E estou certo que não estou sozinho nesta cruzada. Então, conclamo a todos que tenham bom fôlego, que gritemos nossas reclamações a plenos pulmões. Assim, pelo menos deixaremos a corja política, que se locupleta às nossas custas, surda e mais perdida que cego em tiroteio.
*Alessandro Lyra Braga é carioca, por engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.