"Down: A síndrome da essência da vida"
por Sergio Prata
"A poesia é tão sublime...é como o amor! Não tem hora, não tem lugar." (ROMEU NETO: portador da síndrome de Down - Poeta e Escritor)
Em família se sofria calado! As mocinhas jamais poderiam comentar tal abjeto para não ocorrer a fuga dos pretendentes, e assim seguia a vida, sorrateiramente sórdida, de discriminação vil como mecanismo de exclusão social, de uma sociedade injusta, inglória e ingrata, que sempre negou valores aos bons que não estivessem no topo ou em plena ascensão social, até chegar ao caos total da rejeição social pós traumática ou neurológica, onde os sãos rejeitavam seus deficientes e doentes com diabetes, Parkinson e etc..., pura ignorância.
Eis que é chegado o tempo da razão, com os sãos reverenciando aleijados, cegos, surdos, os diabéticos, os portadores do mal de Parkinson e até mesmo doentes mentais por intermédio das artes manifestas. Diferenças à parte, a mídia em todos os seus formatos, eventualmente tem nos presenteado com ações de responsabilidade social, na integração socialização e/ou ressocialização dos deficientes e dos diferentes ao que se julga ser normal.
O rompimento de tais barreiras, principalmente sob o véu imediatista das respostas em função das imagens televisivas da naturalidade de convívio dos personagens que invadem as nossas casas, foi e ainda é circunstancial para a integração e/ou reintegração dessa parcela da população, em especial com os portadores da síndrome de Down, uma convivência benéfica e salutar para todos nós, mas ainda há muita desinformação e equívocos.
Contrariando em parte o poeta CAZUZA, em O TEMPO NÃO PARA, uma de suas obras irretocáveis, NÃO VEJO O FUTURO REPETIR O PASSADO. Vejo sim, o futuro seguir seu rumo em direção a verdade, ao justo e ao perfeito. Um futuro que começou lá atrás, de inicio acanhado e ousado, com os pais dos especiais assumindo as paternidades perante uma sociedade hipócrita e segregacional, que a todo o momento vilipendiava e que alguns imbecís ainda vilipendiam o sagrado templo da inocência.
Um templo de sorriso frouxo que até mesmo na negativa se expõe, que pela inocência nega para si compreender o significado do não e do impossível, incorporado pelos seus responsáveis na ousada tarefa de impor a socialização dos seus a qualquer custo, sem se fazer valer da máxima da piedade do esmoler, porque o especial não é um miserável e não vive em estado de mendicância. O especial produz luz, amor e paz interior!
Falei da luz? Eu vi a luz! Vi a luz no seu formato singular refletida na mão de um especial. Vi a luz dos anjos, na inocência eterna do ser, aquele que não guarda mágoas, rancores ou ódio em seu coração. Vi a luz espargir em cores vivas, nos traços disformes e transcendentais do lápis de cor tingindo o papel branco. Vi a luz falar de boca cheia. Vi a luz no beijo molhado em meu rosto, no abraço apertado, ao meu gosto, no grito alucinado que saiu do nada e por fim, eu vi, vi que a luz cingiu meu ser.
E este de D'us era o plano... eu vi a luz, quando daquela boca inocente explodiram as palavras EU TE AMO!