Nota da União Europeia (UE) registrada pelo Financial Times fala de ação retaliatória contra os EUA se os EUA usarem as sanções para obstruir acordos de energia UE-Rússia, e apresenta planos para proteger as empresas europeias envolvidas naqueles acordos.
Na discussão mais extensa do novo pacote de sanções contra a Rússia, que a Câmara de Representantes dos EUA deve aprovar amanhã, comentei que a UE se enfureceria ao receber o pacote de sanções dos EUA como fato consumado, sem qualquer consulta prévia, pacote que a UE sem dúvida veria o movimento como, no mínimo, a tentativa, por alguns grupos nos EUA, para forçar a UE a comprar o caro gás natural liquefeito dos EUA, em vez de comprar o gás barato do gasoduto russo.
Lá eu também disse que, dado que quase com certeza absoluta já é tarde demais para impedir que o novo pacote de sanções seja convertido em lei, a UE provavelmente responderia com ameaça de retaliação, no caso de os EUA tentarem multar empresas europeias que participem dos projetos de gasodutos russos, e tentaria negociar com o governo Trump algum acordo para proteger empresas europeias que participem desses projetos de serem multadas pelos EUA.
Segundo artigo publicado no Financial Times essa é a abordagem, exatamente, que a UE está adotando:
"Bruxelas prepara-se para retaliar contra os EUA, se Washington insistir em impor novas sanções de longo alcance contra a Rússia que atinjam empresas europeias. Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, já falou de revisão urgente de como Bruxelas deve responder, se empresas de energia ou outras empresas forem alvo das sanções que estão sendo discutidas no Congresso dos EUA.
Segundo nota preparada para uma reunião da comissão na 4ª-feira à qual o Financial Times teve acesso, Bruxelas "deve manter-se a postos para agir em poucos dias" - se as medidas norte-americanas forem "adotadas sem que as preocupações da UE tenham sido levadas em consideração" (...).
A nota diz que o "foco principal" de Bruxelas deve ser buscar "alguma garantia pública ou por escrito" do governo Trump, de que não aplicarão as novas sanções de modo que fira interesses da UE. Outras opções que se leem na nota da Comissão da UE incluem usar a lei europeia para impedir que as medidas dos norte-americanos sejam "reconhecidas ou tornadas aplicáveis" na Europa, e preparando "medidas retaliatórias nos termos da Organização Mundial de Comércio".
Esse episódio expõe a loucura e a arrogância da classe política nos EUA.
Embora a unidade EUA-UE quanto às sanções contra a Rússia e na crise da Ucrânia venha mostrando crescentes rachaduras, com uma maioria de governos da UE já lamentando no privado que se tenham deixado empurrar por EUA e Alemanha, nos idos de julho de 2014, a aceitar sanções em geral, o compromisso pessoal de Angela Merkel com as sanções ainda indica que, pelo menos até agora, a unidade mantém-se.
Agora, por causa de uma querela política interna nos EUA, inflada em torno de um escândalo totalmente fictício, o Congresso dos EUA está a ponto de dar um passo que está obrigando Angela Merkel e a burocracia da UE a tomar posição contra os EUA na questão das sanções, e a favor da Rússia.
Num tuíto irritado - claramente dirigido aos Republicanos no Congresso -, o presidente Trump disse que só Democratas e russos podem festejar os desenvolvimentos do "Russiagate".
Duvido muito que os Democratas estejam rindo. Ao longo do escândalo, só têm mostrado paranoia e histeria, já a ponto de completo descontrole mental.
Quanto aos russos, se já não estão rindo, com certeza rirão sim sem demora.*****
24/7/2017, Alexander Mercouris, The Duran