Nova lente de contato restaura a visão

Lente de material biodegradável abriga células-tronco retiradas do olho saudável do paciente para curar lesões na córnea.

Recente pesquisa publicada na revista britânica, Acta Biomaterialia, aponta uma lente de contato como a mais nova promessa para tratar lesões na córnea, membrana externa do olho.

 De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, a nova técnica pode eliminar uma causa frequente de deficiência visual e cegueira no mundo .

Desenvolvida em material biodegradável por pesquisadores ingleses da Universidade de Sheffield, a lente tem como proposta permitir que células-tronco retiradas do olho saudável do paciente sejam implantadas na córnea ferida.

Para Queiroz Neto, precursor em Campinas do implante de célula-tronco retirada de membrana amniótica, procedimento utilizado na restauração da córnea e pálpebra, as técnicas são similares, mas podem ter melhores resultados com o novo tratamento.

Isso porque, segundo a pesquisadora da Sheffield, Ilida Ortega Asencio, a lente biodegradável tem o centro mais fino para que se degrade rapidamente.  É fixada    à córnea por um anel que circunda sua borda e possui bolsas onde as células-tronco ficam armazenadas e protegidas. Essas bolsas funcionam como reservas de células-tronco que são mantidas na córnea.

Já no procedimento feito com membrana amniótica, Queiroz Neto explica que as células são adultas. Por isso, se transformam em vários tecidos, mas não nos 216 tecidos do corpo humano.  Em lesões mais profundas, ele diz que ocorrem danos no limbo, região ao redor da córnea. Como a membrana amniótica não se transforma neste tipo de célula, é necessário que sejam  retiradas do olho sadio para serem enxertadas na córnea ferida, além de ser feito o implante da membrana que tem a função de dar suporte à germinação de tecido sadio.

O problema é que ao contrário da lente biodegradável que tem reserva de células-tronco, nesta técnica o tratamento pode falhar depois de alguns anos porque os olhos não mantêm as células-tronco. Resultado: Com o tempo pode crescer um tecido cicatricial que leva à perda da acuidade visual. "Isso explica porque 3 em cada 10 pacientes que passam pelo o implante de célula-tronco retirada da membrana amniótica não mantêm a boa visão", afirma o especialista.

Segundo Queiroz Neto, no Brasil os acidentes de trabalho são uma das principais causas de cegueira por lesão na córnea. Em 90% dos casos poderiam ser evitados com óculos de proteção, tecnicamente conhecidos como EPI (Equipamento de Proteção Individual). Outras causas são doenças como Stevens Johnson, ceratocone, cicatrizes por inflamações e infecções muitas vezes decorrentes do mau uso de lente de contato, ou defeito hereditário. Geralmente o tratamento é feito com transplante de córnea, mas nem todos os procedimentos são bem sucedidos. Ainda não há uma data para a nova lente chegar ao Brasil. Embora não seja indicada no tratamento de ceratocone, para o médico pode significar uma solução promissora para os outros problemas por não apresentar  risco de rejeição.

 

Eutrópia Turazzi

LDC Comunicação

 


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Timothy Bancroft-Hinchey