Sobre os 70 anos da Revolução Chinesa
Por: Paulo Galvão Júnior & Rhianne Farias Barros
1. Considerações Iniciais
A China é um país milenar localizado na Ásia Oriental. Os antigos chineses inventaram a bússola, o carrinho de mão, a escova de dentes, os fogos de artifício, o garfo, o leme, o papel, o papel-moeda, a pipa, a pólvora, a porcelana, o sino e a seda. No século XIII, o jovem mercador e viajante veneziano Marco Polo conheceu, testemunhou e registrou no seu livro as riquezas da Rota da Seda, uma antiga rota comercial de caravanas que ligava as cidades chinesas de Xian, Chengdu, Lanzhou e Dunhuang até Veneza, na Europa Ocidental.
O presente artigo de economia internacional pretende analisar as grandes transformações sociais, econômicas, culturais e ambientais ocorridas na República Popular da China nas últimas sete décadas, a partir da Revolução Chinesa, liderada por Mao Tsé-tung. Por quase 27 anos consecutivos, de 01 de outubro de 1949 até a sua morte em 9 de setembro de 1976, o líder comunista Mao Tsé-tung mudou os rumos da China, ao buscar um crescimento social e econômico no modelo de uma economia socialista.
Nos dias atuais, a República Popular da China tem 1,4 bilhão de habitantes, é o país mais populoso do planeta. Há 70 anos, a China tinha uma população estimada em 500 milhões de habitantes, sendo que 87% da população vivia na área rural e apenas 13% viva na área urbana. Hoje, nas 22 províncias chinesas vivem 20% da população mundial, cujo idioma oficial é o mandarim.
A China é o terceiro país mais extenso do mundo, com aproximadamente 9,6 milhões de quilômetros quadrados, atrás apenas da Rússia e do Canadá. A China é um país de dimensões continentais, cuja capital é Beijing (conhecida no Brasil como Pequim) e a cidade mais populosa e mais rica é Shanghai (conhecida no Brasil como Xangai).
O principal ponto turístico chinês é a Muralha da China. A milenar Grande Muralha, uma das sete maravilhas do mundo moderno, com 8.850 km de extensão, foi testemunha da ascensão da China para uma superpotência econômica no planeta ao longo dos últimos 70 anos. A moeda chinesa é o yuan e as reservas internacionais já alcançaram mais de US$ 3 trilhões.
A China é a segunda maior economia do mundo desde 2010, atrás apenas dos Estados Unidos da América (EUA). Nos próximos oito anos, a China poderá conquistar o título de maior economia do planeta, com o Produto Interno Bruto (PIB) nominal maior do que o PIB nominal dos EUA. A China é a nova Fábrica do Mundo e caminha para o seu apogeu como maior superpotência econômica, um país de renda alta, então, surge uma questão muito importante: Qual é o futuro da economia socialista de mercado na China?
A China enfrenta sérios movimentos separatistas no Tibete, Xinjiang (uigures), Macau e Hong Kong. A ilha de Hong Kong é uma ex-colônia britânica e Região Administrativa Especial da China desde 1 de julho de 1997. Em 2014, os estudantes lideraram o Movimento dos Guarda-Chuvas nas ruas de Hong Kong por eleições diretas, mas contra a decisão de que os candidatos precisam antes ser aprovados pelas autoridades chinesas. Nos dias atuais, os estudantes protestam contra a extradição de moradores de Hong Kong para a China continental, enfrentam a polícia por democracia e gritaram nas ruas e até no aeroporto internacional: "Free Hong Kong".
Este artigo é composto por oito seções distintas, com vários cortes cronológicos. A primeira seção aborda as considerações iniciais sobre a China. A segunda seção trata sobre os antecedentes da Revolução Chinesa. A terceira seção revela a Revolução Chinesa de 1949. A quarta seção retrata a China comunista entre 1949 e 1976. A quinta seção mostra a China moderna entre 1976 e 2019. A sexta seção analisa a guerra comercial entre os EUA e a China. A sétima seção aborda os novos rumos da economia chinesa. E a última e oitava seção são as considerações finais.
2. Antecedentes
Os principais antecedentes da Revolução Chinesa são essenciais para entender o rumo da China. No século XIX, a China era um dos países mais fechados do mundo, pois em sua cultura predominava um ideal filosófico chamado de confucionismo. A filosofia de Confúcio pregava que a China era o "centro do mundo", seu imperador tinha um "mandato celestial", logo, no "império do meio" não haveria conveniência para qualquer tipo de oposição. Segundo o filósofo chinês Confúcio (551 a.C.-479 a.C.), "Onde quer que você vá, vá com todo o coração", "Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo" e "Primeiro torne o povo rico. Depois, educado. Isso é essencial para governar um Estado". Esse ideal de sociedade norteou por séculos a visão de mundo dos chineses, que até hoje retificam isso de forma mais sutil.
Em 1839, a China ordena a destruição de um carregamento de ópio que viria da Inglaterra. O governo britânico, em resposta, considerando o ataque um vilipêndio aos seus interesses comerciais decide bombardear Cantão (hoje, Guangzhou) e realizar invasão armada à China. A Inglaterra vence a China em 1842 na Primeira Guerra do Ópio (1839-1842) com os seus navios de guerra repletos de canhões e domina o solo chinês. Surge então, no mesmo ano, o Tratado de Nanquim, documento pelo qual a paz foi estabelecida entre o Império Britânico e a Dinastia Qing (1644-1912) e versava sobre a conquista do Reino Unido de comercializar livremente em cinco portos chineses: Cantão, Amoy, Foochow, Ningpo e Shanghai; do mesmo modo, lograram o domínio sobre a ilha de Hong Kong, na foz do rio das Pérolas.
