Vem justamente da Polônia, o país mais católico da Europa, o filme capaz de fazer escândalo por mostrar a homossexualidade dentro da Igreja católica, utilizando a história de um padre do interior. A corajosa realizadora, Malgoska Szumowska, conta ter-se inspirado de uma notícia publicada, há três anos, num jornal, contando o assassinato de um padre por um jovem.
Rui Martins, de Berlim
Seu filme, explica ela, quer mostrar a solidão do padre e sua dificuldade em partilhar e mostrar o amor, esse instinto tão forte nos seres humanos. « Falei com diversos padres - diz ela - antes de escrever o roteiro do filme, e todos me confirmaram essa realidade ».
Porém a cineasta polonesa não queria fazer um filme sobre o celibato, mas sobre a homossexualidade dentro da igreja, mesmo porque, diz ela, as famílias pobres do interior da Polônia enviam seus filhos ao seminário, onde podem fazer seus estudos, ter uma vida garantida e desfrutar mesmo de uma posição social local. Muitos jovens, diz ela, descobrem sua tendência no seminário.
«Talvez meu filme provoque reações e seja considerado contrário à Igreja, mas minha intenção não era de fazer um filme ideológico e anticlerical. Entretanto, é de atualidade se tratar da homossexualismo dentro da Igreja polonesa », explica Malgoska, que faz questão de acentuar que não se confundir pedofilia com homossexualismo.
O filme conta a história de um padre da província polonesa, Adam, encarregado de um centro de jovens e adolescentes violentos e alguns deficientes. É ali que Adam sente uma atração por um dos jovens, à qual cede no final.
Sobre o financiamento do filme, Malgoska conta ter recebido o apoio do órgão polonês de cinema, « afinal a Polônia é hoje uma país democrático, afirma, embora sua experiência ainda seja recente, pouco mais de vinte anos. Talvez tivesse problemas se eu tivesse recorrido ao financiamento privado », diz ela.
O lugar escolhido por Malgoska para filmar, foi o mesmo onde costumava passar as férias, tendo contato com a colaboração dos habitantes e dos jovens, que participaram como atores amadores.
Para ela, embora afirme não querer participar de um debate, a Igreja polonesa, intolerante, insiste em ficar fora da sociedade moderna. « Não tenho receio das reações da Igreja e do público conservador e imagino mesmo o tratamento político que será dado ao filme », conclui.