Entre anjos e demônios
Clóvis Campêlo
Que cada um cuide bem dos seus demônios.
Eu também tenho os meus e os trato a pão-de-ló.
São eles que me ressuscitam para vida quando me sinto sufocado e anestesiado pelos sons celestiais dos anjos que se vendem a prestação em cada esquina da cidade.
Que cada um cuide bem dos seus demônios.
Aproveitem enquanto ainda estão marginalizados e não se tornaram produtos rentáveis explorados pela sociedade de consumo.
Que cada um cuide bem dos seus demônios, pois sem eles seríamos metade, incompletos e não beberíamos na fonte rejuvenescedora da maldade.
Que cada um cuide bem dos seus demônios, explorem a sua pemissividade, a sua falta de pudor, de ética, de moral, pois sem eles jamais saberíamos os limites entre o certo e o errado.
Que cada um cuide bem dos seus demônios, pois sem eles morreríamos de tédio, esqueceríamos os prazeres mundanos, desconheceríamos o lado impuro e podre de cada um de nós.
Recife, 2009