Na segunda metade do século XIX, o mundo passava pelo início da Segunda Revolução Industrial. Entre 1850 e 1870, esse movimento de industrialização cresceu muito no mundo e a China por ser um país muito populoso, rural e repleto de riquezas naturais, se transformou em um território desejado dos países imperialistas europeus como o Reino Unido e a França e também do Japão. A principal demonstração dessa tentativa foi a Segunda Guerra do Ópio (1856-1860). O Reino Unido ávido por mercados consumidores, exportou seus produtos industrializados e sofrendo com o protecionismo chinês, começou a exportar, de forma ilegal, o ópio para a China.
A China sentiu esse impacto de forma muito significativa, principalmente pelo fato de ter uma visão de mundo tão centralista. A posteriori, esse sentimento será materializado nos levantes populares contra a Dinastia Qing. Em 1905, um médico chamado Sun Yat-sen, funda um partido político de cunho nacionalista e burguês denominado de Kuomintang, que seria contra a Dinastia Qing e para fazer oposição aos desmandos imperialistas que estavam acontecendo. E assim se inicia a primeira fase da Revolução Xinhai em 1911, derrubando a dinastia em 1912 e instalando a República da China, mas de forma provisória. Entre 1912 e 1927, o líder Sun Yat-sen sofre com vários motins, como por exemplos, tentativas de golpes militares, tentativa de restauração da monarquia, separatismo nas diferentes províncias chinesas que eram estimuladas pelos senhores da guerra e a continuidade do domínio estrangeiro sobre a China.
A China imperial com seu poder milenar irá chegar ao seu fim. O último imperador chinês da Dinastia Qing será expulso das muralhas da Cidade Proibida, que foi construída durante a Dinastia Ming. O imperador Pu-Yi abdicou forçadamente do trono em 1912 e os seus palácios imperiais foram invadidos por tropas do exército republicano. A China Republicana surge em 1912 com a liderança do Kuomintang (leia-se também Partido Nacionalista). Segundo o historiador Eric Hobsbawm (1995, p.76), "(...) o Kuomintang, então o partido de libertação nacional, cujo líder Sun Yat-sem (1886-1925) acolheu igualmente o modelo soviético, a assistência médica e o novo Partido Comunista como parte de seu movimento".
Esse período de instabilidade, a partir de 1917, com a Revolução Russa e o marxismo, o movimento socialista ganhou força dentro do território chinês. Muitos professores e estudantes universitários estavam lendo na íntegra a obra-prima do economista alemão Karl Marx, O Capital, de 1867. Em julho de 1921 foi fundado o Partido Comunista Chinês (PCC). Inicialmente fundado com 57 membros, dentre eles estava Mao Tsé-tung. No período de 1923 a 1927, a luta contra os senhores da guerra, autoridades militares que tinham forte influência em sua província, estava estabelecida e o PCC estava submetido ao Kuomintang por uma ordem expressa do próprio Stalin. O líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) ordenou que o PCC se aliasse ao Partido Nacionalista nessa luta contra os senhores da guerra, pois Stalin afirmava que o comunismo na China ainda não estava pronto para realizar a revolução do proletariado, mesmo com a queda do império milenar em 1911.
Em 12 de março de 1925, Sun Yat-sen, o primeiro presidente e fundador da República da China, morre aos 58 anos e quem toma seu lugar na liderança é Chiang Kai-shek. O novo líder, por sua vez, tem como maior característica a repressão fervorosa aos comunistas que cresciam muito, principalmente no meio rural e fundam a célula do Exército Vermelho que é inspirado no exército soviético que carrega o mesmo nome. O PCC tinha dominado a cidade de Shanghai e em 1927 o Chiang Kai-shek, através do Kuomintang, promove um verdadeiro massacre, conhecido como Massacre de Shanghai vencendo os comunistas. À vista disso, e de várias outras derrotas sofridas pelo PCC nas cidades, o mesmo foge em outubro de 1934 a novembro de 1935, liderado pelo Mao Tsé-tung, forçando a conhecida Longa Marcha, onde 100.000 membros do PCC percorrem mais de 9.600 km pelo interior da China em busca de apoio dos camponeses em grandes latifúndios.
A guerra civil entre o Partido Nacionalista e o PCC foi interrompida pela invasão que a China sofreu pelo Japão em 1937, conhecida como a Segunda Guerra Sino-Japonesa. Japão invade a China e bombardeia suas cidades milenares. Os EUA colabora com a China nessa proteção, já que estava ocorrendo a Segunda Guerra Mundial e o Japão era um grande rival na Ásia. A Segunda Guerra Mundial terminaria em 1945, após o lançamento de duas bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e de Nagasaki por aviões bombardeios dos EUA. É importante ressaltar que antes da Segunda Guerra Mundial, o Japão estava dominando vários territórios na Ásia, inclusive um território chinês, a Manchúria. Como essa invasão é uma ameaça tanto ao PCC quanto ao Partido Nacionalista, então eles decidem dar uma trégua, um cessar-fogo e juntos lutarem contra a invasão japonesa. Depois que os japoneses foram derrotados em 1945, Chiang Kai-shek e Mao Tsé-tung retornaram a sua antiga rivalidade numa nova guerra civil.
3. A Revolução Chinesa de 1949
Desde o início da luta por uma China comunista, com armas, munições e suprimentos apoiados pela URSS, os comunistas chineses expulsaram os japoneses e, em seguida, derrotaram os nacionalistas apoiados pelos EUA no continental território chinês.
A arma mais terrível de Mao era a impiedade. Em 1948, quando avançou sobre Changchun, na Manchúria, e um ataque direto não conseguiu tomá-la, foi dada uma ordem para obrigá-la a render-se pela fome. As palavras exatas usadas pelo comandante de Mao no local, Lin Biao, foram: "Façam de Changchun uma cidade de morte. O general Cheng Tung-kuo, que comandava a defesa da cidade, era um herói da guerra contra o Japão e se recusou a capitular. Como só havia alimentos suficientes para os 500 mil civis até o fim de julho, ele tentou evacuá-los" (Jung Chang, 2006, p.180).
