O Clássico Romance Vanguardista, "Zero" de Ignácio de Loyola Brandão, ou, Tantos Anos de Nós Mesmos?
"É necessário estar sempre bêbado
para não sentir o fardo horrível do
tempo, que abate e faz pender à terra.
É preciso que nos embriaguemos sem cessar,
mas, de quê? De vinho, de poesia, ou de virtudes.
Como acharmos melhor, contanto que nos embriaguemos.
(Baudelaire)
Eu, ainda mal-e-mal me exilando de Santa Itararé das Artes, interior de Sampa (hoje o falido estado todo um Samparaguai de tantos pinóquios de chuchus), estando ainda saindo da fase do guri que amava os Beatles e Tonico e Tinoco, quando literalmente me caiu de vereda nas mãos o diferenciado livro "Zero" do Ignácio Loyola Brandão que me embriagou, quando eu já me gabava de, rebelde sem causa com calca rancheira, ter o proibido "Livro Vermelho de Mao", como quase sempre consegui ter & ler os proibidos, os malditos, os contestadores, que na verdade eram enormemente interessantes trabalhos literários de peso, de vanguarda, marcos literários deste nosso Brazyl S/A de muito ouro e pouco pão.
Sim, meus irmãos, a vida violentou o muro, mas também iluminou cabeças e Ignácio de Loyola Brandão clarificou a literatura desde então. O silêncio vem das bocas?. O romance Zero foi eleito um dos melhores romances do Século XX pela Revista Manchete.
Já pensou a lucidez que mora nos desfechos? Viver em Sampa nunca foi só abanar o rabo. De lá pra cá o Ignácio de Loyola Brandão tornou-se verdadeiramente o melhor nome da literatura brasileira, embriagando seus leitores, surpreendendo, novidadeiro, e o livro Zero virou lenda, e, acima de tudo uma espécie marcante de literatura brasileira pela visão, arrojo, lucidez criacional e obra fora de série com Grandes Sertões Veredas, Dom Casmurro, Incidente em Antares, só para citar alguns. O guri de Araraquara que tinha palavras para agitar colegas desde o primário, tinha loucamente antenado escrito um clássico histórico em plena treva ditatorial, do caos nascendo a luz.
E nunca houve um outro trabalho igual ao Zero. Escrito nos Anos 60 em que o país sofria o cravo do que Millôr Fernandes sabiamente rotulou de a Canalha de 64, o livro inteligentemente descreve de diversas maneiras, inclusive intertextuais, diferenciadas, experimentais com visão, o que foram os nossos tenebrosos anos de chumbo. A primeira edição foi publicada na Itália em 1974 e somente no ano seguinte saiu no Brasil. Em julho de 1976 recebeu da Fundação Cultural do Distrito Federal o prêmio de Melhor Ficção. Em seguida foi censurado pelo Ministério da Justiça e sua venda proibida em todo o território nacional por ser considerado um atentado à moral e aos bons costumes.
Sua proibição, no entanto, fomentou entreveros, críticas, repercussões éticas, discórdias datadas contra o regime de arbítrio, resistências paisanas, permitindo um suporte para a apurada reação de escritores, quando artistas e intelectuais começaram a se manifestar contra a ditadura militar. "O artista é testemunha de seu tempo, de sua sociedade com tudo que ela tem de coisas boas e ruins. Principalmente ruins. Ele não pode cancelar uma realidade sob o pretexto que essa realidade é inoportuna ou desagradável", assim se manifestou a escritora Lygia Fagundes Telles, uma das cabeças pensantes do grupo, num ato público em 1977 promovido pelo semanário Aqui São Paulo, do jornalista Samuel Wainer. Em 1979 finalmente o livro ZERO foi liberado pela censura e desde então, várias edições foram vendidas no Brasil, além das traduções para o alemão, coreano, espanhol, húngaro, inglês, italiano, etc. Ainda hoje, muitos anos depois, Zero continua atual, brilhante, feito um visionário vídeoclipe literário, surpreendendo os que buscam o que há de melhor de nossa literatura humanizada.
