A delinquência fardada

A apologia do crime é crime. Isto é bem sabido, mas há apologistas do crime que ficam impunes. Os regimes de terrorismo de Estado na América Latina cometeram as atrocidades que até o dia de hoje estão impunes, sob a mentida alegação do combate ao comunismo.

Ninguém lhes pagou para isto. Não, ao menos, a cidadania que com os seus impostos paga os seus salários. No entanto, essa mesma cidadania que pagava e paga os salários dos delinquentes fardados, foi vítima da tortura, do sequestro, da desaparição de pessoas, e do assassinato. Tudo isto, ainda impune.

As escassas punições que estão sendo cumpridas por genocidas na Argentina, estão muito longe de representarem um verdadeiro ato de justiça.

Muitos dos assassinos cumprem prisão domiciliar, o que é um acinte. Outros, como o general Videla, ainda dizem que fariam tudo de novo. Isto é apologia do crime, e isto está impune. Está impune porque o aparato judiciário é cúmplice, e há muita imprensa e opinião pública que defendem o genocídio repetindo as alegações dos delinquentes fardados. Vieram salvar o país do comunismo.

No Brasil, no Chile, no Uruguay, a mesma ladainha. É muito louvável que a cidadania se mobilize pelo julgamento e punição dos culpados, mas é necessário ir além. Há que se extirpar a possibilidade de que crimes contra a humanidade como estes se repitam. E para isto, há que se punir a apologia do crime. No Brasil, na Argentina, onde for.

O genocídio na Argentina vitimou mais de 30.000 pessoas. A maior parte delas, cidadãos e cidadãs comuns, sem qualquer militância política ou engajamento ideológico, que apareciam como mortas por engano. Não houve engano. A delinquência militar tinha como objetivo aterrorizar o conjunto da população. Não apenas eliminar as lideranças sociais e sindicais. Mas eliminar a possibilidade de resistência ao capitalismo selvagem, ao neoliberalismo que começava a ser implantado por via militar. As mentiras da delinquência fardada ganharam apoio no analfabetismo político e na imprensa marrom, que repete as mentiras do combate ao comunismo. É necessário que a cidadania permaneça alerta, e combata a apologia do crime em qualquer uma das suas manifestações.

Rolando Lazarte

Por Revista Consciência.Net


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Timothy Bancroft-Hinchey