A Revolução Chinesa de 1949 possibilitou uma China sem nenhuma intervenção estrangeira em seu vasto território, e sobretudo, uma China comunista, onde ocorre a distribuição de bens igualitariamente entre toda a sociedade chinesa.
A Revolução Chinesa de 1949 difundiu o pensamento marxista entre os camponeses e os operários chineses, entre os professores e estudantes do campo e da cidade. Para Karl Marx (2016, p.84), "A riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se em imensa acumulação de mercadorias".
Em 1949, cinco anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os chineses do PCC liderados por Mao Tsé-tung derrotaram os chineses do Partido Nacionalista liderados pelo general Chiang Kai-shek. Nesse final de guerra civil, muitos soldados do Kuomintang foram mortos e as lideranças fugiram para a província de Taiwan em 1950.
O PCC consegue alcançar sua vitória sobre o Partido Nacionalista e os comunistas conseguem chegar ao poder depois da Segunda Guerra Mundial. Inicia-se então o governo comunista de Mao Tsé-tung, que proclamou em Beijing, a República Popular da China, em 1 de outubro de 1949.
A República Popular da China recebeu como herança uma economia atrasada, cujo crescimento econômico foi freado pela dominação dos países imperialistas e pelos reacionários traidores dos interesses nacionais, que enriqueceram à custa da miséria do povo chinês. A República Popular da China liquidou com todos os vestígios feudais e antes de tudo levou a cabo a reforma agrária, com a entrega das terras improdutivas e produtivas dos latifundiários aos camponeses. A República Popular da China desenvolveu a indústria nacional, principalmente toda a indústria que se encontrava nas mãos dos capitalistas nacionais e estrangeiros passou para as mãos do Estado.
Mao Tsé-tung, o "Grande Timoneiro", tinha como objetivo alavancar a China em suas ideias comunistas, porém mantendo a soberania nacional e dessa forma a Revolução Chinesa ficou tão conhecida no planeta, pois teve momentos de enormes tragédias e marcou o mundo com demonstrações de investidas de vitória a qualquer custo, exemplo disso foi o Grande Salto a Frente que ficou grifado como um plano extremamente falho e que falsificava números de produção agrícola e industrial, devido as secas e as enchentes, além de pragas.
4. A China comunista entre 1949 e 1976
Mao Tsé-tung, após a Guerra da Coreia (1950-1953), onde a China apoiou fortemente a Coreia do Norte, reinicia seu governo estabelecendo as mudanças econômicas no país, uma das primeiras delas foi o Primeiro Plano Quinquenal (1953-1958). A ideia de Mao Tsé-tung era implantar suas ideias comunistas de igualdade social para o campesinato, principalmente para torná-los fortes e influentes.
Iniciou, então uma reforma agrária, a coletivização das terras, ou seja, ele fez a distribuição das terras. Diferentemente do comunismo na URSS, no Kremlin, Mao Tsé-tung observava que a noção de revolução a partir do proletariado urbano não se encaixaria na China, uma vez que os trabalhadores urbanos chineses era uma minoria, enquanto os camponeses eram a maioria da população pobre, ele acreditava que essa revolução aconteceria a partir do campesinato; diferentemente da ideia de revolução soviética, que acreditava que obrigatoriamente deveria acontecer a partir dos conselhos de trabalhadores urbanos.
Em 05 de março de 1953, ocorre a morte de Stalin, aos 74 anos, o que torna a relação da China e na URSS muito difícil, em plena Guerra Fria, pois o sucessor de Stalin foi Nikita Khrushchev, que demostraria ter ideias reformistas aceitando a coexistência pacífica com os EUA e selando interferências capitalistas. Então ocorre o rompimento de duas grandes potências socialistas. Mao estava concentrando suas forças em reprimir críticas após a Campanha das Cem Flores de abril a junho de 1957. Com o sucesso do Primeiro Plano Quinquenal, Mao Tsé-tung estabelece o chamado Grande Salto para Frente (1958-1962) ou o Segundo Plano Quinquenal. A ideia era fazer a China industrializada, enviando até pessoas de lugares com alta produção para lugares de baixa produção, para que todas as terras estivessem sendo rentáveis para o país; instalaram equipamentos indústrias em áreas rurais para que a produção agrícola e industrial estivesse aproximada ao máximo e fosse colocado o fim a divisão do campo e da cidade que o capitalismo havia instituído. O objetivo era alcançar e ultrapassar o Reino Unido em menos de 15 anos. Mao Tsé-tung, que agora se via sozinho sem o apoio financeiro da URSS, queria transformar a China em um país forte na industrialização. As indústrias siderúrgicas explodiram no país e os metais, principalmente, o aço, se tornaram íntimo dos trabalhadores, em sua maioria analfabetos.
Surgiu então na Conferência de Chengdu em 1958, as grandes cooperativas, lugares que abrigariam mais de 5 mil famílias, que recebiam ferramentais, mas eram obrigadas a cumprir metas. Os homens foram obrigados a trabalhar em outras terras, principalmente na parte industrial, e suas mulheres foram coagidas a intensificar o trabalho agrícola fora de seus lares. Então surgiram, além do grande número de trabalho agrícola, tentativas de empreendimento industrial, e a formação de milícias.
Na tentativa exaltante de mostrar para o mundo a força da produção industrial e agrícola da China, o governo de Mao, altera números, fatos e manipula situações para corroborar com essas mentiras de produção; como por exemplo, em 1958, de 375 milhões de toneladas de grãos anunciados, seria analisado e reduzido para 250 milhões de toneladas. Nenhum funcionário teria coragem de contestar os números; alguns até foram mandados para a "reeducação pelo trabalho" e chamados de direitistas ou traidores. Sem nenhum estudo técnico realizado, sem organização, com muitos e eficientes concorrentes e sem nenhuma experiência, porém com muita ambição de crescimento, a produção industrial e agrícola iniciou uma queda desenfreada e surgiu, o que chamamos até hoje, de A Grande Fome. Os trabalhadores rurais se concentraram na industrialização, se fecharam em fornos de aço, e obras de manutenção de água e deixaram a produção agrícola em segundo lugar.
