Amyra El Khalili, especial para Pravda.RU*
Neste dia 26 de Janeiro, lamentamos o falecimento, aos 80 anos, do nosso querido Prof. MOHAMED EZZ EL DIN MOSTAFA HABIB, ex-presidente do ICArabe, Instituto da Cultura Árabe.
O professor Habib, nascido em Port Said, no Egito, radicou-se no Brasil, onde lecionava pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Sua obra é conhecida e reverenciada pela comunidade acadêmica e científica e por nossa comunidade árabe.
Mas não quero falar do enorme e tão proclamado currículo do professor Habib. Quero me ater ao ser humano Habib, que tive a honra de ter como parceiro, amigo e mestre em diversas frentes, especialmente como ambientalista e aliado apaixonado e incondicional da nossa justa causa palestina.
Professor Habib ensinou que a questão da Palestina era prioritária, porque nela encontramos todas as causas. As camadas mais humildes da sociedade identificam na causa palestina seus sofrimentos e carências, seus direitos à terra, à água, à saúde, à escola e ao meio ambiente.
Professor Habib esclareceu que a solidariedade e o engajamento na luta pela emancipação e reconhecimento do Estado Palestino estava diretamente ligada à questão ambiental. Ao observar as severas restrições sofridas pela população do agreste no Nordete brasileiro, afirma que o povo palestino é o “nordestino” do Oriente Médio, aquele que convive com os extremos climáticos, mas principalmente com a escassez da água.
Professor Habib reconheceu a ciência agronômica no nascedouro da Palestina e na maneira harmoniosa do povo palestino ao trabalhar com a terra e com a agroecologia . Para Habib o palestino era uma extensão da terra, enraizado como as oliveiras milenares, assim como mananciais de água, que convivem em meio ao ecossistema desértico. Para Habib, o muro que separa palestinos de israelenses não separa apenas pessoas de pessoas, mas provoca a morte lenta de Israel, ao impedir a migração dos pássaros com a polinização das florestas.
Para Habib, as colinas de Golã não foram ocupadas por Israel por segurança, como argumentam os sionistas, mas para exercer o controle das águas que brotam para toda a região.
Para Habib, defender a causa palestina estava acima de quaisquer diferenças, sectarismos e divisionismos, porque era o que ele considerava fundamental para que a região tivesse, de fato, sustentabilidade política, social, econômica e ambiental.
Perdemos o homem e mestre professor Habib, filho do Egito, que, em retribuição a nossa hospitalidade, nos recompensou com sua história, com sua sabedoria, com sua compaixão e amorosidade. Hoje, entregamos para o povo egípcio o seu Faraó, cuja obra sempre será lembrada e aclamada, porque não se limitou às letras frias da academia para ser transmultada em dedicação, amor e ternura pelo seu povo árabe e brasileiro e respeito por sua terra.
Ellahmdoulilah!
*Amyra El Khalili , desde Moscou para Pravda.Ru transcrição de fala em áudio na Rádio Cairo, Egito.
FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil
A notícia da morte do biólogo e professor universitário aposentado Mohamed Habib, aos 80 anos, na noite de ontem, mergulha em luto e tristeza todos os humanistas historicamente dedicados à luta por justiça para todos os povos e à solidariedade internacional. Os palestinos, em especial, estamos tomados pela dor da perda de um dos grandes defensores da Palestina.
Habib nasceu no Egito e graduou-se em agronomia pela Universidade de Alexandria (1964), instituição na qual se tornou mestre em controle biológico (1968). Seus 40 anos no Brasil se realizaram academicamente na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde fez o doutorado (1976), alcançou a livre-docência (1982), lecionou até sua aposentadoria (2012) e na qual seguiu professor colaborador. Na instituição foi diretor (eleito) do Instituto de Biologia (1990/94 e 2002/05), coordenador de Relações Internacionais (1998/2002) e pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários (2005/12). Também foi vice-presidente do Instituto da Cultura Árabe (Icarabe), de 2008 a 2012, e seu presidente de 2017 a 2020.
Quando coordenador de Relações Internacionais, Habib promoveu, de 28 a 30 de novembro de 2001, na Unicamp, o simpósio internacional “Os direitos humanos do povo palestino na conjuntura atual”, um dos maiores e mais importantes eventos pela Palestina já realizados em universidades brasileiras.
Além de três filhos e um neto, Habib deixou viúva Salsam Habib.
Que a certeza de que em paz descansa na morada eterna dos justos conforte seus familiares e a todos que vivem a dor desta grande perda.
Palestina Livre a partir do Brasil, 27 de janeiro de 2022, 75º ano da Nakba.
FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil