Bertrand Russell escreveu, sobre o revolucionário norte-americano Thomas Paine, que "tinha defeitos, como qualquer homem; mas foi por suas virtudes que foi odiado e caluniado com sucesso."
Mark Weisbrot, Commondreams
Não poderia ser mais verdadeiro, dito de Hugo Chávez Frias, que foi provavelmente mais demonizado que qualquer outro presidente eleito na história do mundo. Mas continuou a ser reeleito por amplas maiorias, e foi chorado hoje, não só pelos venezuelanos, mas por muitos latino-americanos capazes de avaliar o que fez pela região.
Chávez sobreviveu a um golpe de Estado patrocinado por Washington[1] e a greves das petroleiras que por pouco não destruíram a economia da Venezuela, mas obteve afinal o controle sobre a indústria do petróleo, seu governo reduziu a pobreza à metade[2] e a extrema pobreza a menos de 30% do que era ao chegar à presidência. Milhões de pessoas ganharam acesso à assistência gratuita à saúde pela primeira vez na vida, e o acesso à educação aumentou muito, com o número de matriculados nas universidades duplicado e cursos absolutamente gratuitos para muitos. O número de aposentados triplicou. Chávez cumpriu promessa de campanha, de partilhar com a maioria dos venezuelanos a riqueza do petróleo do país. E tudo isso é apenas uma parte de seu legado.
Chávez deixa também, como legado seu, a segunda independência da América Latina, sobretudo da América do Sul, que é hoje mais independente dos EUA que a Europa.[3]
Sim, nada disso teria acontecido sem os amigos próximos e aliados de Chávez: Lula no Brasil, os Kirchners na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador e outros. Mas Chávez foi o primeiro presidente que a esquerda elegeu nos últimos 20 anos, e teve papel muito importante; assistam ao que dirão dele todos esses presidentes, e todos perceberão que essas falas serão mais significativas e muito mais importantes que a maioria dos obituários, antiobituários e comentários de 'especialistas'. Todos esses governos do campo da esquerda obtiveram avanços notáveis na redução da pobreza, no aumento do emprego e na melhoria das condições gerais de vida, especialmente para as vastas maiorias mais pobres - e seus partidos também foram repetidas vezes eleitos e reeleitos.[4]
Para esses outros presidentes democráticos, Chávez é visto como parte dessa revolta continental que se fez pelas urnas e que transformou a América do Sul e aumentou a participação política e as oportunidades para maiorias e minorias sempre, antes, excluídas.
É altamente provável que esse processo prossiga na Venezuela[5] depois da morte de Chávez. Seu partido tem mais de 7 milhões de filiados e já mostrou competência para vencer eleições, mesmo sem contar com Chávez em campanha nas eleições locais de dezembro passado, quando os chavistas venceram em cinco governadorados e em 20 de 23 estados.
As relações com os EUA dificilmente melhorarão. O Departamento de Estado[6] e o próprio presidente Obama[7] distribuíram várias declarações hostis durante os meses da doença de Chávez, o que indica que, faça o que fizer o próximo governo (sob a provável presidência de Nicolas Maduro), Washington continuará sem trabalhar para melhorar essas relações.
[1] http://southoftheborderdoc.com/2002-venezuela-coup/
[2] http://www.cepr.net/index.php/publications/reports/venezuelas-economic-recovery-is-it-sustainable
[3] http://www.cepr.net/index.php/publications/reports/obamas-latin-america-policy-continuity-without-change
[4] http://www.cepr.net/index.php/op-eds-&-columns/op-eds-&-columns/chavez-election-not-so-different-from-the-rest-of-south-america
[5] http://www.cepr.net/index.php/op-eds-&-columns/op-eds-&-columns/chavez-election-not-so-different-from-the-rest-of-south-america
[6] http://www.state.gov/r/pa/prs/dpb/2013/02/204955.htm
[7http://www.boston.com/news/politics/2012/president/candidates/obama/2012/12/14/venezuela-criticizes-obama-comments-chavez/iqshNV5j1hgSpSjLC3khtL/story.html
Traduzido por Vila Vudu