Em 1960, a quantidade média de grãos por pessoa estava diminuindo consideravelmente, em certas províncias, já estava inexistente, e até 1962 já haviam morrido mais de 20 milhões de pessoas, principalmente idosos e crianças menores de 10 anos de idade. Para alimentar os moradores das Comunas Populares, administradas em fazendas coletivas, os quadros do PCC procuravam grãos que poderiam ter sido escondidos por trabalhões rurais, porém mais de 10 mil pessoas foram presas e destas mais de 700 morreram de fome nas casas de detenção. O caos social se instalou. Rebeldes saqueavam armazéns, trabalhadores mendigavam pelas ruas e esposas eram vendidas por comida. Em Beijing, a fome fez com que a morte subisse de 320.000 em 1957 para 790.000 em 1960 e em solidariedade, Mao retirou carne de sua refeição por sete meses.
A primeira bomba atômica chinesa foi testada em 1964. Em meados de 1966, se inicia a Revolução Cultural, um acontecimento histórico na China, incentivado por Mao e que trouxe uma das fases mais sangrentas dessa época. A China começa a perceber o crescimento do intelectualismo burguês e o revisionismo em suas províncias, principalmente depois do fim da aliança entre a China e a União Soviética e foi nessa época que ele convidou a ser levantado a bandeira da Revolução Cultural do proletariado chinês. A primeira medida foi pedir que houvesse uma exposição e expulsão de pessoas do PCC com ideias reformistas. Mao tinha quatro objetivos: corrigir o rumo das políticas do PCC; substituir seus sucessores por líderes mais afinados com o que pensava; assegurar uma experiência revolucionária à juventude chinesa; e tornar menos elitistas os sistemas educacional, cultural e de saúde. E a História nos mostra que o "Grande Timoneiro" não mediu esforços para planificar a economia chinesa, ou seja, numa economia centralmente controlada e estatalmente planejada.
Mao Tsé-tung começa a fazer uma campanha entre os trabalhadores e, principalmente, os estudantes. Esses jovens que tiveram suas escolas e universidades fechadas, eram estimulados a participarem dos Comitês Revolucionários, e formou-se então os Guardas Vermelhos, que eram unidades paramilitares que detinham 11 milhões de estudantes, esses tinham em suas mãos um livro revolucionário de Mao Tsé-tung, Livro Vermelho, livro que pregava o fim das influências externas do capitalismo, orientava os estudantes a serem delatores de todos que tinham pensamentos reformistas, os principais perseguidos eram os professores, os jornalistas e os intelectuais que tinham seus nomes expostos e eram mortos ou torturados, além de obras literárias ou qualquer outro elemento que poderia ser considerado reformista era destruído. Enfatizamos que as estatais chinesas imprimiram cerca de 6 bilhões de exemplares do Livro Vermelho de 1966 até 1976.
5. A China moderna entre 1976 e 2019
Em 9 de setembro de 1976, Mao Tsé-tung morre aos 82 anos e inicia-se uma luta interna entre o PCC e a esposa do Mao que comporia um grupo reacionário que fora chamado de o Bando dos Quatro (Zhang, Wang, Yao e Jiang Qing). Porém, apenas um ano depois, a ala reformista iria vencer e condenar dois do bando para a morte e outros dois, um deles a viúva de Mao, Jiang Qing para a prisão perpetua. No mesmo ano, Deng Xiaoping sair da prisão política e volta ao poder em Beijing com suas ideias reformistas.
Em 1979, Deng Xiaoping inicia um novo ciclo de reformas na economia socialista da China, fazendo com passasse a ser uma economia socialista de mercado. A China era 120ª economia do mundo e Deng Xiaoping iniciou a reforma econômica, abrindo a China ao investimento de países estrangeiros, incentivando o capital privado e realocando a economia às exportações. Iniciou-se uma forte relação comercial e diplomática entre a China e os EUA, sendo os primeiros passos foram dados pelo Henry Kissinger, Secretário de Estado dos presidentes americanos Richard Nixon e Gerald Ford. Henry Kissinger (2012, p.7) no Prefácio do seu best-seller Sobre a China enfatizou que no ano de 1971: "Desde minha primeira visita, a China se tornou uma superpotência econômica e um agente fundamental na formação da ordem política global. Os Estados Unidos saíram vitoriosos da Guerra Fria. A relação entre China e Estados Unidos tornou-se um elemento central na busca pela paz mundial e pelo bem-estar global". Em 1979, no governo do democrata Jimmy Carter começou oficialmente as relações diplomáticas e comerciais entre os EUA e a China. Em 1980, surgem as Zonas Econômicas Especiais (ZEE), nelas são permitidas a atividade de uma economia capitalista, e, sem dúvida, foram a melhor solução para a estagnação econômica que assolavam países socialistas na época e que os afastavam do crescimento econômico e foram executadas as regiões de acesso ao comércio exterior e também a entrada de multinacionais, porém deveriam respeitar as moderações impostas e que se associem ao Estado ou aos empresários chineses por meio de joint-ventures. Em geral, a parceria vai dar 50% do lucro ao Estado chinês. A primeira empresa estrangeira a ser inaugurada na China moderna foi a Coca-Cola em 1980.
Deng Xiaoping enfatizou: "Não importa a cor do gato, branco ou preto, o que importa é que ele cace os ratos", assim realizou o processo de Quatro Modernizações: 1. Defesa; 2. Tecnologia; 3. Agricultura; 4. Indústria. Na indústria foi muito importante o bom funcionamento das ZEE, que fossem bem localizadas, portanto, elas ficavam perto de litoral leste chinês e perto de outros centros econômicos, como por exemplos, Coreia do Sul, Japão, Singapura e Taiwan, além de os empreendedores terem vantagens como rendimentos livres de tributos, redução de impostos, apesar de o Estado chinês virar sócio, devido a mão de obra abundante e barata, eles teriam baixo custo, liberdade para remessa de lucro no exterior, construção em terreno público, acesso à matéria-prima barata, entre outros benefícios. Assim sendo, finalmente a China estava ligada com o resto do mundo.
