O realizador Craig Zobel com seu filme Cumplicidade, baseado num fato real nos Estados Unidos, mostra como as pessoas, submetidas a uma pressão, são capazes de gestos e ações inesperadas e quase inexplicáveis.
A gerente de um pequeno fast-food recebe um telefonema do chefe do comissariado próximo e é informada que uma de suas empregadas roubou uma das clientes. O delegado pede para Sandra, a gerente, começar a tomar as primeiras providências, como interrogar a jovem Becky, enquanto ele providencia o envio de policiais.
Mantendo-se na linha, o delegado explica à gerente como deve fazer para o interrogatório. A empregada nega o roubo, mas aceita responder às perguntas, mesmo porque o delegado deixa claro ter autoridade sobre ela e sobre Sandra.
A situação vai pouco a pouco se tornando cada vez mais grave e patética, mesmo se não chegam os policiais, como despir a jovem para ver se ela não esconde o dinheiro no corpo, dar palmadas na bunda de castigo e o noivo de Sandra acaba tendo um relação sexual com a jovem, na sequências das exigências do delegado.
Craig conta ter havido nos EUA 70 casos parecidos de uma suposta autoridade telefonar para uma rede de fast-food, sob pretextos diversos e assim provocar arbitrariedades e humilhações nos empregados.
Na verdade não passa de um trote levado às extremas consequências, que levanta a questão de até onde as pessoas são capazes de ir mesmo em termos de tortura, a pretexto de obedecerem ordens. E por que a vítima submetida a diversos tipos de violência, como ser despida, espancada e mesmo violada, não se revolta ?
Seria possível, na Europa, um trote por telefone degenerar ao extremo como no filme ? Na França, um programa na rádio Europa1 consiste jjustamente em aplicar trotes com a diferença de que tratam de questões sem grande importância e que a cômica, Anna Romanof, se identifica ao final.
Rui Martins