Rússia: um ano na Síria!
Na passada sexta-feira, 30 de Setembro, assinalou-se o primeiro aniversário da entrada da Rússia na guerra civilizacional ainda a decorrer na Síria contra o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), ao contrário da trôpega intervenção dos Estados Unidos da América - que entraram na guerra à revelia das autoridades sírias e aliados à oposição armada "rebelde moderada", tendo também o hábito de "por erro" bombardear posições hostis ao EIIL e, também "por erro", largar abastecimentos de armamento do lado errado das linhas inimigas acabando por abastecer o Estado Islâmico - a Rússia entrou em solo sírio após um pedido de apoio oficial emitido por Bashar Assad ao governo russo e a aprovação dessa mesma intervenção por parte do Conselho da Federação Russa.
Flávio Gonçalves
De acordo com os dados oficiais apresentados aquando do cessar-fogo patrocinado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e pelo Secretário de Estado dos EUA, John Kerry (cessar-fogo esse que entrou em vigor a 12 de Setembro mas que nem chegou a durar uma semana, uma vez que os "rebeldes moderados" armados e apoiados pelos EUA acabaram por o quebrar mais de 300 vezes), em mais de 15.000 missões de combate levados a cabo pelas forças russas, "passado um ano, foram abatidos dezenas de milhar de terroristas, foram libertadas centenas de cidades e povoados, cercaram-se os militantes [do EIIL] em Aleppo e o território, as finanças e o poderio do Daesh diminuem a passo rápido", estando prevista uma coordenação estratégica entre as forças dos Estados Unidos e da Federação da Rússia aliada à entrada da Turquia no conflito (desta vez, no lado certo) seria de pensar que os dias do Estado Islâmico já estavam contados... infelizmente nem por isso, além deste pormenor dos rebeldes "moderados" terem aproveitado a mão livre para atacar posições sírias em vez de posições do EIIL e o facto de os "terroristas" a quem a Turquia não tem dado trégua serem as Unidades de Protecção Popular (nas quais combateu o EIIL até à morte o socialista português Mário Nunes) e restantes milícias curdas e não o Estado Islâmico.
O combate civilizacional contra o Estado Islâmico ainda está longe de terminar, a intervenção russa foi determinante para reduzir o poderio e a influência deste tanto na Síria como no Iraque e, teoricamente, para alterar a aliança e a estratégia de Recep Erdogan, afastando a Turquia do papel de fornecedor de armas e comprador de petróleo do Estado Islâmico para o de seu declarado opositor (até ver, mais nas palavras do que nos actos). Caso a Rússia se tivesse omitido, como na Líbia, teríamos hoje outro Estado completamente implodido e entregue aos radicais islâmicos. A ver vamos como estará a região, e o mundo, daqui por mais 12 meses, até lá devíamos estar todos gratos à Rússia (e ao Iraque e ao Irão) por estarem a combater no terreno uma guerra civilizacional que, queiramos ou não, diz respeito a todos nós.
Foto: Aviões russos no Aeródromo de Hmeymim, Síria. © Ministério da Defesa da Rússia