Ressaltamos que Taiwan não é a República Popular da China, porque é conhecida mundialmente como República da China, para nós, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), chamamos de Formosa, desde 1590. A ilha de Taiwan tem 23,7 milhões de habitantes, um PIB de US$ 579,3 bilhões e é um dos principais exportadores da Ásia, um dos Tigres Asiáticos, cuja capital é Taipei e sua moeda é o novo dólar taiwanês.
Para China, a ilha de Taiwan é considerado uma província rebelde e não reconhece a independência política de Taiwan. A política de abertura da economia chinesa e a política de natalidade de filho único foram implementadas na China moderna nos anos 80. Ainda no governo de Deng Xiaoping houve a reaproximação entre a China e a URSS que, na época, estava sendo governada por Mikhail Gorbatchev, oitavo e último líder soviético. Em 2010, a China superou o Japão como maior segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA. Sua participação na economia mundial cresceu de 1,8% em 1978 para impressionantes 18,2% em 2017. Em 1979, a China abandonou a economia planificada, onde o Estado determina o tipo, a quantidade e o preço das mercadorias que serão produzidas em seu território, e entrou na economia de mercado, onde a lei da oferta e da demanda estabelece os produtos que serão produzidos e vendidos, mas regulado fortemente pelo Estado comunista, logo, chamado de economia socialista de mercado.
Outro grande responsável por esse salto econômico foi Xi Jinping, em 2012 foi eleito secretário-geral do PCC e em 2013 foi eleito presidente da China. Xi Jinping com seu espirito diplomático apurado e com seu "sonho chinês" de tática do "Renascimento Nacional", substituindo a "diplomacia discreta" de Deng Xiaoping, a China moderna adotou um comportamento bem mais ativo no mundo com sua política militar e de segurança internacional bem estabelecida.
Nas últimas quatro décadas, a China conseguiu retirar da pobreza absoluta 700 milhões de pessoas, com enormes investimentos em infraestrutura. É na China que se localiza o maior porto do mundo (Shanghai), o maior aeroporto do planeta (Beijing) e a maior usina hidrelétrica da Terra (Três Gargantas). É na China que se encontra também "a mais longa linha de trem-bala do mundo. Com quase 2,3 mil quilômetros de extensão, a rota liga Pequim à cidade de Cantão, também conhecida como Guangzhou, (...)" (Veja, 26 dez. 2012); o trem Maglev, o trem de levitação magnética mais veloz do planeta, com velocidade máxima de 600 km/h e velocidade de operação de 400 km/h e que liga em Shangai, do bairro de Pudong até o aeroporto principal da cidade, percorrendo 30 km em 7 minutos e 20 segundos; e "a mais alta ferrovia do mundo, que liga a cidade chinesa de Golmud, em Qin Ghai, até Lhasa, a capital tibetana. Inaugurada em 2006, a ferrovia possui pontos em que os trens circulam a 5 mil metros de altitude" (ALMANAQUE ABRIL, 2015, p.431).
Os rios Amarelo e Yangtzé são testemunhas do rumo da China, o maior produtor mundial de arroz, de trigo, de algodão e de chá e a maior aquicultura do planeta. Em 2015, o atual secretário-geral do PCC Xi Jinping mudou a política de natalidade para dois filhos na China, mas não mudou em relação aos rumos do Tibete, que luta pela sua independência política desde 1959. Em 2018, o atual presidente chinês Xi Jinping visitou as Três Gargantas no rio Yangtzé, que corta a China de Leste a Oeste, porém aumentou em 8,1% nos gastos militares, chegando aos atuais US$ 175,0 bilhões.
6. A Guerra Comercial entre os EUA e a China
A guerra comercial entre os EUA e a China começou em 01 de março de 2018. A guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta é uma guerra de tarifas de importação sobre produtos, iniciada pelo presidente americano Donald Trump, aplicando incialmente 25% de imposto de importação sobre US$ 250 bilhões em produtos chineses como aço, e em seguida, com uma resposta do presidente chinês Xi Jinping com novas tarifas de importação de produtos americanos como soja, laranja e carne bovina. O atual presidente dos EUA tem pressionado a OMC para punir a China por não cumprir suas regras comerciais e industriais e acusa a China de práticas injustas, de roubo de propriedade intelectual e transferências forçadas de tecnologia.
A China cresceu e se modernizou numa economia socialista de mercado, tornando-se a segunda maior economia do mundo. A China é o maior exportador de bens do planeta e tem como principais produtos de exportação: equipamentos de transmissão (US$ 231 bilhões), unidades de disco digital (US$ 146 bilhões), peças de máquinas de escritório (US$ 90,8 bilhões), circuitos integrados (US$ 80,1 bilhões) e celulares (US$ 62 bilhões). A China tem como maiores destinos de exportação: EUA (US$ 476 bilhões), Hong Kong (US$ 255 bilhões), Japão (US$ 157 bilhões), Alemanha (US$ 109 bilhões) e a Coreia do Sul (US$ 98,1 bilhões). Em 2017, obteve um saldo comercial positivo de US$ 873 bilhões nas exportações líquidas.
Nos dias atuais, a China é o maior mercado de bens de luxo do planeta. O povo chinês sofreu muito com uma monarquia milenar, uma república incompetente, em seguida, uma tirania desastrosa do líder autoritário, brutal, cruel e implacável de Mao Tsé-tung, cuja meta era falsificar números para fingir progresso econômico, deixando milhões de pessoas com fome e mortas por pensar diferente do PCC, além de o governo acumular dívidas e promover a pior chacina já vista na China, a Grande Fome de Mao, "pelos menos 45 milhões de pessoas morreram desnecessariamente entre 1958 e 1962" (DIKÖTTER, 2017, p.12).
