Um Acto Vergonhoso: Profanaram e Removeram a Estátua do Marechal Konev!
Em breve, só haverá silêncio. A libertação de Praga, bem como a libertação de Auschwitz e Varsóvia pelo Exército Vermelho serão esquecidas. Pelo menos na Europa, até mesmo na Europa de Leste, onde ocorreram.
Andre Vltchek
É para aqui que nos dirigimos. Talvez, um dia, os governos do Leste europeu emitam novas ordens para profanar também os cemitérios e as valas comuns, todos os locais onde repousem os soldados soviéticos que, há uns 75 anos, fizeram o derradeiro sacrifício. Estas sepulturas em tempos albergaram centenas de milhar de miúdos e jovens soviéticos, que contra todas as probabilidades e com uma inimaginável coragem empurraram as hordas nazis para fora das devastadas cidades e vilas soviéticas, através de campos e florestas queimadas, primeiro em direcção a Varsóvia e a Praga, Budapeste e Sofia, e depois, finalmente, até ao centro de Berlim.
Cerca de 25 milhões de soviéticos perderam as suas vidas, combatendo a jóia da coroa do expansionismo e da barbárie ocidentais - a Alemanha nazi. O imenso, jovem país socialista ergueu-se e quase por si só resgatou o mundo; assegurando a sobrevivência da nossa raça humana.
Um dos seus maiores líderes militares, na realidade um génio militar e um herói genuíno, o marechal Ivan Konev, comandou a 1ª Frente Ucraniana, a que libertou tanto o campo de concentração de Auschwitz na Polónia como, mais tarde, Praga.
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Com o intuito de agradar aos seus mestres da NATO, bem como aqueles em Washington, os mesquinhos políticos de Praga removeram sem qualquer cerimónia a estátua do seu libertador, insultando-o no decorrer do processo com uma repulsiva graçola sobre o COVID-19.
Como reportou a RT a 3 de Abril de 2020:
"Um monumento ao marechal soviético Ivan Konev, que comandou as forças que libertaram Praga dos nazis em 1945, foi removido e gozado por 'não estar de máscara' por parte de um membro do governo local, o que a Rússia condenou como se tratando de um insulto..."
O famoso humor negro checo? Não, não se trata do soldado Svejk. É um sarcasmo sombrio, indesculpável, repleto de zelo colaboracionista. No Ocidente, há toda uma era de insulto a tudo o que seja soviético e russo. E alguns checos, bem como alguns polacos, estão desesperadamente a tentar ser aceites como membros do clube de elite dos países que têm vindo, há séculos, a pilhar o mundo.
O relato da RT continuava:
"'Ele não estava a utilizar máscara. Essas regras aplicam-se a toda a gente. Só se pode estar no exterior se tivermos a boca e o nariz cobertos', gracejou no Facebook o presidente da câmara do distrito, Ondrej Kolar, causando uma multitude de reacções iradas.
Alguns comentadores sugeriram que Kolar tinha 'o cérebro afectado pelo coronavírus' e recordaram-lhe que nunca teria nascido, nem sequer chegado a presidente da câmara, se as tropas de Konev não tivessem libertado a cidade dos nazis. Na realidade o monumento antecedeu Kolar, nascido em 1984, em quatro anos."
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Nem tudo se perdeu. A República Checa é uma nação complexa. Pode estar cheia de neoliberais, bem como de colaboracionistas de Washington, mas ao contrário da Polónia é também conhecida pela sua população extremamente bem formada.
O seu Partido Comunista da Boémia e da Moravia fica consistentemente em terceiro lugar nas eleições do país. Os checos nunca aderiram à Zona Euro, mantendo a sua moeda estável - a coroa (koruna). Durante a guerra na Síria, a República Checa foi o único país da UE a manter aberta e activa a sua embaixada em Damasco. É também um facto bem conhecido que vários políticos checos de topo insistem em manter boas relações com Moscovo, apesar da República Checa ser tão membro da NATO como da União Europeia.
Um amigo meu, também filósofo e artista checo, Milan Kohout, concordou em enviar-me o seu comentário quanto a este relato:
"Retirar o monumento do marechal soviético Ivan Konev, que comandou as forças que libertaram Praga dos nazis em 1945, é o pico final do processo de lavagem cerebral das gerações mais jovens de cidadãos checos, que nasceram anos e décadas depois da libertação de Praga.
Creio já ser velho o suficiente para ver como já mesmo no meu tempo de vida o sistema governativo que se encontra actualmente em vigor, consegue distorcer por completo os factos históricos e mijar literalmente nas campas de tantos jovens soldados soviéticos que morreram para libertar a Checoslováquia da brutal ocupação por parte dos nazis alemães.
