Jolivaldo Freitas
Semana passada estive – claro que todo trajado de máscaras e todo desconfiado – participando de um almoço de confraternização, e até falei desse caso em meu comentário da rádio Metrópole onde atuo desde sempre. Seguia tudo bem, o povo conversando. Alegria, bebidinha, petiscos e perspectiva de boa cozinha, ia tudo bem, até que alguém lá no fundo da sala tossiu brabo e uma amiga dotada de extremo cinismo e humor me perguntou:
Quase cuspo na pessoa à frente. Deu tempo colocar o lenço na frente e nem sujei a máscara, mas foi difícil. E daí, parecendo que se abriu uma comporta, começa boa parte a tossir e pigarrear. Já fui me achando contaminado e ainda mais que me disseram que essa tal de gripe de agora sequer respeita quem já se vacinou. E paguei caro pela vacina no laboratório particular, justamente para não ter de ficar na fila no posto de saúde recebendo perdigotos por todas as bandas.
Mas brincadeiras à parte está complicado passar incólume nesses tempos na Bahia., no Brasil e mundo afora. Quando não é o coice é a queda. Nem nos livramos da Covid e vem a gripe e na Bahia já são registradas mortes, embora os infectologistas digam que os sintomas são brabos, mas nem é uma gripe tão letal assim.
Certo é que o gripário dos Barris e do Pau Miúdo está cheio de gente passando mal e na dúvida de qual doença está sofrendo. A gripe sempre foi uma tragédia em nossa história. Exemplo foi a H2N2 ou gripe russa que chegou por aqui em 1890 e foi criando problemas com hospitais cheios. O então Hospital de Isolamento no alto do Mont Serrat, que ficou conhecido como Couto Maia, não dava conta. No Rio de Janeiro quase ela manda Dom Pedro II dessa pra melhor. Matou quase 2 milhões de pessoas no planeta.
Depois enfrentamos a Gripe espanhola, que dizem matou mais de 100 milhões e que fez o baiano no início do século passado ter de apelar de novo para as forças de São Francisco Xavier, protetor local, pois a pessoa acordava bem e morria à noite.
Em 1957 foi o pânico causado pela Gripe Asiática que saiu de com força da Ásia, Oceania, África e América do Norte e chegou tocando terror. 2 milhões de mortos. A Gripe de Hong Kong matou 3 milhões de pessoas pelo mundo em 1968 e era transmitida por aves criadas soltas. Chegou trazida por voos internacionais. Turistas americanos contaminaram até os índios do Xingu
A gripe aviária ou H5N1 saiu da Ásia, passou pela Europa e África e chegou ao Brasil em 1997 e foi controlada. Sobrou para as aves. Milhares foram sacrificadas, inclusive em criatórios da Região Metropolitana de Salvador. E assim as gripes vêm e voltam como essa agora que está colocando até valente para se acabrunhar.
A senhora soube da ousada estratégia de marketing aplicada pelo vendedor de picolé que pegou seu isopor e foi vender bem no gripário dos Barris? Não adiantou uns torcerem a cara. Ele disse que vendeu quase tudo. Só na Bahia.
Com relação ao almoço de confraternização saí de mansinho e tendo a certeza de estar já sentindo dores, febres, coriza. Estou esperando até hoje a gripe chegar. Não posso ouvir uma infectologista na TV que paro e dou a maior audiência.
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Escritor e jornalista