Imagine encontrar uma pequena orquídea em um galho de árvore na floresta. Ela parece familiar, mas algo nela é diferente. Poderia ser uma nova espécie, ainda não descrita pela ciência? Como descobrir?
É permitido levar para casa uma planta rara? Sim, se você é um botânico com permissão para coleta e "casa" significa um herbário.
Foi exatamente isso que fez a Dra. Heidi Zimmer, pesquisadora de orquídeas no Herbário Nacional da Austrália (ANH). Durante uma expedição ao Parque Nacional de Norfolk Island, ela e o colega botânico Dr. Mark Clements, com o apoio da equipe local, identificaram uma pequena orquídea crescendo em um galho. A planta foi enviada ao ANH para estudos posteriores.
A orquídea encontrada foi rapidamente reconhecida como pertencente ao gênero Adelopetalum. No entanto, os cientistas precisavam determinar se era uma espécie já conhecida ou completamente nova. Para isso, Zimmer e Clements se juntaram a outros pesquisadores, incluindo o botânico aposentado David Jones, que anteriormente trabalhou no ANH.
"Este foi um projeto incrivelmente colaborativo, envolvendo cientistas de Lord Howe Island, Norfolk Island e especialistas em taxonomia da Austrália," disse Zimmer.
Suspeitar que uma planta é uma nova espécie é apenas o começo de um longo processo. A equipe comparou a orquídea de Norfolk Island com:
Hoje, muitos herbários estão digitalizando suas coleções, tornando fotos disponíveis online, o que facilita a pesquisa.
Os estudos revelaram que a orquídea conhecida como Adelopetalum argyropus não era uma única espécie, mas sim três espécies distintas distribuídas entre Norfolk Island, Lord Howe Island e a Austrália continental.
"Descobrimos que a espécie de Norfolk Island era diferente porque sua flor não tinha o labelo amarelo — aquela grande 'língua' brilhante," explicou Zimmer.
Quando três espécies diferentes foram identificadas, foi necessário decidir qual delas manteria o nome Adelopetalum argyropus.
De acordo com as regras da taxonomia, o nome fica com a espécie descrita primeiro. Nesse caso, a orquídea de Norfolk Island, mencionada pela primeira vez em 1833, manteve o nome. As outras duas espécies foram nomeadas A. howense (para Lord Howe Island) e A. continentale (para a Austrália continental).
"É lógico que essas espécies se separaram, já que elas não podem cruzar facilmente," acrescentou Zimmer. Provavelmente, as sementes microscópicas e leves das orquídeas foram espalhadas pelo vento.
Nomear uma nova espécie é apenas parte do processo. Os cientistas precisam publicar um artigo em uma revista revisada por pares, detalhando as características botânicas da espécie. Isso inclui fotografias, ilustrações científicas, imagens de microscopia e resultados de DNA.
Na descrição da orquídea de Norfolk Island, publicada em Phytotaxa, consta que seus pseudobulbos são "oblongos a cônicos, medindo 5,0–10,0 × 4,0–6,0 mm, com margens levemente angulares e superfície estriada."
As orquídeas estão entre as famílias de plantas mais ameaçadas de extinção. Muitas espécies crescem em locais isolados ou têm populações muito pequenas.
"O objetivo de nomear e descrever novas espécies é criar um catálogo de orquídeas australianas para ajudar na sua conservação," afirmou Zimmer. As espécies de Norfolk e Lord Howe Island estão em risco devido ao seu habitat restrito, enquanto a da Austrália continental foi severamente afetada pelos incêndios florestais de 2019–2020.