Putin na Turquia : Qatar e Ocidente fora do jogo?

O presidente russo, Vladimir Putin, realizou dia 3 de dezembro uma visita anteriormente adiada à Turquia. De acordo com a imprensa turca, Putin veio disposto a falar da cooperação no campo econômico, portanto a discussão política foi empurrada para o fundo. Mas os encontros deste nível não são para discutir sucessos, mas os conflitos a serem abundantes.

O mais importante deles é, obviamente, a crise síria. A visita do presidente russo ocorreu após o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, no mês de novembro  ter tido com a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton e, em seguida, com o ministro das Relações Exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi.  Daí vem um papel importante da Turquia para resolver a questão síria. Antes da visita de Putin, Erdogan opinou igualmente sobre o papel da Rússia: "A Rússia é a chave para resolver o conflito de 20 meses na Síria."

Putin e Erdogan sublinharam que os objectivos da sua política sobre a Síria eram os mesmos, mas a visão de como implementá-los era diferente. Os dois expressaram seu pesar pela essa diferença. A Rússia insiste na transferência pacífica do poder na Síria, a Turquia defende a remoção imediata do governo legítimo com o uso da força militar. As relações entre a Rússia e Turquia pioraram após os caças turcos terem interceptado um avião de Linhas Aéreas Sírias com uma carga legítima russo a bordo. A carga estava destinada a ser entregue a um cliente "legal". Depois disso, referindo-se a uma agenda lotada, Putin adiou sua visita à Turquia, que originalmente tinha sido marcada para meados de outubro.  Então, a mídia turca escreveu que Putin tinha atrasado sua visita devido a seus problemas de saúde, o que era uma opção bem conveniente para a Turquia.

Analistas turcos acreditam que as relações com a Turquia são muito mais importantes para a Rússia do que as com a Síria. Na verdade, a Turquia é um grande consumidor de gás russo e a Rússia é o maior mercado para as empresas de construção turcas. O comércio bilateral tem crescido rapidamente. Extima-se que nos próximos anos crescerá de US $ 32 bilhões  para US $ 100 bilhões. A Rússia decidiu investir plenamente na construção da primeira usina nuclear na Turquia. O projeto é de US $ 20 bilhões, e 25 por cento desse montante é destinado para a criação de postos de trabalho.

 Há outros projetos de sucesso. Por exemplo, a fábrica de cobre em Magnitogorsk  (Urais) construiu uma fábrica na cidade turca de Iskenderun com a capacidade de 2,3 milhões de toneladas de aços planos. Em 2 de dezembro o grupo russo GAZ lançou a produção de vans na Turquia.

No entanto, a Rússia tem fortes interesses na Síria também. Concentram- se nos cidadãos russos, bilhões em contratos militares e uma base militar, que a Turquia ameaça destruir com sua política agressiva. Além disso, a Rússia está preocupada com a militarização da fronteira turca com a Síria em conexão com a implantação planejada de mísseis Patriot NATO, pois, poderiam voar para a Rússia também.

Putin foi irônico, mas expressou as preocupações. "No que diz respeito aos sistemas Patriot, antes de tudo, não é o melhor sistema do mundo, e em segundo lugar, compartilhamos as preocupações da Turquia em conexão com os eventos na fronteira. Entendemos os sentimentos tanto do governo, como do povo turco, mas apelamos á contenção, porque a criação de oportunidades militares adicionais na fronteira agrava a situação ", disse o presidente russo em uma conferência de imprensa conjunta após a reunião com Erdogan.

Putin acrescentou que não deve ser um especialista para entender que a Síria não iria atacar os seus vizinhos. "Isto é absolutamente irreal", disse ele. No entanto, a Turquia precisa desses mísseis não para atacar os sírios. O país precisa deles para reprimir guerrilheiros curdos na fronteira de 700 quilômetros com eles. Portanto, é improvável  a Turquia recusar de implantar os mísseis. Não é por acaso Erdogan ter afirmado que a Rússia não têm nada a ver com os planos da Turquia para reforçar a sua defesa.

A principal questão, que comove muitos é seguinte. Se Putin rendeu Assad para o Ocidente ou não?

Citemos o presidente: " Os Senhores sabem, não somos os protectores do regime existente na Síria. Eu já disse isso muitas vezes. Não somos os advogados da actual liderança síria. Nossa preocupação é outra… O que é que vai acontecer no futuro? Não queremos repetir os erros que foram cometidos, em nossa opinião, em passado recente. Lembremos como activamente a comunidade ocidental apoiou os rebeldes na Líbia. Quem poderia imaginar que as mesmas pessoas apoiadas levariam a situação a uma tragédia ? Ao assassinato do embaixador dos Estados Unidos. Antes de fazer um movimento, os Senhores devem pensar em consequências ", disse Putin.

É digno de nota que o presidente russo nunca disse: " Rússia não suporta Bashar al-Assad". Todas as formulações são muito escorregadias e, de fato, correctas: Rússia não é  um advogado, nem um juiz de Assad. A Rússia tem seus próprios interesses na Síria, e vai defendê-los exactamente como o governo legítimo.


Putin disse que seu país não poderia dar quaisquer garantias das intenções do líder sírio. No entanto, isto não pára a Rússia de manter "relação normal de trabalho" com ele, segundo a opinião expressada há pouco por primeiro-ministro, Dmitri Medvedev. Putin abordou o tema sobre algumas idéias novas na questão síria, não as revelando.

Talvez, se trate da opção que exclui uma intervenção militar na Síria e a permanecia de Assad no poder por um período de transição, com o apoio da Turquia, Irã e Rússia. Erdogan próprio propôs a criação da comissão neste formato há um mês no encontro com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em Baku. Seria benéfico para a Turquia por não agravar o problema curdo e reforçar a liderança da Turquia na região. Isso é benéfico para a Rússia também, pois proporciona a continuidade para as autoridades sírias. O Irã manterá o cinturão xiita. Qatar e o Ocidente, então, ficam fora do jogo, mas  é o problema deles.

Leia original em russo


Author`s name
Lulko Luba