Ao contrário do passado, hoje a China cresce economicamente com as fortes exportações dos produtos industrializados Made in China para o resto do mundo e, apesar de conviver com grandes problemas sociais, econômicos e ambientais. A China é o maior emissor de gases de efeito estufa do planeta desde 2007, quando ultrapassou os EUA. Em Shangai já foi registrado um dos maiores níveis de poluição, deixando 20 milhões de moradores com sérios problemas respiratórios e alérgicos. A China, o maior país da Ásia Oriental, tem sérios problemas, todavia, ruma para novas transformações sociais, econômicas, culturais e ambientais.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma entidade internacional que tem como objetivo auxiliar a abertura do comércio exterior de seus 162 países integrantes. Em 2001, a China entrou oficialmente na OMC e neste ano a população total era de 800 milhões de habitantes. Essa adesão demostra muito a atual posição da China no mundo, pois nessa organização mundial a meta é atuar como fórum de negociação para reduzir empecilhos ao comércio internacional, lutando contra o protecionismo, que prejudica o crescimento da economia mundial e da própria economia chinesa.
A China está na 86ª colocação no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com IDH de 0,752, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), logo, um país integrante do grupo dos países de desenvolvimento humano alto. O Índice de Gini na China em 2008 registrou um pico de 0,491, mas devido as novas políticas sociais têm diminuído a grande desigualdade social e a China avança lentamente e positivamente com um Índice de Gini de 0,400 em 2018.
A China é um dos líderes mundiais na produção e no consumo de celulares, o novo celular da marca Huawei já vem com chip de velocidade de 5G. A China é líder global na utilização de robôs nas suas empresas. A adesão da China da OMC provocou uma força num sistema multilateral e como importância a cláusula Nação Mais Favorecida (NMF), onde uma abonação concedida a um parceiro internacional é imediatamente multilateralizada, e estendida a todos do tratado. A OMC também proíbe qualquer tipo de deslealdade em disciplina de subsídios entre seus integrantes, como por exemplo, dumping (venda de produto com preço abaixo de mercado). A China pratica dumping no comércio exterior para eliminar os produtos concorrentes, no Brasil, dois entre vários produtos, destacamos os brinquedos e os guarda-chuvas Made in China.
Ressaltamos que a China é o maior parceiro comercial do Brasil, os chineses importam soja, minério de ferro, carne de frango, petróleo, açúcar, papel e celulose, suco de laranja, entre outros produtos. As exportações brasileiras para a China já alcançaram 21,8% do total no ano de 2018. Já os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com 12,5% do total. Segundo o ex-secretário de Estado dos EUA e Prêmio Nobel da Paz de 1973, Henry Kissinger, "As relações entre a China e os Estados Unidos são de vital importância para ambos e para o mundo". O encontro bilateral EUA-China foi um dos mais importantes da XIII Cúpula do Grupo do Vinte (G20) em Buenos Aires na Argentina, como também, da XIV Cúpula do G20 em Osaka no Japão. Recentemente, o presidente Donald Trump impôs tarifas de 10% sobre 300 bilhões de dólares em exportações chinesas aos EUA, para eliminar o déficit comercial dos EUA em sua balança comercial com a China, que chegou a US$ 419 bilhões em 2018. A China contra-atacou com a desvalorização do yuan em relação ao dólar americano, além de pedir as empresas estatais para suspender as importações de produtos agrícolas dos EUA.
7. Os Novos Rumos da Economia Chinesa
O líder Deng Xiaoping morreu em 19 de fevereiro de 1997, aos 92 anos, mas foi o grande responsável para que de 1981 a 2001, o PIB chinês crescesse em média de 10,1% ao ano. Novos líderes do Politburo do PCC surgiram na China moderna, Jiang Zemin, Hu Jintao e Xi Jinping. Em 8 de agosto de 2008, os Jogos Olímpicos foram realizados em Beijing, com a participação de 204 países.
Quando Adam Smith publicou o seu segundo livro e sua obra prima em 1776, A Riqueza das Nações, a China era o país mais rico do planeta. Henry Kissinger (2012, p.97) no seu livro Sobre a China enfatizou que na época: "uma vez que o PIB chinês era ainda cerca de sete vezes maior do que o da Grã-Bretanha". O Reino Unido implantou um império com várias colônias e ex-colônias e foi a nação mais rica do mundo no início do século XIX até o fim da Primeira Guerra Mundial. No auge do Império Britânico, foi dito muitas vezes que "O sol nunca se põe" devido à sua extensão ao redor do planeta. No século XVIII, Smith (1983, p.219) enfatizou, "Na China, país mais rico do que qualquer outro da Europa, o valor dos metais preciosos é muito maior do que em qualquer parte da Europa".
Desde 2010, a China é a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA e a frente do Japão. A China é conhecida mundialmente como a Fábrica do Mundo e caminha agora para ser o Shopping Center do Planeta. A China ruma para ser novamente a maior economia do mundo em 2026, nas futuras comemorações alusivas aos 250 anos de A Riqueza das Nações. A China é o maior emissor de dióxido de carbono na atmosfera do planeta, e ao mesmo tempo, o maior investidor global em energia limpa (energias eólica e solar). A obra-prima de Adam Smith, a Bíblia do Capitalismo, é agora um livro ou eBook nas mãos dos estudantes universitários, em mandarim ou inglês, com o apoio da Universidade de Glasgow, a Adam Smith Business School organizou uma série de seminários em inglês, em Beijing e Shanghai, para ajudar os recém-licenciados navegar a primeira etapa de suas carreiras. Os acontecimentos marcantes atraiu alunos de toda a China, bem como altos funcionários das universidades chinesas para debater o pensamento liberal. No Livro I, Capítulo VIII (número de sorte na China), Adam Smith (1983) escreveu: "A China foi por muito tempo um dos países mais ricos, isto é, um dos mais férteis, mais bem cultivados, mais industriosos e mais populosos do mundo".
