Pseudociências com propaganda real

Adilson Roberto Gonçalves

O mais recente livro de Natália Pasternak e Carlos Orsi sobre as pseudociências é, no mínimo, corajoso (“Que bobagem!”). Li um artigo de Hélio Schwartsman sobre a obra, com um misto de resenha positiva e crítica negativa. Isso é importante para a discussão, pois ciência não é absoluta, uma vez que é feita por cientistas. Precisa ficar claro que muitas das chamadas práticas “médicas” alternativas funcionam para indivíduos específicos devido ao efeito placebo, apenas isso. São todas pseudociências. O negacionismo segue forte no país e precisamos ficar sempre atentos para que não leve a mais mortes, como a causada pelo movimento anti-vacina.

A discussão

O peso da discussão é tão grande que levou o colunista a publicar outro texto logo após a resenha especialmente dedicado à obra de Sigmund Freud, uma vez que a psicanálise foi colocada no mesmo patamar de outras pseudociêrncias, como a homeopatia. Não tenho formação específica para tal entendimento, mas aqui considero apenas duas questões: a) a parte literária dos escritos de Freud, muito bons e detalhados; e b) os mistérios da mente ainda levam a muito charlatanismo, não somente à época do pai da psicanálise. É certo que há mecanismos de cura cerebral que são disparados por gatilhos ainda não identificados. A medicina séria se debruça constantemente sobre isso por meio da neurociência.

Mas a propaganda que se faz de curas milagrosas é muito intensa. A revista CartaCapital fez uma edição especial sobre o assunto, esclarecendo o engodo farmacêutico a que estamos submetidos. A propaganda desse curandeirismo herbáceo (a ora-pro-nóbis é um deles) invadiu também os canais de tv por assinatura há muito tempo, junto com as de sites de apostas esportivas. Mas até médicos renovados têm receitado colágeno em cápsulas, sem questionar como a proteína se manterá intacta no estômago para ser absorvida na corrente sanguínea e ser depositada nas articulações!

 

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia Campineira de Letras e Artes, da Academia de Letras de Lorena, do Instituto de Estudos Valeparaibanos e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.