SÃO PAULO - A possibilidade de a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) comprar uma draga para atuar no Porto de Santos com o objetivo de regularizar as atividades de dragagem é uma medida que deve ser incentivada, diante das dificuldades para se encontrar uma empresa que possa executar os serviços a preços razoáveis.
Mauro Lourenço Dias (*)
Como se sabe, a Secretaria de Portos (SEP) abriu uma licitação internacional para contratar uma empresa capaz de executar a obra, mas que redundou em malogro, depois que os concorrentes apresentaram propostas muito superiores ao que a pasta federal previa em orçamento. O consórcio Dragagem Santos, formado pelas empresas Van Oord e Boskalis, primeiro colocado, apresentou uma proposta de R$ 545 milhões, enquanto o consórcio Etesco-Tulipa, segundo colocado, pediu R$ 579 milhões. Ambos estudam uma redução, mas, até agora, as negociações não avançaram.
Enquanto isso, o canal de navegação continua a sofrer assoreamento, principalmente nos berços de atracação, com a queda de areia das margens, o que acaba por inutilizar o trabalho de dragagem anteriormente realizado. Portanto, se para contratar uma empresa pode-se demorar tanto, melhor seria que a Codesp dispusesse de uma draga para executar o trabalho. Pelo menos, seria um investimento, embora alto, que evitaria maiores despesas no futuro e excessiva demora à época das licitações.
Até porque, como mostra a experiência de portos internacionais mais organizados, o trabalho de dragagem só tem sentido e validade se for acompanhado por serviços permanentes de manutenção. Do contrário, será atirar recursos públicos pela janela. E, no caso, muitos recursos.
De acordo com o edital de licitação, o canal de navegação e as bacias de evolução, ou seja, as áreas em que os navios fazem as manobras, terão de ficar com profundidade de 15,4 a 15,7 metros, enquanto os pontos de atracação podem ter de 7,6 a 15,7 metros, dependendo do local. Como se vê, com a dragagem, o Porto ficará à altura para receber os supernavios Post-Panamax, que exigem calado mínimo de 15 metros.
Levando-se em conta essas dificuldades, está mais do que na hora de as autoridades federais estudarem a instalação de uma plataforma para o Porto de Santos em águas profundas (off shore), o que eliminaria muitas despesas com desassoreamento. É de lembrar que o canal do estuário de Santos recebe constantemente águas com lama e sedimentos dos rios da região, o que reduz a profundidade e a possibilidade de navegação de embarcações carregadas em sua total capacidade.
Em outras palavras: com a perda de profundidade do canal, os navios não podem entrar ou deixar o cais com sua capacidade máxima de carga, o que significa prejuízos não só para os armadores como para importadores/exportadores, pois o custo do transporte aumenta, prejudicando a competitividade do porto e encarecendo os produtos. No final, quem paga é o bolso do consumidor.
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(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br