Internet vicia crianças e adolescentes, diz pesquisa
Pesquisa mostra que no Brasil o vício na web pode ter efeito acumulativo na visão e saúde de 25% das crianças e adolescentes. Entenda.
A população brasileira está entre as mais conectadas do mundo. Como se não bastasse, o novo coronavírus nos isolou em casa. Pior: O Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) ligado ao CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) acaba de divulgar a pesquisa, TIC Kids Online que desde 2012 atualiza anualmente os indicadores sobre o uso da rede pela população com idade entre 9 e 17 anos, visando estabelecer políticas públicas de inclusão digital no País.
O último levantamento mostra que nesta faixa etária 86% teve acesso à Internet entre outubro de 2019 e março deste ano, contra 83% 2018. A maioria, 94%, têm conexão em casa. Só 1,4 milhão nunca teve acesso e 3 milhões não são usuários.
A conectividade varia de acordo com a região. No centro-oeste é de 98%, no sudeste de 96%, no sul de 95% e 79% nas regiões norte e nordeste. De todos os dispositivos o celular é o único meio de conexão usado por 58% das crianças e adolescentes. Outros 37% combinam o celular e o computador e 2% fazem conexão só pelo computador.
Olho seco
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier a análise comportamental da pesquisa revela que o aumento da conectividade seria uma boa notícia se a vida digital não apresentasse múltiplos desafios para a saúde sistêmica e visual. Isso porque, o levantamento realizada com 2.954 participantes e seus respectivos pais ou responsáveis, mostra que entre 11 e 17 anos, 1 em cada quatro são viciados na internet. Por isso, não consegue controlar o tempo de navegação, o caminho mais curto para desenvolver olho seco independente da idade. Os sintomas elencados pelo médico são: vermelhidão, visão embaçada, sensação de areia nos olhos e dor de cabeça no final do dia. Isso acontece porque piscamos menos na frente das telas e a lubrificação dos olhos diminui. O tratamento, explica, pode ser feito com colírio lubrificante ou três aplicações de luz pulsada para estimular a produção da lágrima, conforme o estágio da doença.
Falta de sono
Outros 20% declararam deixam de dormir para navegar. "A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza que a falta de sono aumenta a obesidade, o risco de alterações emocionais, o stress oxidativo e a resistência à insulina que leva ao diabetes. "Não são problemas de saúde que surgem imediatamente. O efeito da falta de sono é cumulativo e por isso, nem sempre é levado a sério, da mesma forma que a falta de proteção contra a radiação UV (ultravioleta) emitida pelo sol', afirma.
Uma dica do oftalmologista para evitar a insônia é desligar o celular ou computador, no mínimo, uma hora antes de ir dormir. Isso porque, as telas emitem luz azul que inibe a produção da melatonina, hormônio indutor do sono. Outra é verificar se o celular tem filtro de luz azul embutido ou baixar o aplicativo F Lux disponível gratuitamente na internet.
Depressão e ansiedade
A pesquisa também aponta que 21%, se sente mal quando não está na Internet ou se pega navegando sem o menor interesse e 24% acredita que passa menos tempo do que devia com os familiares, amigos ou estudando, claros sinais de ansiedade e depressão. "São alterações que precisam ser tratadas com um especialista em doenças psíquicas", afirma. Vale lembrar, comenta, que o tratamento com medicamentos antidepressivos deve ser acompanhado também por um oftalmologista. Isso porque, nossos olhos têm receptores de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) contidos nos antidepressivos e ficam 15% mais propensos a desenvolvera catarata que têm como único tratamento a cirurgia, conclui.
Eutrópia Turazzi
LDC Comunicação