Segundo o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, em entrevista à revista Isto É Dinheiro, em 03 de novembro de 2010 (pp.86-87), "(...) a inovação e a criatividade do setor privado, que são o motor do crescimento". Em seguida enfatizou que: "(...) o século XXI será dos países emergentes, como o Brasil, a China, a Índia". Em seguida Blair questionou: "Por que a China saiu-se tão bem desde os anos 70? Porque se abriu. A Índia também fez reformas e progrediu". Em sua obra-prima, Smith, aborda também o oposto da riqueza, o antônimo da opulência, a pobreza. No Livro Primeiro, Capítulo VIII, Smith (1983, p.96) disse: "A pobreza das camadas mais baixas do povo chinês supera em muito a das nações mais pobres da Europa". A "Nova Era" de Xi Jinping ainda não resolveu a enorme desigualdade social que prevalece na China nos dias atuais, mas a cada cinco anos a economia socialista de mercado planeja os seus próximos cinco anos, investindo mais em tecnologia e exportando mais os seus produtos como vestuário. A China é o país com mais registros de marcas, de patentes e de desenho industrial do planeta, conforme os dados de 2018 da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI).
Em 15 de maio de 1989, a Praça da Paz Celestial seria palco da recepção do líder soviético Mikhail Gorbachev que selaria a retomada da união entre os dois gigantes socialistas, mas dois dias antes milhares de estudantes ocupariam a praça em um protesto silencioso e posteriormente, com greve de fome, pois queriam ser ouvidos pelas lideranças do Estado chinês para exigir mais abertura política, menos corrupção e a concessão de benefícios sociais. O líder soviético que implantou a perestroika (reestruturação) e a glasnost (transparência) na URSS não foi recepcionado na maior praça do mundo, porém os estudantes conquistaram muito apoio na impressa internacional e permaneceram em protesto e chegaram a construir uma estátua da liberdade de isopor, em frente ao grande retrato do líder comunista Mao Tsé-tung.
Em 4 de junho de 1989, há exatos 30 anos, em Beijing, acontecia na Praça Tiananmen, um dos maiores massacres da História da China no século XX, os estudantes lutavam por liberdade e democracia e contra uma ditadura de partido único. Quantas pessoas morreram no Massacre de Tiananmen? Não se sabe ao certo a quantidade exata de mortos, o PCC fala em 300 civis, a Anistia Internacional estima em mais de 1.000 mortos, já a imprensa internacional estima em mais de 10.000 mortos, de manifestantes até simples pessoas que passavam nas ruas de bicicletas, quando os tanques de guerra passaram por cima de tudo e os hospitais públicos foram proibidos de prestar socorro às vítimas. Até hoje, o PCC proíbe menção ao assunto e, sobretudo, a imagem em 05 de junho de 1989 de um jovem estudante de calça preta e camisa branca, segurando apenas duas sacolas, uma branca, outra preta, em frente a uma coluna de tanques de guerra. Ocorreram reformas que desrespeitavam o direito dos chineses e foram implementadas por Deng Xiaoping, logo, fizeram que com estudantes se vissem na necessidade de ir as ruas exigir seus direitos políticos e humanos. Infelizmente, a China viola muito os direitos humanos em seu vasto território. No ano seguinte, exatamente, em 26 de novembro de 1990 foi inaugurada a Bolsa de Valores de Shangai, enquanto, a classe operária chinesa, no regime socialista, continuou elevando a produtividade do trabalho e com frequência crescente dá exemplos de grande heroísmo ao enfrentar o problema dos transportes, da moradia e do trabalho insalubre nas minas de carvão.
A China é um dos cinco países membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Este conselho é um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável pela paz, pela segurança internacional e pela autorização de uma intervenção militar em país, sendo composto por cinco membros permanentes (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França) e dez membros rotativos, estabelecidos pela Assembleia Geral por apenas dois anos. Não obstante, antes da China chegar ao Conselho foi necessário à sua inclusão na ONU. Esse enquadramento rendeu uma grande pressão feita pelos EUA sobre a Assembleia Geral que foi a responsável por incluir a China na ONU em 1971.
A China tem uma ligação econômica muito forte com a Rússia, o Brasil, a África do Sul e a Índia. O BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é um grupo de cinco países emergentes que tem fortes relações econômicas. A China representa uma grande força nesse grupo econômico, ela responde pela maior parcela do comércio intra-BRICS, representa quase 50% da população do grupo e tem um PIB de US$ 1,5 trilhão maior que o dos outros quatro somados. Os BRICS têm juntos 41,8% da população mundial, 23% do PIB global, 16% do comércio mundial e 26% da área territorial da Terra. A XI Cúpula do BRICS ocorrerá nos dias 13 e 14 de novembro de 2019, em Brasília, cuja presidência rotativa do BRICS é do Brasil neste ano, promovendo um crescimento econômico para um futuro inovador entre os BRICS, já que as exportações totais do Brasil para os demais países do grupo passaram de US$ 49 bilhões em 2001 para US$ 3,2 trilhões em 2017, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil. O presidente chinês Xi Jinping e os demais líderes do BRICS poderão debater o IDH dos cinco países membros na atualidade, em Brasília, e sobretudo, descobrir que na verdade, neste campo, eles formam o grupo RBCAI (iniciais em português de Rússia, Brasil, China, África do Sul e Índia), porque apenas a Rússia com IDH de 0,834 se encontra no seleto grupo dos países de desenvolvimento humano muito elevado, outros não, o Brasil com IDH de 0,759 e a China com IDH de 0,752 são países de desenvolvimento humano alto, enquanto a África do Sul com IDH de 0,699 e a Índia com IDH de 0,640 são países de desenvolvimento humano médio, conforme os dados de 2017 do PNUD.
