A carência de um "sensor" envolvido na regulação do tubo digestivo agrava a inflamação gastrointestinal nos idosos, revela um estudo realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC), abrindo portas para o desenvolvimento de novas estratégias preventivas e terapêuticas para uma das inflamações mais comuns na terceira idade.
Enquanto no intestino dos jovens e adultos, «perante uma situação de infeção gastrointestinal, este "sensor" (recetor de adenosina A2A) responde com o aumento de sinalização, permitindo controlar o dano provocado pelo agente da infeção, nos intestinos dos idosos tal não acontece», explica a coordenadora da investigação, Teresa Gonçalves.
O estudo, desenvolvido ao longo dos últimos dois anos, com a colaboração de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e da Universidade Federal do Ceará (Brasil), mostrou que, nos idosos, a presença de A2A é muito reduzida e por isso o sistema de sinalização não funciona.
«Este sistema de sinalização é importante no controlo da infeção gastrointestinal e a sua perda de eficiência é um fator que contribui para a menor capacidade de lidar com infeções gastrointestinais no idoso, em particular infeções oportunistas», esclarece a docente da Faculdade de Medicina da UC e investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC).
Por outro lado, nota Teresa Gonçalves, o A2A participa também «no controlo do nível de acidez do estômago e a sua deterioração com a idade irá refletir-se na disfunção do estômago, contribuindo igualmente para o aumento do perigo de alguns microrganismos».
Assim, salienta, «os resultados deste estudo poderão ser um contributo para minorar a incidência de infeções oportunistas e processos inflamatórios que aumentam a partir dos 65 anos».
O estudo, publicado na revista científica Oncotarget, foi realizado em modelos animais (ratinhos) de três faixas etárias (jovens, adultos e idosos). A equipa provocou uma infeção controlada do trato gastrointestinal, introduzindo o fungo Candida albicans, para posteriormente se proceder à análise dos tecidos, avaliando a infeção e a reatividade inflamatória.
Esta investigação foi financiada pelo programa NARSAD dos Estados Unidos da América e pelo FEDER, QREN - Programa Operacional Regional do Centro 2007-2013, com o apoio do Mais Centro e da União Europeia e Programa Operacional Fatores de Competitividade via Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
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Coimbra, 10 de outubro de 2016