Mais gestor, menos político
Nas últimas eleições para prefeitos, boa parte dos candidatos buscaram se afastar da alcunha de político e repetiram como se fosse um mantra: "sou um gestor, um administrador". Esse foi o mote publicitário de João Dória (PSDB) nas eleições municipais de São Paulo, que lhe rendeu a vitória nas urnas já no primeiro turno.
Durante os discursos dos candidatos, ouvi Nelson Marchezan Jr. (PSDB), Marcelo Crivella (PRB), Alexandre Kalil (PHS) e Geraldo Júlio (PSB), dentre tantos outros, que também seguiram a linha de cortar despesas e trabalhar para melhorar a gestão dos recursos públicos. Afinal, iniciar o mandato das cidades com um rombo de R$ 69 bilhões nas contas públicas será uma missão bastante árdua. Sem contar outro fator alarmante. De acordo com o Ministério da Transparência, 70% das operações nas prefeituras comprovaram fraudes e desvios do dinheiro voltado para a saúde e a educação.
Por Jairo Martins, presidente executivo da Fundação Nacional da Qualidade
Observando a estrutura organizacional da máquina do Estado, seria lógico afirmar que no âmbito federal o foco é na estratégia; os Estados cumprem o papel tático que se desdobra para as Municípios, os quais ficam com a tarefa operacional, já que lá vivem e trabalham as pessoas e operam as empresas. Nesse sentido, os prefeitos assumem a responsabilidade de fazer dar certo, de estar na linha de frente dos problemas da cidade, de melhorar os serviços de saúde, educação e segurança e ainda investir em novos projetos de infraestrutura.
Várias estratégias têm sido traçadas para aumentar a arrecadação - e/ou diminuir as despesas, desde cortar o cafezinho até eliminar vagas de concursados. Teve até prefeito que contratou empresa de consultoria para cuidar do plano de metas da cidade. Nada contra as empresas de consultoria, mas este é um tema do líder e não pode ser delegado. O prefeito precisa se cercar de pessoas competentes, capacitá-las e motivá-las para executar os projetos e as políticas públicas que realmente atendam às necessidades dos cidadãos e gerem valor para a sociedade. Esta função não pode ser terceirizada.
Ser um prefeito gestor significa usar bem os recursos e as habilidades dos funcionários para que trabalhem com ferramentas apropriadas, que possibilitem observar as falhas e produzir um diagnóstico para melhorar os processos internos, em qualidade, tempo e custo. Afinal, os prefeitos mudam, mas os funcionários públicos permanecem. Eles, mais do que os prefeitos, detêm o histórico, o conhecimento e precisam buscar a profissionalização.
Ser um prefeito gestor demanda, ainda, escolher pessoas competentes para compor as pastas das secretarias. Profissionais que realmente entendam e tenham domínio sobre o tema e não como muito se observa, com o cargo representando apenas uma troca de favores entre compadres. Ter experiência política não qualifica necessariamente um excelente administrador.
Uma obrigação das prefeituras não é só pensar em curto prazo, mas gerar valor e deixar um legado para o próximo mandato e passar o bastão para a próxima gestão, com a consciência de que houve avanços significativos na cidade. É preciso que haja um equilíbrio saudável entre os planos de governo e os planos de estado, pois são esses que têm valor duradouro. Ou, ao menos, não entregar o município falido para o próximo que vier.
Assim, para se administrar bem uma Prefeitura, é preciso adotar sistemas de gestão focados na eficiência e na eficácia do uso dos recursos, agindo com ética e responsabilidade. É possível começar certo, fazendo mais gestão e menos política.