Rússia Acusa Turquia de Preparar-se para Invadir Síria
Militares russos disseram na 5ª-feira que "há substrato razoável" para suspeitas de que a Turquia prepara-se intensivamente para uma invasão militar na vizinha Síria.
Imagens de um posto de passagem na fronteira entre a cidade turca de Reyhanli e Sarmada na Síria, tomada primeiro no final de outubro e novamente no final de janeiro passado mostram o surgimento de uma infraestrutura de transporte que pode ser usada para transporte de tropas, munição e armas, disse o porta-voz major-general Igor Konashenkov, em declaração escrita redigida em inglês.
Disse que os sinais aparecem entre outros indícios crescentes de "preparações secretas, nas forças armadas turcas, para ações ativas no território sírio".
Funcionário do Ministério de Relações Exteriores da Turquia disse que o ministério, no momento, não comentaria o assunto.
O press release (vídeo com legendas em inglês) distribuído pelo alto comando militar russo inclui fotos do posto de fronteira.
Ontem, a Turquia proibiu um voo russo de reconhecimento previsto no "Open Skies Treaty" [Tratado Céus Abertos] sobre a região da fronteira turco-síria. Há dúzias de voos desse tipo por ano sobre a Rússia, por aviões da OTAN, e sobre países da OTAN, por aviões russos.
Que eu saiba, é a primeira vez que esse tipo de voo, para o qual houve pedido de autorização e autorização concedida, é bloqueado pelo país a ser sobrevoado.
O porta-voz militar russo rugiu:
Deve-se não esquecer que o Ministério de Defesa da Rússia já intensificou todos os tipos de atividade de inteligência na região do Oriente Médio.
Assim sendo, se alguém em Ankara supõe que a proibição para o sobrevoo do avião russo de observação autorizaria a esconder alguma coisa, não é profissional.
A vitória decisiva das forças do governo sírio ontem cortou qualquer contato entre insurgentes em Aleppo e Idlib e suas fontes de abastecimento na Turquia, e impede agora que os insurgentes recebam combustível.
Como reação a essa vitória, os apoiadores dos insurgentes e terroristas na Síria provavelmente tentarão ampliar seus esforços.
Com a vitória síria, decreta-se a falência das 'negociações' em Genebra, e os sauditas já prometeram que o fracasso implicará mais apoio aos insurgentes e terroristas. O Ministério da Defesa saudita declarou hojeque as forças sauditas poderiam tomar parte na ação na Síria. Mas há dúvidas de que os sauditas tenham real capacidade para tanto.
Seja como for, os sauditas e os demais passarão agora a fazer chover ainda mais dinheiro e novas armas para os insurgentes e jihadistas na Síria. Uma invasão turca poderia acrescentar ímpeto a esse movimento.
A invasão viria pela fronteira sírio-turca entre Azaz e Jarabulus atualmente sob controle do chamado 'Estado Islâmico'. Os curdos sírios do YPG planejam tomar aquela área com o apoio russo e assim selar a fronteira. A Turquia absolutamente não quer que isso aconteça. As muito operantes linhas de comunicação entre turcos e o 'Estado Islâmico' devem permanecer abertas.
Assim sendo, está ou não em preparação uma invasão turca à Síria? Meu palpite é que sim, está. Mas acontecerá realmente? Meu palpite é que não.
A OTAN impedirá que a Turquia meta-se nessa aventura ensandecida. Pode significar guerra com a Rússia, e nenhum país europeu da OTAN quer que isso aconteça. Sem o apoio da OTAN, é pouco provável que militares turcos obedeçam qualquer comando para invadir a Síria.
A própria revelação feita pela Rússia de que os turcos preparam-se para uma (talvez) invasão, já é, só ela, fator de contenção. A revelação significa que a Rússia retaliará imediatamente e duramente contra uma invasão turca, e já ninguém pode duvidar, hoje, de que, sim, a Rússia fará o que disser, e fará para decidir.
Mas, por mais que a Turquia não deva enviar exército seu, ela pode usar um exército 'delegado', para capturar mais território sírio.
O lobby sionista em Washington DC ativo no Washington Institute está aconselhando a Turquia a invadir a Síria 'por procuração' para manter os curdos afastados na zona de fronteira:
O modo mais efetivo para monitorar a área de fronteira em Azaz-Jarabulus seria assegurar que o lado sírio esteja ocupado por forças aliadas da Turquia ou, pelo menos, que se oponham ao 'Estado Islâmico'. Um desses grupos a serem considerados são os turcomenos sírios, etnicamente relacionados com os turcos e que estão sendo treinados pela Turquia como força combatente no noroeste da Síria.
As forças armadas turcas têm artilharia moderna com alcance efetivo de 25 milhas, UAVs e outros meios para proteger clientes seus numa futura zona segura.
Esses "turcomenos" ocuparam o norte de Latakia, de onde estão sendo agora chutados para fora pelo exército sírio e apoiadores. São os fascistas turcos conhecidos como "Lobos Cinzentos", islamistas turcos e mercenários islamistas chechenos e uigures. São comandados pelo serviço secreto (MIT) turco.
Todo o plano padece de uma falha lógica essencial. Se, como dizem oslobbyistas do Washington Institute, é desejável para a Turquia monitorar ou selar a fronteira e impedir o trânsito do 'Estado Islâmico', porque os turcos não fecham o lado turco da fronteira?! Por que seria necessária uma invasão ilegal, por exército 'delegado', em território sírio? Por mais que pense, não consigo atinar com resposta plausível a essa pergunta.
Os lobbyistas também passam ser ver a questão da retaliação potencial. Se a artilharia turca disparar contra a Síria, nesse caso os exércitos que apoiam a Síria passam a ter motivo legal para revidar, por quaisquer meios que se façam necessários. Bastam uns poucos mísseis cruzadores russos para dar conta de eventuais batalhões da artilharia turca. E depois? Aconteceria o quê?
Nem turcos, nem sauditas, nem EUA, nem Israel desistiram de sua guerra contra a Síria, "para mudança de regime". Mas seus procuradores e delegados locais sofreram perdas muito pesadas e provavelmente serão derrotados na luta. Por mais que se devam esperar algumas novas tentativas para escalar o conflito, parece-me que não passarão de movimentos para tentar alguma saída menos vergonhosa, como diz o vulgo, para "salvar a cara".
Algum tempo terá ainda de transcorrer até que a realidade se imponha e até que os inimigos da Síria consigam gerar algum outro 'evento' midiático para distrair a atenção do mundo e encobrir a inevitável retirada.*****
4/2/2016, Moon of Alabama