Locarno: Piazza grande vibra contra o ditador Pinochet

Imagine mais de 8 mil pessoas aplaudindo o filme Não (No),do chileno Pablo Larrain, contando a campanha, em 1988, do referendo contra o ditador Pinochet. Essa é a força do Festival de Locarno, que não tem medo de assumir uma postura de engajamento ao projetar no telão de quase 300 metros quadrados, o desejo de liberdade do povo chileno, depois dos 15 anos da ditadura do golpista Augusto Pinochet.

E ao se ver a campanha publicitária de René Saavedra, vivido pelo ator Gael Garcia Bernal, projetada no telão e soando em alto volume pela praça, pode-se reviver a vitória do Nãochileno à ditadura, há 24 anos, como se estivéssemos lá nas ruas de Santiago, cantando com o povo o jingle Chile, Chile...,que votara com maioria absoluta- Ditadura Não Mais, o sinal matemático do « mais » foi o que o povo traçou nas cédulas do referendo.

Em outras palavras, a campanha do Nãono Chile foi uma versão por voto popular bem sucedida, parecida com a campanha brasileira pelas Diretas Já, que não deu certo por ter dependido do legislativo. René Saavedra lembra o publicitário Carlito Maia, que lutou contra a ditadura e bolou uma campanha publicitária, nas eleições presidenciais brasileiras com o jingle Lula Lá.

O filme chileno de Pablo Larraín já tinha sido exibido no Festival de Cannes e nele o ator principal é Gael Garcia Bernal, que não deixa dúvidas quanto às suas convições políticas de esquerda, desde sua participação no filme Walter Salles, vivendo a figura mítica do Che Guevara.

O publicitário René Saavedra, embora filho de exilado de retorno ao Chile, não mostrava nenhum engajamento político, até decidir se encarregar da campanha publicitária do Não a Pinochet. E seu engajamento contra Pinochet foi em favor da democracia, de uma país com liberdade de expressão, não em favor de uma das 13 fações políticas de esquerda de oposição ao ditador.

 

O diretor Pablo Larraín considera Saavedra como um realista, consciente de que a ditadura era um entrave mesmo para a modernização econômica do país. E com sua cultura de publicitário atualizado, Saavedra encontrou no próprio liberalismo chileno de Pinochet, o antídoto para a manutenção do ditador no poder.

 

A força de persuasão de uma campanha publicitária pela televisão pode levar a outras comparações com o Brasil, onde é sabido a grande imprensa e tevê Globo manipulam a opinião pública e, no retorno das eleições presidenciais criaram uma imagem positiva para o caçador de marajás Fernando Collor e lhe deram a vitória para a presidência.

 

Ou seja, se no Chile a publicidade contribuiu para o fim da ditadura, no Brasil, o sistema Globo evitou a campanha das Diretas Jáe assegurou uma transição sem mudança de políticos, na fase terminal da ditadura militar brasileira. O quadro do monopólio da informação televisiva está, atualmente, sendo modificado com a criação da TV Brasil e com o crescimento de outros canais.

 

Rui Martins


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Pravda.Ru Jornal