8. Considerações Finais
Setenta anos depois da Revolução Chinesa de 1949, a China tem um população total de 1.415.673.722 habitantes e uma área territorial de 9.596.961 quilômetros quadrados, logo, uma densidade demográfica de 147,5 habitantes por quilômetros quadrados, atraindo grandes investimentos estrangeiros, como também, realizando grandes investimentos no exterior, por exemplo, em breve, os empresários chineses mudarão os rumos do Porto de Cabedelo, na Paraíba. Na própria China ocorrem grandes investimentos internos, por exemplo, a construção da maior ponte marítima do mundo, a ponte Hong-Zhuhai-Macau, ligando a ilha de Hong Kong (Região Administrativa Especial desde 1997) à Zhuhai (China continental) e a Macau (Região Administrativa Especial desde 1999) com 55 km de extensão. Enfatizamos que em Hong Kong e Macau vigora o princípio "Um país, dois sistemas".
Na primeira década do século XXI, a economia chinesa cresceu em média de 10% ao ano, segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 2007, a taxa de crescimento do PIB chinês foi de 14,2% (FMI). O PIB nominal da China é de US$ 13,4 trilhões e o PIB per capita é de US$ 9.610 (FMI, 2018). O PIB chinês é cerca de cinco vezes maior do que o PIB brasileiro. É inegável a evolução econômica da China, mas a situação atual da China revela seus problemas ambientais (por exemplos, escassez de água e chuva ácida), econômicos (dívida pública interna e desaceleração econômica) e sociais (alta concentração de renda e envelhecimento da população).
Em 2014, a China passou a maior estiagem em mais de meio século no rio Yangtzé, que é o terceiro maior do mundo, cerca de 6,3 mil km de extensão. O uso abusivo de agrotóxicos e fertilizantes nitrogenados trouxe a China um evento único, a explosão de melancia em uma plantação do fruto no lesta da China. Alguns camponeses fizeram o registro de perdas de até dois terços da produção. É notório que hoje um dos maiores inimigos do avanço chinês são os problemas ambientais, porque a chuva ácida, as tempestades de areia e a poluição do ar atrasam construções e frustram empreendedores na China.
Com o líder Deng Xiaoping a economia socialista faz sua transição para a economia socialista de mercado, com suas reformas na China. Em Shenzhen foi a implantada a primeira ZEE e a realizar grandes investimentos em educação, sobretudo, o acesso às universidades pelos jovens', totalmente diferente de Mao. Segundo o historiador Eric Hobsbawm (1995, p.291), "O Grande Timoneiro praticamente aboliu toda educação superior durante a Revolução Cultural (1966-76)".
A China, um gigante asiático, tem presenciado em todas as províncias do País, vários avanços ambientais, econômicos e socais. Atualmente, a China é um país de renda média alta, o maior produtor mundial de automóveis, de bicicletas e de televisores, com uma produção anual de aproximadamente de 28, 95 e 83 milhões de unidades, respectivamente. É a maior produtora global de aço bruto, com 420 milhões de toneladas, devido a uma mão de obra abundante e barata, pois a China tem uma população numerosa e empenhada no crescimento econômico rápido e robusto. A China tem um superávit no balanço de pagamentos e um superávit na balança comercial invejáveis, além de uma reserva internacional de mais de três trilhões de dólares. A taxa de desemprego na China é mensurada semestralmente e em 2019 ocorreu uma queda em comparação ao ano anterior. Em 2018, a taxa de desemprego foi registrada em 3,80%, já em 2019 é de 3,67%. Importante lembrar que em setembro de 2017 a taxa de desemprego foi de 4,00%, devido ao processo de desaceleração econômica recente da China. Já a taxa de inflação atingiu 2,5% em abril de 2019, essa foi a maior taxa em seis meses, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor.
A China mudou muito nos últimos 70 anos, de um país de economia socialista, muita fechada, muito atrasada, muito pobre, em 1949, para uma economia socialista de mercado, muito aberta, muito moderna, muito rica, em 2019. Os próximos passos do dragão chinês, provavelmente, serão mais influência da moeda chinesa (a efígie de Mao Tsé-tung encontra-se no papel-moeda de cem yuanes, com a taxa de câmbio, em 02 de agosto de 2019, é equivalente a R$ 56,04) na economia mundial, mais abertura econômica, mais liberdade econômica, mais parceiros econômicos, mais população urbana (nos dias de hoje, a taxa de urbanização é de 54% e estima-se em 70% em 2030), menos desigualdade social, e sobretudo, mais investimentos em educação de qualidade, a chave do crescimento econômico rápido e robusto no retorno a liderança da economia mundial, porque a China perdeu a hegemonia econômica para o Reino Unido na metade do século XIX. A prosperidade econômica continuará com uma China mais urbanizada, mais educada, mais empreendedora nos próximos oito anos.
Em suma, não obstante, em 2019, a China prevê crescer menos, por isso, tomou a atitude de cortar impostos e aumentar gastos públicos para estimular a economia. A China prevê também intensificar gastos em infraestrutura logística e melhorar as condições de crédito para combater a desaceleração econômica. De acordo com os dados oficiais do Escritório Nacional de Estatísticas, a economia chinesa cresceu 6,5% em 2017, 6,6% em 2018 e 6,2% no segundo trimestre de 2019, a menor taxa já registrada desde 1992. Todavia, em plena Quarta Revolução Industrial, a China irá crescer muito com a Nova Rota da Seda e com as inovações tecnológicas nos próximos oito anos. Recentemente, o presidente Xi Jinping visitou a França e no Arco do Triunfo, em Paris, conversou muito com o presidente francês Emmanuel Macron, ambos conhecem o pensamento de Napoleão Bonaparte (1769-1821), "A China é um gigante adormecido, e quando acordar, o mundo vai tremer".
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Rhianne Farias Barros, aluna do Curso de Graduação em Administração no IESP, rhiannebarros@gmail.com.
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