O principal dogma da ciência econômica continua sendo a estapafúrdia ideia de fazer a economia crescer continuamente para "ofertar" a todos uma vida boa. A intenção em si é benevolente, contudo, isso não é factível.
Marcus Eduardo de Oliveira (*)
Enquanto a ciência econômica continuar estabelecendo a produção econômica como o mais ilustrativo paradigma de prosperidade, convertendo isso em regra de comportamento, estaremos fadados a conviver com um meio ambiente cada vez mais degradado. Definitivamente, a expansão econômica (mais crescimento) é algo potencialmente agressivo ao ecossistema. Lamentavelmente, o arcabouço neoclássico ainda não se deu conta - ou finge não entender - que sem a natureza nada pode ser produzido de forma sólida. A escola neoclássica parece não considerar o fato de que a atividade econômica se desenrola dentro da chamada ecosfera dividida em quatro camadas (atmosfera, biosfera, hidrosfera e litosfera), e que essa não pode ser exposta à constante agressão.
Nesse sentido, não se pode perder de vista que a economia nada mais é que um apêndice da biosfera que consome energia. A economia encontra-se subordinada à ecologia que, por sua vez, é subordinada à biologia e à termodinâmica (calor, energia, potência), sendo essa última subordinada à física.
Assim, qualquer tentativa de crescimento econômico passa, indubitavelmente, por esses meandros. Apenas pelo fato da atividade econômica consumir energia já se vincula isso à uma dependência explícita às leis da física.
Contextualizando esse ponto. Energia é um conceito básico da física que obedece a duas leis fundamentais da termodinâmica. A primeira é a lei da conservação, cujo pressuposto básico diz que a energia não pode ser criada nem destruída, apenas pode ser transformada. A segunda é a lei da entropia que diz que a energia sempre se dispersa, passando de um estado de maior concentração para um de menor concentração.
Esse segundo princípio termodinâmico é, por si só, um balizador da expansão da atividade econômica, uma vez que a economia não pode contrariar a lei da entropia, ou seja, em outras palavras, não se pode usar a mesma energia, queimar o mesmo carvão ad infinitum.
Por isso é pertinente à afirmativa de que a economia está vinculada à ecologia e à termodinâmica. Sendo um sistema aberto - embutido - ao sistema ecológico, a economia passa a ser regida pelas leis da termodinâmica. O problema maior é que, além de não reconhecer essa "dependência", o ensinamento neoclássico - que forma a base, em geral, do raciocínio dos economistas - trata com menosprezo os limites da natureza, pondo o conjunto das bases naturais em delicada situação. A atmosfera, por exemplo, pela elevação da temperatura produzida especialmente pela expansão da atividade econômica é uma das primeiras a sofrer as consequências.
Tornando essa passagem mais didática, é oportuno apontar que a atmosfera é uma mistura de muitos gases. Dois gases acabam "formando" 99% da massa atmosférica: o nitrogênio (com mais de 78%) e o oxigênio (com 20,95%). Sobra 1% para outros componentes menores (neônio, metano, hidrogênio, dióxido de carbono, ozônio e outros). O que acontece é que a temperatura da atmosfera é controlada pelo teor de alguns destes componentes menores, principalmente pelo gás carbônico.
É importante salientar que se apenas existissem nitrogênio e oxigênio, a temperatura da atmosfera seria muito baixa e a maior parte dos mares viraria gelo, dificultando o desenvolvimento das espécies. Acontece que o gás carbônico e o metano (em menor proporção) são os gases que retém o calor do sol e evitam esse congelamento dos mares. Conquanto, se o teor desses gases subir muito (acima de 1%) a temperatura na Terra ficará insuportavelmente alta. A questão temerária é que a atividade econômica na sanha em estimular o crescimento físico da economia tem provocado substancialmente o aumento desse teor, promovendo o aquecimento do clima. É a esse fato que se dá o nome de Efeito Estufa. Cada vez que se queima petróleo, carvão mineral e florestas (desmatamento) aliado à ação das indústrias que poluem o ar são introduzidos bilhões de toneladas por ano de gás carbônico na atmosfera, sendo que 85% são originados dos combustíveis fósseis.
Com isso, estimular o crescimento econômico só faz aumentar a pressão sobre os serviços prestados pela natureza. Crescimento é expansão, e o mundo ecológico não suporta mais um tipo de expansão exageradamente agressivo à escala de valores da natureza, em especial da biodiversidade.
Voltando ao início, enquanto o paradigma maior da ciência econômica girar em torno da busca pelo crescimento o limite biofísico será constantemente ferido. Mudar esse princípio é o principal desafio dos próximos tempos. Para tanto, faz-se necessário estabelecer uma economia que opere em sintonia com os princípios da natureza reconhecendo, de antemão, a dependência do sistema econômico em relação à ecologia e à termodinâmica.
(*) Professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO (São Paulo).
Articulista da ADITAL. Mestre em Integração da América Latina (USP).
prof.marcuseduardo@bol.com.br