Ignácio de Loyola Brandão é jornalista e escritor, já tendo publicado mais de vinte livros, mas ZERO foi relançado em edição especial, como o marco de sua trajetória de escritor sensível, as vezes irônico mas sempre antenado com esta Sampa que cresce mal-e-mal quatro por cento, quando o Brasil (fora de SP), cresce muito mais, apesar da propaganda enganosa do governo de sp que diz que São Paulo está cada vez melhor, feito uma piada ordinária de mau gosto, com o professor paulista-paulistano (de SP, o estado mais rico do Brasil/o estado mais corrupto do Brasil), por exemplo, ganhando trinta por cento a menos do que o professor do Piauí, o estado mais pobre do Brasil.
Ignácio de Loyola Brandão, a bem dizer, virou uma espécie assim de porta-voz dos que ainda pensam, sentem, criam, frente ao cinismo político do modelito neoliberal que incrementa as privatizações-roubos (privatarias amorais sem auditoria) e a própria terceirização neoescravista em antros, máfias e quadrilhas que abundam em SP.
O processo de criação de "Zero" durou nove anos, entre 1964 e 1973, justamente um dos períodos mais truculentos do regime militar brasileiro que foi uma tragédia histórica e cujo preço social pagamos até hoje. Ignácio Loyola Brandão disse: "A obra trata das crueldades da ditadura, mas de forma metafórica, literária". Ignácio Loyola Brandão sentiu na pele as agruras da funesta ditadura. Trabalhando no jornal paulista Última Hora, o escritor enfrentou problemas com a censura dentro da redação. "Fui guardando as matérias censuradas, pensando em escrever um romance de amor. Sem querer, estava nascendo o 'Zero'", contou. A obra surgiu inicialmente como uma série de fragmentos intertextuais sobre uma grande metrópole sob o peso do medo de uma caterva reacionária. Com o Ignácio Loyola Brandão notou que se tratava de um romance, logo deu estrutura ao trabalho de peso e criou um elo de ligação: o casal José e Rosa, que atravessava todas as histórias. "Zero" foi censurado pela ditadura brasileira mas teve sua primeira edição publicada na Itália. "Quando terminei o trabalho, nenhuma editora brasileira ousou publicá-lo. Passei por onze editoras e todas recusaram. Fui ficando angustiado".
Hoje, o escritor colhe o fruto de seu importante trabalho, faz sucesso com merecimento, faz palestras, congressos, debates, com o que embriaga com a sua coragem-lucidez e sua obra maior continua sendo lida e relançada em idiomas, que variam do alemão ao coreano, dando suporte significativo à sua carreira, uma das melhores cabeças pensantes atual. Além de "Zero", o brilhante Ignácio Loyola Brandão também é autor de outras obras de alto nível como "Não Verás País Nenhum", "O Ganhador", "O Anjo do Adeus", "Veia Bailarina e Anônimo Célebre", entre outras mais recentes, no seu realismo feroz, segundo o crítico Antonio Cândido. O menino que vendia palavras na escola primária, agora se regala com o manejo delas, colaborando com jornais brasileiros, escrevendo seus livros, pondo sua veia para bailar prosas de alto nível. Do Zero ao infinito?
Pois Inácio tem a cara, a coragem e o talento daqueles que enxergam longe, dão testemunho de seu tempo (e agruras de seu tempo), escrevendo crônicas que ilustram as páginas dos jornais brasileiros, clarificando corações e mentes. Tantos Anos de ZERO, um épico neorelista extraordinariamente contemporâneo e atual, moderno e contundente ainda, e que também e por isso mesmo continua a nossa cara, o jeito de nós mesmos, a cara de São Paulo indo pra trás, contra a cara do Brasil saindo do ostracismo em âmbito mundial, os podres poderes que hoje estão na economia e em parte da mídia comprometida com agiotas do capital estrangeiro, para não dizer de Sampa cada vez mais "da força que ergue e destrói coisas belas" (Caetano Veloso), modelito tupiniquim de corrupção generalizada e impunidade tucano-liberal-do-DEMO exportado para o resto do país. Ubiratan Brasil diz do clássico Romance Zero "A obra é especial para Ignácio de Loyola Brandão(...) Há de fato uma transgressão, mas não apenas no conteúdo como também na forma. É um fantástico jogo intelectual, com a ficção se confundindo com a realidade em meio a colagens de desenhos unidos por frases sem pontuação".
