Sobre as sanções: "Russos não guardamos rancor"
18/6/2016, RT, Pres. Vladimir Putin ao Fórum Econômico Internacional de S. Petersburgo
Definitivamente não foi uma 6ª-feira comum para o presidente Putin, que falou durante horas no Fórum Econômico Internacional de S. Petersburgo [ing. St. Petersburg International Economic Forum, SPIEF] sobre os temas mais candentes da agenda global, inclusive as relações da Rússia com a União Europeia e Washington.
Perguntado sobre o que pensava dos candidatos a presidente dos EUA Putin explicou sua atitude em relação àquela "provavelmente, única superpotência" - como disse. - "EUA são um grande estado (...) Aceitamos isso e queremos trabalhar com os EUA e estamos prontos para isso" - disse o presidente Putin, acrescentando que não importa quem seja eleito o próximo presidente dos EUA, a Rússia trabalhará com ele ou ela. Mas, sim, o presidente russo sugeriu fortemente que a agenda de política exterior de Donald Trump pode ser preferível, aos olhos de Moscou. "O Sr. Trump disse que está pronto a restaurar o pleno formato das relações Rússia-EUA. Para nós, é ideia bem-vinda."
Sobre EUA: "Precisamos daquela superpotência. Mas não precisamos dela sempre a interferir nos nossos assuntos."
(Foto © Sergei Savostyanov / TASS)
Um estado tão poderoso como os EUA tem de ser benéfico para todo o mundo, inclusive para a Rússia, disse Putin. Mas observou que o problema com os EUA é a tendência a interferir em assuntos de outros países.
"Precisamos daquela superpotência. Mas não precisamos dela sempre a interferir nos nossos assuntos, sempre a dizer como devemos viver, intrometendo-se nas ações dos europeus para construir relações conosco" - disse o presidente da Rússia.
As sanções econômicas que Moscou introduziu como resposta às restrições que o ocidente impôs à Rússia depois do golpe de Estado em Kiev não afetaram de modo algum os EUA, mas afetaram consideravelmente a Europa.
"[As sanções] tiveram efeito-zero [sobre os EUA], mas os parceiros dos norte-americanos foram instruídos a suportar os efeitos que viessem" - disse Putin, acrescentando que absolutamente não compreende por que a União Europeia foi obrigada a passar pelo que está passando.
Sobre a União Europeia: "Não guardamos rancor. Estamos prontos a conversar num ponto qualquer, no meio do caminho." (Foto © Mikhail Metzel / TASS)
Apesar de todas as dificuldades, a União Europeia continua a ser "parceiro chave" da Rússia no comércio e em termos econômicos. "A União Europeia é nosso vizinho mais próximo, e o que aconteça aos nossos vizinhos sempre nos preocupa". O presidente russo destacou que representantes de alguns círculos comerciais europeus, inclusive franceses e alemães, já manifestaram disposição para cooperar com Moscou, sugerindo que agora é a vez de os políticos "mostrarem sabedoria, capacidade para ver longe e flexibilidade."
"Não guardamos rancor. Estamos prontos a conversar com nossos parceiros europeus num ponto qualquer, no meio do caminho" - Putin disse ao Fórum, lembrando que não foi a Rússia quem iniciou a atual "quebra" nas relações e os problemas causados pelas sanções. - "Todas as nossas ações foram e permanecem exclusivamente retaliatórias."
"Nossas reuniões recentes com representantes de círculos comerciais e empresariais alemães e franceses já provaram que o business europeu está querendo e está pronto para cooperar com nosso país. Os políticos têm de encontrar-se com os empresários num ponto qualquer no meio do caminho, e mostrar sabedoria, capacidade para ver longe e flexibilidade. Temos de reconquistar a confiança nas relações russo-europeias, e restaurar o nível de interação" - disse Putin.
Sobre a OTAN: "Atitude de absoluto menosprezo" (Foto © Mikhail Metzel / TASS)
A Rússia também tem sido forçada a responder à política expansionista da OTAN - disse Putin. Acrescentou que não compreende por que a aliança militar continua a aproximar-se cada vez mais das fronteiras russa. "A União Soviética já não existe; o Tratado de Varsóvia [entre a URSS e países do leste europeu] deixou de existir. Assim sendo, por que a OTAN vive continuamente a ampliar a própria infraestrutura e a andar sempre na direção das fronteiras da Rússia? Agora, estão intrometendo-se em Montenegro. Quem ameaçou Montenegro?" - Putin riu.
A aliança manifesta "atitude de absoluto menosprezo por nossa posição em tudo" - disse o presidente russo, acrescentando que os EUA abandonaram unilateralmente o tratado sobre os mísseis de defesa, assinado inicialmente para "garantir ao mundo o equilíbrio estratégico." Mas Putin garantiu à comunidade internacional que não quer envolver a Rússia numa nova Guerra Fria, que "ninguém deseja tal coisa". (...) Explicou que "por mais dramática que pareça ser a lógica do desenvolvimento das relações internacionais se vista de fora, não é lógica do confronto global."
Putin reiterou que o controverso escudo de mísseis norte-americanos na Europa Oriental é ameaça ao equilíbrio de poder. Destacou que "só por causa disso, para preservar o equilíbrio, aperfeiçoaremos nossa capacidade de ataque com mísseis".
Sobre a Síria: "Se queremos promover o princípio da democracia, temos de fazê-lo com instrumentos democráticos". (Foto © Sergey Guneev / Sputnik)
Para manter a segurança no mundo, várias nações, inclusive Rússia e os EUA, reuniram-se para ajudar a resolver a crise na Síria. Destacando que a prioridade deve ser manter a integridade da Síria, Putin alertou que a desintegração daquele país do Oriente Médio seria "fator de desestabilização, não só na região, mas para todo o mundo."
"Temos de agir cuidadosamente, passo a passo, visando a construir confiança entre todos os lados do conflito" - disse o presidente russo, acrescentando que, quando se alcança essa confiança dentro da sociedade, é possível formar sobre essa base um novo governo efetivo. O único caminho para alcançar a paz é um processo político - disse Putin. Destacou que o presidente Bashar Al-Asaad da Síria "também concorda com esse processo. Se queremos promover o princípio da democracia, temos de fazê-lo com instrumentos democráticos" - disse ao Fórum o presidente russo. Mas alertou que "esse processo é complicando e demanda tempo".
Sobre a Ucrânia: "O golpe na Ucrânia foi necessário para dar substância à OTAN" (Foto Sergei Savostyanov / TASS)
A situação na Ucrânia, por outro lado, é bom exemplo de como não de deve fazer as coisas na arena internacional. "Depois da 'Primavera Árabe', [os EUA] esgueiraram-se para mais perto de nossas fronteiras. Por que precisaram apoiar um golpe na Ucrânia?" - perguntou Putin. - "É muito provável que a oposição que está hoje no poder chegasse até lá em eleições democráticas, e estaríamos trabalhando com eles, exatamente como trabalhamos com os que estavam no poder antes do presidente Yanukovich." "Mas não" - Putin continuou, - "tinham de arrastar aquela situação para um golpe sangrento, com vítimas, para causar uma guerra civil."
Putin disse que o curso dos eventos "apavorou" a população falante de russo no sudeste do país e na Crimeia, o que obrigou a Rússia a tomar medidas "para proteger aquelas pessoas".
Mas a OTAN "precisa ter um inimigo estrangeiro, ou desaparece a própria razão de existir de uma organização daquele tipo. A guerra foi imposta à Ucrânia, "para justificar e dar substância à própria existência da aliança do Atlântico Norte", - concluiu o presidente russo.*****