Aproximadamente 12 mil crianças desfrutaram de um dos projetos reconhecidos pela Unesco, numa comunidade de alto valor patrimonial
Yenia Silva Correa/Granma
Quando lhes perguntam o que querem ser quando sejam mais velhas o alvoroço é imediato. Jonathan admite, corando, que quer ser motorista de ônibus, Jorge Ignacio, engenheiro; María Carla, professora de balé; Carlos Manuel, astronauta; Abraham, chefe de cozinha...
Apenas ultrapassam os nove anos, estudam na quarta série, na Escola Simón Rodríguez e numa sala de aulas, acondicionada especialmente para elas, na biblioteca Rubén Martínez Villena, no centro histórico da antiga Havana, se preparam para atingir seus sonhos.
A poucos passos de distância, um grupo de crianças da sexta série, do ensino fundamental, se reúne com sua professora, na Casa dos Árabes. Andy, aluno da escola primária Carlos Manuel de Céspedes, quebra o gelo com uma confissão própria de seus anos: "Aprendi muitas coisas".
A diferença das primeiras, estas crianças repetem a experiência de serem instruídas numa sala de aulas-museu, do Gabinete do Historiador da Cidade, pois no ano letivo anterior receberam aulas no Convento de Belém.
Com um discurso muito mais fluente os professores elogiam os benefícios deste programa. O professor Aniel Rosell Pérez trabalha, pela terceira vez, no projeto e assinala as atividades com a família e a comunidade, derivadas deste contato entre crianças e museus.
"Aqui na biblioteca temos oficinas com os pioneiros durante todo o curso e as experiências são melhores porque, à medida que avança o projeto, as crianças estão mais ligadas a outros museus da localidade", enfatiza o jovem docente.
Mercedes Guilló, por seu lado, lembra sua experiência na sala de aula-museu da Casa Humbolt e as habilidades que desenvolveram seus alunos, ao entrarem em contato com a instituição.
DA NECESSIDADE À CRIATIVIDADE
O projeto Salas de Aulas-Museus - um dos tantos que compreende o programa social infantil do Gabinete do Historiador da Cidade - surgiu em 1995, para dar resposta à situação criada durante a restauração da Praça Velha.
"O ruído - refere a chefa do Departamento de Pesquisa Sociocultural e Programas Educativos, Aliec Vega - impedia desenvolver adequadamente o processo docente educativo na escola primária Ángela Landa. Perante uma exigência da comunidade, o historiador da Cidade decidiu incorporar os escolares às instituições culturais do centro histórico".
O que naquele momento se apresentou como uma alternativa nova e criativa se estendeu ininterruptamente a diversos centros, durante estes 17 anos, período em que conseguiu "ajustar-se às necessidades dum contexto, procurando respostas a cada momento, com a intenção de vincular a comunidade, que é o objetivo mais importante", sustenta Vega Montero.
Atualmente, na Havana Velha, funcionam oito salas de aulas-museus, cada uma delas relacionada com uma escola primária da localidade. As instituições que as albergam são: a Casa do México, a biblioteca Rubén Martínez Villena, a Casa da África, o jardim ecológico Hans Christian Andersen, a casa onde nasceu José Martí, a Casa dos Árabes, a Casa Oswaldo Guayasamín e a Vitrina de Valônia.
As atividades realizadas nestes centros com os alunos são múltiplas e variadas. A especialista do programa social infantil, Ingrid Fernández Pérez, destaca a Festa do Livro Infantil, a Hora do Conto, os encontros de dança e teatro para crianças, o espaço semanal na emissora Havana Rádio, os concursos e workshops.
A Direção de Gestão Cultural do Gabinete do Historiador e a Direção Municipal de Educação (DME) são as responsáveis por realizar as coordenações, para escolher as escolas e os grupos que assistem às salas de aulas-museus.
"A partir das necessidades da DME avalia-se a qual escola interessa beneficiar - talvez por trabalhos de reparação - e que nós possamos apoiá-la. Por outro lado, o projeto serve de estímulo a determinado grupo, porque ficou demonstrado que influi positivamente nos indicadores do processo docente educativo, as crianças se desenvolvem e é importante que assistam ao projeto", acrescenta Ailec Vega.
No presente ano letivo aproximadamente 165 alunos de escolas da Havana Velha fazem parte da iniciativa. Seu estágio nas salas de aulas-museus compreende o período do ano letivo, embora se possa prolongar para dois.
Durante o horário da manhã recebem as aulas do currículo escolar e na tarde há atividades desenhadas pelos especialistas do museu, como parte do programa de educação patrimonial.
O RECONHECIMENTO AO EMPENHO
O conhecimento adquirido, desde o surgimento das salas de aulas-museus até agora, não só serviu para validar o trabalho dos especialistas e instituições envolvidas, mas também para estender esta prática a outros territórios do país.
"A partir da experiência do projeto Salas de Aulas-Museus, que em seus inícios foi monitorado por especialistas da DME - assinala a chefa do Departamento de Pesquisa Sociocultural e Programas Educativos - decidiu-se estendê-lo a outras províncias e hoje existe em Santa Clara, Santiago de Cuba, Trinidad e noutros municípios de Havana".
Na Havana Velha aproximadamente 12 mil estudantes participaram deste projeto. Isto permitiu que não poucas crianças da década de 1990 sejam atualmente pais dos alunos que hoje recebem aulas nas salas de aulas-museus.
Nos anos 2001 e 2002, respectivamente, o Projeto Salas de Aulas-Museus mereceu o reconhecimento outorgado no Terceiro Concurso Internacional Somos Patrimônio, do Convênio Andrés Bello e o prêmio internacional Pilar pela Paz, conferido pela Unesco.
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