Não há dúvida de que o presidente Barack Obama dos EUA disse muito, ao deixar passar uma semana, até a última 6ª-feira, último dia de trabalho da semana, para só então telefonar a Vladimir Putin, presidente eleito da Rússia, e apresentar suas congratulações pela vitória nas eleições de 4/3. Em resumo, Obama deixou bem claro que não tinha pressa, e, portanto, pouco interesse, naquela eleição; e fez questão de que Moscou entendesse o recado.
Os colegas ocidentais de Obama já haviam telefonado há muito tempo. Claro, o Departamento de Estado pronunciou-se imediatamente depois das eleições do dia 4. Curiosamente, o Departamento de Estado deu parabéns ao povo russo. O nome de Putin não é sequer mencionado na declaração. Washington deixou implícito que os interesses dos EUA orientarão sua política para a Rússia; que os homens não fazem diferença. Em seguida, o Departamento de Estado pôs a exigir investigações sobre irregularidades nas eleições - apesar de o resultado haver apontado "um vencedor claro, com maioria absoluta de votos". Em resumo, Washington continua a dar 'sermões' sobre o lento avanço, na Rússia, da democracia liberal à moda ocidental.
Washington estava atenta à reação pública na Rússia. Afinal, deve ter-se convencido de que não haveria mesmo uma 'revolução colorida' por lá. Até a mídia ocidental, que mostra atitude démodée, arcaica, de hostilidade à moda Guerra Fria, contra Putin, já admitiu, a contra gosto, que as manifestações anti-Putin estão cada dia mais esvaziadas.
Assim, sendo, como se pode deduzir, Obama resolveu que teria de voltar ao batente. A manifestação da Casa Branca foi gélida, sem nem vestígio do calor que sempre se vê nessas ocasiões consideradas festivas, como eleições, no mundo da democracia. (Até o primeiro-ministro David Cameron, da Grã-Bretanha, foi mais pessoal e caloroso, apesar de as relações GB-Rússia atingirem temperaturas abaixo de zero.)
A referência à "futura cooperação" à luz da admissão da Rússia como membro da Organização Mundial do Comércio[1] é interessante. Terá Obama prometido, pela enésima vez, que trabalhará para o cancelamento da emenda Jackson-Vanik de 1974 ao embargo comercial[2]? Agora, com a Rússia admitida como membro da OMC, aquela emenda é ainda mais insustentável.
Mais uma vez, as diferenças entre EUA e Rússia, sobre a Síria e sobre o escudo de mísseis de defesa vieram à tona. E há clara referência a "obstáculo a melhores relações". Mas o Irã e o Afeganistão foram listados como áreas de cooperação. Hmm. Pelo visto, o 'reset' é bem seletivo.
Putin visitará os EUA por ocasião do encontro do G-8, em maio, em Camp David. E a Rússia também foi convidada para a cúpula da OTAN em Chicago, em maio. Moscou respondeu que a decisão de ir ou não ir dependerá de avanços na discussão do escudo de mísseis. Mas a 'declaração' oficial não fala do encontro da OTAN.
Apesar de Obama ter demorado tanto a saudar a eleição de Putin, os EUA serão um dos primeiros países que Putin visitará nas viagens ao exterior que fará depois de voltar ao Kremlin. Mas, será seu primeiro pouso? Meu palpite é que Putin dará seu recado, ele também, ao visitar algumas das ex-repúblicas soviéticas, antes de rumar para Camp David.
Para não deixar dúvidas: Obama deixou bem claro que a Rússia não é prioridade da política externa dos EUA. Moscou entendeu. Foi telefonema que vários outros também aguardavam. Gente, por exemplo, em Pequim, Teerã, Damasco e Islamabad.
http://www.iranews.com.br/noticias.php?codnoticia=7706
11/3/2012, MK Bhadrakumar, Indian Punchline
http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2012/03/11/obama-belatedly-felicitates-putin/