Defender os Diálogos

A Frente Ampla pela Paz e os setores democráticos e amigos da solução política do conflito devem cerrar fileiras em defesa dos diálogos de Havana e pelo início de conversações com o ELN.

Por Carlos Lozano Guillén

O presidente Juan Manuel Santos chegou com mau humor da viagem a Washington para festejar os 15 anos do Plano Colômbia, e o advento de Paz Colômbia, assim batizado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como o anterior o foi pelo presidente Bill Clinton. Sempre a autoridade da Casa Branca.

O presidente Santos a empreendeu contra o ELN, sem esclarecer qual é a causa da demora para os diálogos com este grupo insurgente; e desafiou as Farc, porque "o plebiscito vai, gostem ou não", ainda que o mecanismo de referenda, sexto ponto da agenda, sempre ignorado pelos porta-vozes governamentais, ainda não se aprovou pelas partes.

Porém, o momento mais difícil, talvez crítico, se deu nos fatos sucessivos nos dias 18 e 19 de fevereiro. O chefe da delegação do Governo, Humberto de la Calle Lombana, cumprindo instruções do Presidente da República, anunciou que não se permitirá novos deslocamentos a território colombiano de membros da delegação guerrilheira em função de campanhas pedagógicas com seus camaradas combatentes, devido a que participaram num ato político na corregedoria Conejo, município de Fonseca [La Guajira], no qual os insurgentes portavam armas. E como epílogo, ao finalizar a semana, lhes notificou que, se a 23 de março não se firmam os acordos, "os colombianos entenderão que as Farc não estavam preparadas para a paz"; isto é, em bom romance, um ultimato.

Em La Guajira, não houve nenhum ato político, mas sim a explicação pedagógica do estado atual dos acordos de Havana. Os guerrilheiros que participaram estavam armados porque não se deu o acordo definitivo da deixação das armas e era a maneira de proteger os seus comandantes. O único a que estão obrigadas as Farc, por decisão própria, é o cessar-fogo unilateral, e o têm cumprido, como reconheceu o Governo Nacional. Sobre a data do 23 de março próximo para firmar a paz, todos gostaríamos que fosse assim, porém se deve contemplar a eventualidade de adiá-la, se necessário for.

As Farc têm reconhecido avanços em temas como cessar-fogo bilateral e deixação de armas, porém se mantêm discrepâncias sobre paramilitarismo, zonas de localização [não de concentração, nome com evocação nazista por aquele dos 'campos de concentração'], magistrados de paz e mecanismos de referenda, entre outros sub temas. Porém, também -o Governo Nacional deve reconhecer- faltam os temas pendentes nos pontos aprovados de forma parcial e que têm a ver com reformas sociais e políticas.

Não se sabe a que acordos chegou o presidente Santos em suas conversações em Washington e, sobretudo, com os mandos militares que creem mais na extrema-direita uribista do que no Governo. Não se pode passar por alto que um componente de Paz Colômbia é o gasto bélico para fortalecer as Forças Militares no pós acordo. Há que reconhecer o valor que teve para propor e iniciar os diálogos com as Farc, porém também que esteve mediatizado pela pressão dos inimigos da paz. Sem querer ser ave de mau agouro, são fatos similares aos anteriores processos de paz, em que a oposição às reformas democráticas conduziu à ruptura. O poder dominante crê é na pax romana, na paz dos sepulcros.

A Frente Ampla pela paz e os setores democráticos e amigos da solução política do conflito devem cerrar fileiras em defesa dos diálogos de Havana e pelo início de conversações com o ELN.

 

 


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