As ruas dizem que falta política com P maiúsculo

Analistas reconhecidos como notáveis, e políticos, diante dos protestos que cobrem as ruas brasileiras, confessam se dizem perplexos com o que está acontecendo e procuram dizer que os protestos são legítimos.


Silvio Persivo

Não é lá um primor de ilação, mas, mostra o quão distante se encontram da realidade brasileira. Mas, os cartazes que os populares postavam demonstram o que os políticos não desejam ver: deixaram de representar a imensa maioria das necessidades do país. Tanto fizeram para se manter no poder, sem estruturar seus partidos, enroscados em gabinetes, cercados de seguranças e somente fazendo acordos para se manter que se deslocaram completamente da política que é arte de cuidar dos interesses públicos.


São sintomáticos os cartazes que o povo carregava pelas ruas. Eis alguns exemplos: "O povo unido protesta sem partido"; "O povo acordou, o povo decidiu: parem a roubalheira ou paramos o Brasil"; "A, e, i, a Dilma vai cair"; "Era uma casa muito engraçada, não tinha escola, só tinha estádio"; "Isso aqui não é Turquia nem Grécia é o Brasil saindo da inércia"; "Brasil vamos acordar, o professor vale mais que o Neymar"; "Da Copa abrimos mão, queremos é dinheiro para a saúde e educação"; "Quando seu filho ficar doente, leve-o a um estádio"; "Não é Dilma, não é Lula, são todos os políticos" e, o primor dos primores, "Nenhum partido nos representa".


Esta é a grande realidade da atual política brasileira. De tanto protelar as demandas públicas para apenas se manter no poder, de conchavos em conchavos, de acordos espúrios em acordos espúrios, os políticos, invés de fazer o que se espera da verdadeira Política, com p maiúsculo mesmo, que diz respeito à arte de governar, ao uso do poder para organizar a sociedade, nas suas diversas instâncias evitando a desordem e organizando a convivência dos diferentes, resolvendo os problemas comuns, se organizaram apenas para usufruir de seus mandatos. Não é, como pensam os anões da política, com p minúsculo, para ser lembrada em períodos de eleições, onde somos obrigados por lei a votar, mas, nós, que somos seres sociais, que só desejamos viver bem, ficamos à margem das decisões e, mesmo quando não concordamos, somos obrigados a nos comportar pelas decisões e ideias dos que participam e fazem esta política porca, menor que está aí e nos inibe de nos realizarmos, por não cuidar do que é essencial para a população. A política de hoje é uma política de pigmeus mentais, que não precisa de elite, pois, abomina os que pensam e dizem que, certas coisas não se pode fazer, que o poder exige ritos e comportamentos.


Nós, cidadãos, a sociedade toda é obrigada a obedecer ao estado, mas, para que esta obediência seja justa e legítima, as pessoas precisam ter o direito de escolher os que julgam ser mais preparados para nos representar, governar e para fazer boas leis. Estas condições, por uma série de razões, não existem. E, quando a sociedade julga que seus governantes não estão administrando bem o estado, ela tem o direito e o dever de reclamar, e esta reclamação também é política. Apenas, quando não se tem, como é o caso atual, instituições que possam representar suas aspirações, se torna, como no presente caso, uma ótima oportunidade para a irracionalidade e para o vandalismo pela forma difusa como se manifesta, embora, é claro, existam grupos que tentam se aproveitar e manipulá-la para seu proveito. O problema de momentos assim é que, de repente, podemos voltar aos tempos em que somente a força bruta poderá restaurar a ordem, mas, empurrando os problemas com a barriga, como nossos políticos tem feito, o impressionante é que, só agora, a gota d'água tenha feito à insatisfação explodir.


Agora é tentar buscar uma saída antes que algum aventureiro lance mão de algum esquema janista ou collorido de salvacionismo. Derrubar instituições, criticar os antecessores e o passado é fácil. Difícil é construir uma sociedade justa, responsável e com instituições sólidas. Que o recado nos possa ser útil para retomarmos o caminho da verdadeira política.


*Silvio Rodrigues Persivo Cunha, é doutor em desenvolvimento sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA da Universidade Federal do Pará e professor de Economia Internacional da UNIR - Fundação Universidade Federal de Rondônia.


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Timothy Bancroft-Hinchey