Desemprego em 2014: Os jovens ainda levam a pior parte

A Organização das Nações Unidas (ONU) advertiu recentemente que, a nível mundial, 60% dos jovens não estuda nem trabalha, dado que reflete uma das tendências mais alarmantes do mercado trabalhista em 2014. Se desde a crise econômica de 2008 os índices de desemprego dispararam em diferentes regiões do planeta, têm sido os jovens com menos de 25 anos os mais afetados por essa situação, como demonstram as cifras expressas no relatório "Estado da população mundial 2014."

De acordo com o reporte do Fundo de População das Nações Unidas, em todo o planeta há 73,4 milhões de jovens desocupados, cifra que representa quase 40% por cento do total de pessoas sem trabalho. 

Prensa Latina

Tal situação torna-se ainda mais agravada pela quantidade de menores de 25 anos que se encontram em postos de baixa qualidade e mau remunerados, com contratos descontínuos e inseguros.

A leve recuperação da economia global parece insuficiente para retomar os níveis de emprego anteriores à crise, pois só nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), 16,3 milhões de pessoas estão sem trabalho por mais de 12 meses, o dobro da cifra de 2007.

Dentro dos 34 membros da OCDE, muitos deles países ricos, quase 45 milhões de habitantes estão em desemprego atualmente, 12,1 milhões mais que antes da crise econômica.

O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), cujas receitas são criticadas frequentemente pela imposição de políticas neoliberais que estão extinguindo os direitos dos trabalhadores, reconheceu recentemente a existência de uma crise trabalhista com 200 milhões de pessoas sem trabalhar.

Encontramos-nos ante uma desgarradora crise do emprego em todo o planeta com 200 milhões de pessoas que procuram trabalho. Saibam que se todos os desempregados juntos formassem um Estado, seriam o quinto país mais povoado do mundo, assinalou em outubro passado a diretora gerente do organismo internacional, Christine Lagarde.

"Diante dessa situação, corremos o perigo de ficar estancados em uma nova mediocridade de escasso crescimento e insignificante criação de empregos", expressou a servidora pública depois de chamar a atenção, em particular, para o tema do desemprego juvenil.

Em certas regiões, como o sul de Europa e o norte de África, esse fenômeno se transformou em um problema social crônico, apontou.

A afirmação de Lagarde é evidente em várias nações do chamado velho continente, entre elas a Espanha e a Grécia, onde respectivamente o 53,8% e o 53,1% dos menores de 25 anos se encontra desocupado.

No conjunto da zona euro, o desemprego juvenil afeta 23,2% desse grupo geracional, dados muito superiores aos de toda a população, que no bloco da moeda comum se localiza em 11,5%.

Segundo manifestado pela chanceler alemã, Angela Merkel, a região não é agora mesmo uma terra de futuro para os jovens, que sofrem taxas de desemprego de 30% ou o 40%, e têm pouca confiança em encontrar um posto de trabalho.

Para diversos especialistas, as causas desse problema, que não é exclusiva de Europa, se encontram na crise iniciada em 2008, a qual levou ao retrocesso da atividade econômica, a diminuição do consumo interno e a interrupção do investimento empresarial.

As políticas de austeridade implementadas para reverter esse fenômeno, fundamentalmente sob pressão de entidades como o próprio FMI e o Banco Central Europeu, não têm permitido reduzir até agora o déficit e a dívida pública, mas, pelo contrário, têm levado ao aumento do desemprego, a precariedade e a pobreza.

Mas, segundo a OCDE, a crise não oferece todas as razões para explicar a baixa recuperação que tem tido o mercado trabalhista, pois tendências a longo prazo como o envelhecimento populacional e o aumento nas habilidades dos trabalhadores também têm influído.

Assim, o organismo destaca que a dependencia exagerada dos empregos temporários está danificando as pessoas e a economia, e adverte que o crescimento dos salários reais desacelerou significativamente.

Em seu relatório "Perspectivas do Emprego 2014", a entidade assinala que a recuperação segue incompleta, e por isso adverte que o alto desemprego a longo prazo, ao se transformar em um problema estrutural, não será revertido automaticamente por uma melhora do crescimento econômico.

Para que a crescente população do planeta tenha acesso ao mercado trabalhista, devem ser criado globalmente 600 milhões de empregos antes do ano 2030, advertiu um relatório do Banco Mundial apresentado para os ministros de Trabalho e Emprego do grupo das 20 principais economias. (G-20).

De acordo com o estudo, os mercados em via de desenvolvimento têm tido um melhor papel na criação de novos postos que os países desenvolvidos do G-20, mas no geral a situação não inspira otimismo.

Embora durante 2014 a região de América Latina e o Caribe mostrou desaceleración econômica em relação aos anos precedentes, isso não impediu que as taxas de desemprego continuassem baixando nos países da região.

De acordo com o Panorama Trabalhista dessa zona geográfica, apresentado pela OIT no fim do terceiro trimestre do ano, o nível de desemprego era 6,2% e deve fechar 2014 em 6,1%, abaixo do 6,2% de 2013.

"Estamos falando de quase 15 milhões de pessoas sem trabalho", precisou Elizabeth Tinoco, diretora da organização na América Latina e o Caraíbas.

Ao mesmo tempo, o relatório da OIT advertiu que a taxa de desocupação juvenil urbana baixou de 14,5% a 14%, mas segue sendo entre duas e quatro vezes a dos adultos, ao mesmo tempo em que 40% de quem não trabalha é jovem.

Apesar do fato de que durante 2014 o desemprego seguiu o a redução registrada nos anos anteriores, a OIT chamou a atenção sobre o fato de que se estão criando menos oportunidades trabalhistas, que poderá ser refletido nos dados de 2015.

Segundo a entidade, durante os próximos 12 meses o índice de desemprego urbano aumentará até dois décimos e poderá chegar a 6,3 por cento, o que equivalerá à existência de mais 500 mil desocupados.

A região precisa de quase 50 milhões de empregos novos nos próximos 10 anos para compensar o crescimento demográfico, manifestou Tinoco, que sugeriu impulsionar o crescimento e a transformação produtiva apoiando a inclusão econômica e social através do mercado de trabalho.

* Jornalista da Redação de Economia de Prensa Latina.

 

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