Óculos desatualizados para hipermetropia, astigmatismo e presbiopia são sinalizados pelo aumento da fadiga digital. Especialista ensina como proteger os olhos.
A mais nova febre no país, o Pokémon Go, está fazendo muitas pessoas perceberem que não enxergam bem de perto. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier, isso acontece porque a maior exigência da visão próxima está causando nestas pessoas dor de cabeça, ressecamento dos olhos e visão embaçada. O médico diz que fazem parte deste grupo pais com início de presbiopia, quem é portador de hipermetropia (dificuldade de enxergar de perto) ou astigmatismo (visão desfocada para perto e longe).
A presbiopia, explica, resulta da perda da flexibilidade do cristalino a partir dos 40 anos e dificulta a focalização de imagens próximas mesmo entre pessoas que nunca precisaram usar óculos. Por isso, comenta, a estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), é de que o Brasil tenha 20 milhões de présbitas sem correção visual adequada. Estes pais formam o principal grupo que está sofrendo com os filhos nos espaços públicos para caçar os monstrinhos do Pokémon. Para Queiroz Neto o aplicativo pode melhorar a correção visual no país. Isso porque, exige mais da visão e atualmente a maioria dos adultos só passa por consulta oftalmológica quando vai renovar a carteira de habilitação. Isso explica porque o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indica que metade dos tem algum problema de visão continua não enxergando bem, mesmo usando óculos de grau. Na infância, um levantamento feito no hospital com 36 mil crianças mostra que 70% nunca foi ao oftalmologista.
Compulsão causa fadiga digital
Autor de três estudos sobre a influência da vida digital na saúde ocular, o especialista estima que uma partida do jogo dure em média 30 minutos. O tempo, comenta, é insuficiente para causar fadiga digital ou CVS (síndrome da visão no computador). O problema é que a falta de correção visual somada ao fato de muitos pais jogarem compulsivamente com os filhos e ambos continuarem navegando separadamente depois do jogo, facilita o aparecimento do cansaço visual. Uma criança, destaca, pode usar o computador ininterruptamente por duas horas e o adulto por 3 horas sem sentir qualquer desconforto quando enxergam bem. Acima disso, surge a dor de cabeça, ressecamento dos olhos e visão embaçada. A CVS é um problema sério de saúde publica, ressalta, porque atinge 75% dos brasileiros, reduz a produtividade e compromete o aprendizado das crianças.
Miopia
Outro problema do excesso de atividade digital é a perda do foco para longe entre crianças. Um estudo conduzido pelo médico com 360 crianças com idade de 6 a 12 anos mostra que passar até seis horas com os olhos colados na tela do computador fez com que 21% dos participantes apresentassem dificuldade de enxergar de longe, contra 12% de incidência da miopia apontada pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia). Queiroz Neto afirma que se trata de uma miopia acomodativa que pode ser revertida com mudança de hábitos. Para ele, o Pokémon pode melhorar o controle da progressão da miopia entre crianças, porque os pais estão saindo para os espaços públicos com as crianças e isso facilita o incentivo de outras atividades ao ar livre, indicada por um estudo da Academia Americana de Oftalmologia para frear a miopia infantil.
Prevenção
As principais dicas do oftalmologista para prevenir a fadiga digital durante uma partida de Pokémon são:
1) Piscar voluntariamente repetidas vezes. Isso porque, normalmente piscamos 20 vezes por minuto e na frente de uma tela de 6 a 7 vezes.
2) Manter o celular a uma distância de 30 cm do olho.
3) Crianças devem pausar 30 minutos a cada duas partidas e adultos 5 minutos.
4) Olhar para o horizonte para relaxar a musculatura dos olhos e moldar o foco para perto e longe.
5) Dar preferência a partidas antes do anoitecer. Isso porque, o celular emite luz azul que inibe a produção da melatonina, hormônio responsável pela indução ao sono.
6) Usar óculos que filtrem 100% da radiação UV (ultravioleta) emitida pelo sol e a luz azul do sol e do celular. A longo prazo estes dois comprimentos de onda aumentam o risco de contrair catarata e degeneração da mácula, parte central da retina responsável pela visão de detalhes.
7) Manter acionado o recurso de diminuir a emissão de luz azul pelo celular caso o aparelho permita.
Eutrópia Turazzi
LDC Comunicação