A Escola da Noite estreia amanhã, dia 6 de Junho, no Teatro da Cerca de São Bernardo, a sua nova criação. "o homem que", a partir da obra de Augusto Baptista é uma instalação/espectáculo que cruza as linguagens do teatro, do desenho e da fotografia e pode ser vista em Coimbra até 30 de Junho, de quinta a domingo.
Com dramaturgia e encenação de António Augusto Barros, "o homem que" apresenta ao público o surpreendente, instigante, poético e bem-humorado universo de um autor que permanece largamente desconhecido e afastado dos cânones ou dos circuitos estabelecidos.
Artista multifacetado, Augusto Baptista "cruza escritas" e interrogações: fotografia, desenho, textos curtos e muito curtos - contos, micro-contos, "enigmas" que parecem haikus - e até figurações em tangram, o célebre jogo inventado na China no qual se tornou especialista.
É esta multiplicidade de formas que A Escola da Noite experimenta agora transpor para o palco e outros espaços do TCSB, numa das muitas viagens que é possível fazer à obra do autor - entre quadrados, triângulos e o paralelogramo, a acutilância do traço, a luz da fotografia e um partilhado fascínio pelas palavras, pela linguagem e pela complexidade humana.
Adensar o mistério
Enquadrando esta nova criação numa das linhas de trabalho que marcam o percurso d'A Escola da Noite - a "exploração de matérias diversas não teatrais (literárias, visuais, poéticas)" -, o encenador António Augusto Barros destaca a forma como Augusto Baptista "cruza escritas": "com a fotografia, com peças de tangram, com desenhos, com palavras, no desenvolvimento da sua arte filosófica de perguntar, a que chama enigmatógrafo, vai cerzindo o seu texto, o seu tecido, com uma 'paciência histórica' aberta a delírios, obsessões, utopias, desconstruções". "O nosso desafio - acrescenta Barros - resumiu-se a conjugar cenicamente estes cruzamentos feitos de formas breves ou brevíssimas, fulgores, respirações e o fôlego poético da geometria. E sair desse mergulho na sua obra, em apneia, na senda das pérolas, à procura de essencialidades, com um novo texto, que não pretende resolver o mistério mas talvez adensá-lo, em novas camadas de interpretação e de sentido". Afinal, acredita o encenador, é esse "o papel da arte no longo/breve aprendizado da vida, perante 'certezas que o tempo transforma em mistério'."
"Rir ou chorar?"
Convidado a escrever um texto que integra o programa/catálogo de "o homem que", o professor universitário e investigador José António Gomes analisa a diversidade da obra de Augusto Baptista, "um singular fotógrafo, um animador de projectos socioculturais ligados à expressão teatral e à valorização da Lusofonia, um designer gráfico, um desenhador e cartoonista (...) mas sobretudo (...) um escritor". Entre as singularidades da sua obra literária, José António Gomes destaca o sentido de humor, "por vezes cáustico e cruel", no "limiar do trágico (rir ou chorar?)", mas também o "fascínio pelos bichos e por um aviltante transformismo surrealizante homem/animal" e ainda "a necessidade de transformação do mundo, o livro e a leitura como paixão e viagem, a dimensão salvífica e criadora da arte, o onirismo, os prodígios da beleza feminina, da Natureza, da paisagem".
Novo horário às quintas-feiras
A instalação/espectáculo que a partir de amanhã é possível visitar no TCSB começa ainda na rua: a fachada do Teatro está coberta por vários enigmas, impressos em grande formato. É com essas perguntas que os espectadores/visitantes são convidados a percorrer os diferentes núcleos expositivos no foyer, no Bar/Livraria e na sala principal, que incluem fotografias, desenhos e textos de Augusto Baptista. A dada altura, ao soar do gongo, começa o espectáculo: Igor Lebreaud, Maria João Robalo, Miguel Magalhães e Sofia Lobo representam em palco mais de duas dezenas de contos e micro-contos do escritor, alguns dos quais inéditos.
A instalação/espectáculo, classificada para maiores de 14 anos, pode ser vista de quinta a domingo, até 30 de Junho. A companhia chama a atenção para o horário novo das quintas-feiras: à excepção do dia da estreia, neste dia da semana (no qual, recorde-se, é praticado o preço único de 5 Euros, correspondente a um desconto de 50% sobre o preço normal do bilhete) a sessão começa às 19h00.
Tendo em conta as características da montagem deste espectáculo, a lotação é menor do que a habitual, pelo que é (ainda mais) aconselhável efectuar a compra antecipada ou reserva de bilhetes, pelos contactos habituais: 239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt.
TEATRO | DESENHO | FOTOGRAFIA
o homem que
a partir da obra de Augusto Baptista
A Escola da Noite
textos, desenhos, tangram e fotografias Augusto Baptista
dramaturgia e encenação António Augusto Barros
interpretação Igor Lebreaud, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Sofia Lobo
direcção plástica Ana Rosa Assunção, António Augusto Barros figurinos e adereços Ana Rosa Assunção desenho de luz Danilo Pinto sonoplastia Zé Diogo vídeo Eduardo Pinto montagem e operação técnica Danilo Pinto, Eduardo Pinto, Rui Valente, Zé Diogo construção de elementos cénicos e expositivos Carlos Figueiredo, Danilo Pinto, Rui Valente, T.ART, Zé Diogo execução de figurinos e adereços Ana Rosa Assunção, Elsa Rajado, Maria do Céu Simões cabelos Carlos Gago / Ilídio Design Cabeleireiros produção e comunicação Eduardo Pinto, Pedro Rodrigues fotografia Eduardo Pinto limpeza Cláudia Natividade estagiário do curso técnico de multimédia da E.S. José Falcão Diogo Dias
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo