CIDADE DO VATICANO - Em um pronunciamento em Latim, o papa Bento VXI anunciou que vai renunciar a seu pontificado no próximo dia 28. Bento XVI disse que deixa o cargo devido à idade avançada - 85 anos - e por não ter mais força para cumprir os deveres como Papa.
Por ANTONIO CARLOS LACERDA
PRAVDA.RU
"Por esta razão, e bem consciente da gravidade deste ato, eu declaro que renuncio", explicou Bento XVI, de acordo com uma declaração do Vaticano. Esta é a primeira vez que um papa renuncia em quase 600 anos. O último papa a renunciar ao pontificado foi Gregório XII, em 1415.
O pontificado de Bento 16 começou em abril de 2005, após a morte do Papa João Paulo 2º. Leia abaixo a íntegra do comunicado do Papa Bento 16:
"Queridísimos irmãos,
Convoquei-os a este Consistório, não só para as três causas de canonização, mas também para comunicar-vos uma decisão de grande importância para a vida da Igreja.
Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino. Sou muito consciente que este ministério, por sua natureza espiritual, deve ser realizado não unicamente com obras e palavras, mas também e em não menor grau sofrendo e rezando.
No entanto, no mundo de hoje, sujeito a rápidas transformações e sacudido por questões de grande relevo para a vida da fé, para conduzir a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de reconhecer minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi encomendado.
Por isso, sendo muito consciente da seriedade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao Ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, que me foi confiado por meio dos Cardeais em 19 de abril de 2005, de modo que, desde 28 de fevereiro de 2013, às 20 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro ficará vaga e deverá ser convocado, por meio de quem tem competências, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Queridísimos irmãos, lhes dou as graças de coração por todo o amor e o trabalho com que levastes junto a mim o peso de meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos.
Agora, confiamos à Igreja o cuidado de seu Sumo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e suplicamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista com sua materna bondade os Cardeais a escolherem o novo Sumo Pontífice. Quanto ao que diz respeito a mim, também no futuro, gostaria de servir de todo coração à Santa Igreja de Deus com uma vida dedicada à oração.
Vaticano, 10 de fevereiro 2013."
Perfil de Bento XVI
Bento XVI foi o 265º papa da Igreja Catolitica Apostolica Romana. Ele foi batizado com o nome de Joseph Alois Ratzinger, em 16 de Abril de 1927, em Marktl am Inn, Baviera, Alemanha. Foi eleito papa em 19 de Abril de 2005, entronizado em 24 de Abril de 2005.
Bento XVI domina fluentemente seis idiomas (alemão, italiano, francês, latim, inglês, castelhano) e possui conhecimentos de português, lê o grego antigo e o hebraico. Ele é membro de várias academias científicas da Europa como a francesa Académie des Sciences Morales et Politiques e recebeu oito doutorados honoríficos de diferentes universidades, entre elas da Universidade de Navarra, é também cidadão honorário das comunidades de Pentling, Marktl, Traunstein e Ratisbona.
É pianista e tem preferências por Mozart e Bach e é o sexto papa alemão desde Vítor II. O último papa com este nome foi Bento XV, que esteve no cargo de 1914 a 1922, e foi papa durante a Primeira Guerra Mundial.
Bento XVI é filho de um oficial da polícia rural da Baixa Baviera e adepto de uma corrente bávaro-austríaca de orientação católica. Seu pai, era de religiosidade profunda e um decidido adversário do regime nacional-socialista. Suas ideias políticas firmes chegaram a trazer sérios perigos para a própria família.
A mãe de Bento XVI, Maria, falecida em 1963, era de procedência tiroleza, do sul da Alemanha, era tida por boa cozinheira e havia trabalhado em pequenos hotéis. A família de Bento XVI não era pobre no sentido literal do termo, mas os pais tiveram de fazer muitas renúncias para que os filhos pudessem estudar.
Em 1943, com dezesseis anos, foi incorporado, pelo alistamento obrigatório, no Exército Alemão, numa divisão da Wehrmacht encarregada da bateria de defesa antiaérea da fábrica da BMW nos arredores de Munique. Mais tarde, esteve em Unterförhrin e Gilching, ao norte do lago Ammer. Foi dispensado em 10 de setembro de 1944 do serviço na bateria antiaérea de Gilching e poucos dias depois enviado a um campo de trabalho em Burgenland, na fronteira da Áustria com a Hungria e a Checoslováquia para realizar trabalhos forçados, daí é destinado ao quartel de infantaria em Traustein, de onde desertaria pouco tempo depois.
Com a rendição alemã em 8 de maio de 1945, Ratzinger foi recolhido preso no campo aliado de concentração de prisioneiros em Bad Aibling, com mais de quarenta mil prisioneiros. Foi libertado em 19 de junho, apenas dois meses depois de ter completado os dezoito anos.
Com o irmão, Georg Ratzinger, Joseph entrou num seminário católico. Em 29 de Junho de 1951, foram ambos ordenados sacerdotes pelo Cardeal Faulhaber, Arcebispo de Munique.
A partir de 1952 iniciou a sua atividade de professor na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising lecionando teologia dogmática e fundamental. Em 1953, obteve o doutoramento em teologia com a tese "Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho". Sob a orientação do professor de teologia fundamental Gottlieb Söhngen, obteve a habilitação para a docência apresentando para isto dissertação com título de "A teologia da história em São Boaventura"
Lecionou ainda em Bonn (1959 - 1963); em Münster (1963 - 1966) e em Tubinga (1966 - 1969). A partir de 1969, passou a ser catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Ratisbona, onde chegou a ser Vice-Reitor.
No Segundo Concílio do Vaticano (1962 - 1965), Ratzinger assistiu como peritus (especialista em teologia) do Cardeal Joseph Frings de Colónia. Foi também quem apresentou a proposta da realização da missa em língua local em vez do latim.
Fundou em 1972, junto com os teólogos Hans Urs von Balthasar (1905-1988) e Henri De Lubac (1896-1992), a revista Communio, para responder à crise teológica e cultural que despontou após o Segundo Concílio do Vaticano.
Ratzinger foi nomeado Arcebispo de Munique e Freising em 25 de março de 1977, pelo Papa Paulo VI, e elevado a Cardeal em 27 de junho de 1977.
Em 1981, foi apontado como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé pelo Papa João Paulo II, cargo que manteve até ao falecimento do seu predecessor. Foi designado cardeal-bispo da Sé Episcopal de Velletri-Segni em 1993, e tornou-se Decano do Colégio dos Cardeais em 2002, tornando-se o bispo titular de Ostia. Participou do Conclave de agosto de 1978 que elegeu o Papa João Paulo I e do conclave de outubro deste mesmo ano que resultou na eleição de João Paulo II.
Bento XVI era um velho amigo de João Paulo II, compartilhava das posições ortodoxas do Papa e foi um dos mais influentes integrantes da Cúria Romana. A sua posição como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que exerceu durante vinte e três anos, o colocava como um dos mais importantes defensores da ortodoxia católica.
Aos 78 anos, Joseph Ratzinger foi eleito papa pelo colégio de cardeais. O conclave findo em 19 de abril de 2005 foi um dos mais rápidos da história, tendo apenas quatro votações e duração de apenas 22 horas. No dia 24 de abril do mesmo ano tomou posse em cerimônia na Basílica de São Pedro em Roma.
A escolha do nome Bento foi uma homenagem ao último papa que adoptou o nome Bento, o italiano Giacomo della Chiesa, entre 1914 e 1922. Conhecido como o "Papa da paz", Bento XV tentou, sem sucesso, negociar a paz durante a Primeira Guerra Mundial.
Uma crítica feita pelos meios de comunicação à escolha de Joseph Ratzinger foi que o papado continua na Europa e mais uma vez a América Latina (região do mundo com mais católicos) continua sem ter tido nenhum Papa.
Em setembro de 2006, Bento XVI provocou protestos no mundo muçulmano, devido a uma citação que fez na Universidade de Ratisbona (onde lecionou antes de ser nomeado cardeal) durante visita à Alemanha, em que fez referência à posição do imperador bizantino Manuel II Paleólogo sobre Maomé.
Em agosto-setembro de 2007, em documento da Congregação para a Doutrina da Fé, reafirmou que a Igreja Católica é a "única verdadeira" e a "única que salva", o que provocou muitas críticas de igrejas protestantes.
Em 2007, um alemão conseguiu saltar sobre uma barricada na Praça de São Pedro quando o veículo do Papa estava a passar durante uma audiência geral.
Durante a missa de Natal de 2009, uma mulher, identificada como Susanna Maiolo, 28 anos ultrapassou as barreiras de segurança no início do corredor central da Basílica de São Pedro, em Roma e puxou o Papa que acabou por cair. A mesma mulher, que sofre de distúrbios mentais teria tentando o mesmo em 2008, mas foi impedida pela segurança do papa. Ela também acabou por derrubar o Cardeal Roger Echegaray, que quebrou o fêmur e foi levado ao hospital para realização de exames.
Bento XVI manteve um ritmo de viagens apostólicas surpreendente para a sua idade e, com isto, tem superado as expectativas do início de seu pontificado. Justamente por causa da sua idade e pelo seu estilo pessoal mais reservado e comedido quando comparado com seu antecessor João Paulo II os mass media consideravam que este seria um papa que ficaria mais restrito ao âmbito do Vaticano e da Cúria Romana o que acabou não se verificando.
ANTONIO CARLOS LACERDA é correspondente internacional do PRAVDA.RU.