Recentemente, voltei a viver alguns anos em Praga, e testemunhei pessoalmente este processo; a tomada do poder pela direita. Este processo celebra agora essa vitória apagando a memória do sofrimento dos seus próprios avós e avôs. Mas espero que seja uma mera vitória ilusória, de curta duração, vazia - tão típica do neoliberalismo."
Depois de ter tweetado o link para o relato da RT, e depois de exprimir o meu ultraje, recebi várias respostas vindas da República Checa, quase todas reconciliatórias. Uma delas resumia a predisposição geral:
"Por favor não pense que o que aconteceu reflecte o sentir de toda a República Checa, Andre. Uma coisa é a euro-ditadura e o 'protectorado' dos EUA, outra coisa é o 6º Distrito de Praga e o seu presidente da câmara, militante de um partido político completamente insignificante. Uma terceira coisa é o resto do país, que vota de modo bem diferente, e que jamais aceitaria que tais idiotas governassem a nação."
"Konev irá regressar", escreveram outros.
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A situação política na República Checa é complexa. Ondrej Kolar cometeu um tremendo disparate. Tentando cair nas boas graças das forças anti-russas e anti-soviéticas tanto a nível interno como externo, na realidade só conseguiu repelir e ultrajar os seus concidadãos. Levantou o debate acerca da propaganda, e até mesmo do posicionamento do seu país no palco mundial.
Muitos checos não gostam da ditadura global de Washington. Muitos estão desgostosos com a União Europeia. Remover a estátua do marechal Konev projectou muitas questões; algumas feias, algumas extremamente horrendas.
Uma delas: quem está por detrás de tais eventos insultuosos e retorcidos?
Nem é preciso dizer que tais tremendos ataques de propaganda contra a Rússia e a União Soviética, não partem de Praga. Partem de Washington, de Londres, de Berlim e de Paris. E o seu objectivo é reverter e perverter a História, e igualar a União Soviética (o país que derrotou e destruiu o nazismo e o colonialismo na sua forma original) à Alemanha nazi.
Claro, só o imperialismo e o colonialismo ocidentais podem ser, logicamente, comparados ao nazismo.
Agora que o segundo estágio do fulgor colonialista regressou, estando a brutalizar todos os cantos do mundo, o Ocidente está desesperado para desacreditar o seu inimigo mais determinado.
Este autor e esta revista irão, no futuro mais próximo, examinar esta perspectiva, detalhada e pormenorizadamente, uma vez que tal é essencial à sobrevivência do nosso planeta.
A remoção da estátua do marechal Konev é um acto extremamente relevante de vandalismo intelectual. É também um insulto aos milhões de soviéticos que perderam a vida, libertando o mundo de um tremendo mal.
Os russos estão habituados aos insultos. Há séculos que se batem com ataques, injustiças e calúnias: por serem directos, por serem diferentes e por apoiarem os seus aliados, por defenderem aqueles que já perderam toda a esperança.
Que os russos não consigam conter-se e perdoar, são mentiras descaradas. Mesmo quando há quem cuspa nas campas dos seus heróis. Ali honram-se os heróis que lutaram por um mundo melhor. O país foi construído sobre o seu legado, tal como sobre o legado de grandes pensadores, poetas e músicos.
Intuitivamente, os checos que expressam agora ultraje para com os seus próprios políticos, estão cientes disto. Durante séculos, os intelectuais checos olharam para a Rússia; seu irmão eslavo mais velho.
O afastamento, até mesmo hostilidade, entre as duas nações é algo antinatural; algo que pode e deve terminar, em breve. Há que acabar de imediato com as mentiras e com o silêncio.
Que este acto mais hostil sirva de catalisador para a mudança. Que a resistência a este desencadeie um novo capítulo de melhores relações entre os dois países eslavos.
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Andre Vltchek é jornalista de investigação, filósofo, romancista e cineasta. Já cobriu guerras e conflitos em dezenas de países. Entre as suas obras encontramos estas quatro: China and Ecological Civilization com John B. Cobb, Jr., Revolutionary Optimism, Western Nihilism, o romance revolucionário "Aurora" o e best seller de não ficção política, "Exposing Lies Of The Empire". Pode consultar aqui as restantes obras. Veja Rwanda Gambit, o seu documentário inovador sobre o Ruanda e a República Democrática do Congo e o seu filme/diálogo com Noam Chomsky "On Western Terrorism". Vltchek reside actualmente no Oriente asiático e no Médio Oriente, continuando a trabalhar em todo o mundo. Pode ser contactado através do seu portal, do seu Twitter e do seu Patreon.
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7 de Abril de 2020
Tradução: Flávio Gonçalves, Pravda.ru | Libertaria.pt
Imagem: New Eastern Outlook
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Flávio Gonçalves
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