Internada num manicômio com 30 anos e morta aos 78, a maior parte da vida da escultora francesa Camille Claudel se passou entre os loucos. Na época de seu internamento como psicótica com base numa lei, com base na qual muitas arbitrariedades foram cometidas, diversos artistas e inclusive o escultor Auguste Rodin tentaram intervir em seu favor.
Embora Camille Claudel tivesse sido reconhecida como artista de grande talento, tendo mesmo influenciado Rodin, o reconhecimento pleno de seu valor foi póstumo. Por isso, esperava-se, no Festival de Berlim, com curiosidade qual teria sido o ângulo da vida da escultora escolhido pelo cineasta Bruno Dumont.
O título do filme tem a data de 1915, época que em Camille Claudel foi transferida para o manicômio de Montdevergues, perto de Avignon. E a surpresa revelada é decepcionante - o filme, quase sem diálogos, praticamente sem som, é, na verdade, um mergulho num asilo de loucos, com alguns deles transformados em atores. E é nesse meio delirante que se vê Camille, com a qual a atriz Juliette Binoche tem grande semelhança.
Ali Camille escreveu muitas das cartas ao irmão Paul Claudel, única pessoa da família que a visitava. E não se sabe, ao sair do filme, qual a intenção exata do cineasta Bruno Dumont - seria a de mostrar o asilo de loucos no qual a escultora Camille Claudel viveu 48 anos de sua vida ? É verdade que o realizador Bruno Nuytten já havia feito em 87, um filme sobre a Camille Claudel, vivida por Isabelle Adjani, que terminava justamente no momento em que a escultora era internada no hospício.
Rui Martins