Mas Sampa, paradoxalmente sobrevive e emerge entre o céu e o inferno, é um afrolatino estágio, ou luso-tupídavídico caldeirão lítero-cultural que também exporta Ignácio de Loyola Brandão contextualizando prismas letrais e lustrais dessa louca megalópole que, como diz Tom Zé, "amodeio". Zero a Zero? Tantos Anos de Nós mesmos é para se comemorar com Zero e com o Ignácio Loyola Brandão que anda mais criativo do que nunca, em alto astral, em paz com a consciência da vida, e deveria ter, isto sim, um congresso lítero-cultural só em homenagem a ele, chamando os nativos pro debate, pro forfé letral de um ZERO que passados tantos anos ainda é Nota Dez com louvor. Murilo Mendes dizia que tinha de dar de comer ao poema. Pois Ignácio de Loyola Brandão dá de comer à ficção que escreve com sangue, suor, lágrimas, humor, musica e invencionices letrais de muito bom gosto.
Bebamos a isso!
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Silas Correa Leite,
Professor, conselheiro diplomado em direitos humanos, jornalista comunitário, ciberpoeta e escritor premiado, consta em mais de oitocentos links de sites, até no exterior, entre eles Cronópios, Observatório de Imprensa, Correio do Brasil, EisFluências e outros, Prêmio Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor, Prêmio Paulo Leminski de Contos, Prêmio Ignácio de Loyola Brandão de Contos, Prêmio Biblioteca Mário de Andrade (São Paulo, Gestão Marilena Chauí), Prêmio Literal (Fundação Petrobrás, Curadoria Heloisa Buarque de Hollanda), Prêmio Instituto Piaget/Cancioneiro infanto-juvenil, Portugal, vencedor do Primeiro Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP-Parceiros do Tietê/Jornal O Estado de São Paulo/Rádio Eldorado) entre outros, publicou em revistas, jornais, tabloides, fanzines, como Revista da Web, Trem Itabirano, Panorama Editorial, Revista Construir, DF Letras, Mundo Lusíada (Portugal), etc. Autor, entre outros, de Porta-Lapsos, Poemas, All-Print, SP, Campo de Trigo Com Corvos, contos premiados, Editora Design, SC (finalista no Telecom, Portugal), DESVAIRADOS INUTENSILIOS, Editora Multifoco, GOTO, A Lenda do Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, romance, GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório, romance, e O Menino Que Queria Ser Super-Herói, romance infantojuvenil, ambos a venda site Amazon e do ebook de sucesso O RINOCERONTE DE CLARICE, onze contos fantásticos, cada ficção com três finais, um final feliz, um final de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, destaque na grande mídia (Estadão, Diário Popular, Revista Época) inclusive televisiva, por ser o primeiro livro interativo da rede mundial de computadores, tendo sido entrevistado por Márcia Peltier (Momento Cultural/Jornal da Noite, REDE BAND), Metrópolis e Provocações (TV Cultura), entre outros, e a obra, por ser pioneira e única no gênero, foi recomendada como leitura obrigatória na matéria Linguagem Virtual, do Mestrado de Ciência da Linguagem da UNIC-Sul de SC, tese de Mestrado na Universidade de Brasília e tese de Doutorado na UFAL. Seu estatuto de poeta foi vertido para o espanhol, francês, inglês e russo. Contatos: poesilas@terra.comr.br