PCP: Conferência de Imprensa, Pedro Guerreiro, Membro do Secretariado do Comité Central, Lisboa
6 Agosto 2015
1. A 6 e 9 de Agosto de 1945, os Estados Unidos da América lançaram bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki.
O injustificável horror lançado sobre as populações destas duas cidades japonesas provocou 250 mil mortes e muitos outros milhares de vítimas, deixando terríveis sequelas que perduram setenta anos depois. Trata-se de um dos maiores crimes jamais cometido que não pode, nem deve ser esquecido.
Os bombardeamentos nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki realizaram-se num momento em que o Japão se encontrava derrotado e se haviam dado passos no sentido da sua rendição. Acima de tudo, o lançamento da bomba atómica pelos EUA contra as populações japonesas constitui uma fria e premeditada demonstração do seu poderio militar no final da Segunda Guerra Mundial, que marca o início da sua ameaça e chantagem nuclear ao mundo e, antes de mais, à União Soviética, para afirmar os EUA como potência hegemónica no plano mundial.
2. Hoje, perante a escalada militarista e de guerra conduzida pelos EUA, que continua a brandir com a ameaça nuclear, a luta pela abolição das armas nucleares, pelo desarmamento e pela paz assume extrema importância.
Neste quadro, o PCP expressa a sua preocupação e alerta para os perigos da ofensiva militarista dos EUA e da NATO na Europa, onde se integram os exercícios da NATO em Portugal, Espanha e Itália, com início previsto para o final de Setembro e anunciados como dos maiores exercícios realizados por esta organização belicista. Exercícios militares perspectivados para projectar a intervenção da NATO no Mediterrâneo, Norte de África e Médio Oriente.
O PCP condena estes exercícios militares da NATO e apela à expressão do repúdio pelo envolvimento de Portugal na sua realização.
Exercícios militares da NATO que se inserem na estratégia mais geral de militarização das relações internacionais, de corrida aos armamentos e de criação e gestão de focos de desestabilização, tensão e conflito em praticamente todas as regiões do mundo, através da qual os EUA e seus aliados - nomeadamente na NATO, de que a União Europeia é o pilar europeu -, procuram assegurar a imposição das suas pretensões hegemónicas, confrontando e agredindo todos aqueles que resistem à estratégia de domínio mundial do imperialismo.
São expressão desta realidade, o agravamento da situação no Médio Oriente, com a guerra na Síria e no Iraque e a opressão de Israel sobre o povo palestiniano, não esquecendo a guerra no Afeganistão; a militarização da União Europeia; a escalada fascizante e militarista na Ucrânia; a instalação do sistema anti-míssil dos EUA na Europa; e o reforço das forças militares dos EUA e da NATO no Leste da Europa visando a Federação Russa; o intervencionismo militar e as operações de recolonização em África; o incremento do militarismo japonês; a permanente tensão na Península da Coreia; a crescente militarização do Extremo Oriente visando a China; ou a continuação do bloqueio contra Cuba e a desestabilização da Venezuela e de outros países da América latina.
A coberto de intensas campanhas de desinformação e de manipulação com que procuram escamotear as suas criminosas intenções e acções, os EUA e seus aliados promovem a ingerência e a guerra, a instrumentalização de grupos xenófobos e fascistas e sua acção terrorista, assim como o terrorismo de Estado, com que agridem a soberania e independência dos Estados e os direitos dos povos, desprezando a Carta da ONU e a legalidade internacional.
3. Numa situação internacional caracterizada pela crise estrutural do capitalismo, por um processo de rearrumação de forças à escala mundial e pela resistência e luta dos trabalhadores e dos povos em defesa dos seus direitos, soberania e aspirações, o imperialismo lança-se numa violenta ofensiva exploradora e opressora - política a que sucessivos governos têm vindo a amarrar Portugal.
Impõe-se a ruptura com a política de submissão aos ditames estratégicos e militares dos EUA, da NATO e da UE, que está a envolver o País nas operações agressivas do imperialismo e a comprometer a soberania e independência nacionais.
A política externa, patriótica e de esquerda, que Portugal necessita respeita a Constituição da República Portuguesa, assume a defesa da soberania e interesse nacionais, é solidária e aberta ao mundo, e rejeita o imperialismo, o colonialismo e quaisquer outras formas de domínio.
Uma política externa que toma a defesa da solução pacífica dos conflitos internacionais e põe fim à participação militar portuguesa em operações de ingerência e agressão a outros povos.
Uma política externa que toma a defesa da abolição das armas nucleares e de destruição massiva, do fim da corrida aos armamentos, de um processo de desarmamento gradual e negociado.
Uma política externa que pugna pela dissolução da NATO como objectivo crucial para a afirmação da soberania nacional e para a paz mundial, com o qual o processo de desvinculação do País das suas estruturas deve estar articulado, no quadro do inalienável direito de Portugal decidir da sua saída.
Portugal deve afirmar-se no plano internacional como um País defensor da paz, do progresso, da solidariedade e da cooperação entre os povos do mundo. Esse será o maior contributo do povo português para uma Europa e um mundo de paz.
4. 70 anos depois do lançamento das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki, a luta pela paz é mais premente e actual do que nunca.
Recordar Hiroshima e Nagasaki é não só não esquecer as suas centenas de milhares de vítimas, como, em sua homenagem, intervir para que nunca mais a Humanidade venha a sofrer o horror nuclear.
Confiante de que está ao alcance dos povos, das forças anti-imperialistas e dos amantes da paz afastar a ameaça de catástrofe para a qual o imperialismo quer lançar a Humanidade, o PCP reafirma o seu empenho em contribuir para o reforço do movimento da paz e de solidariedade com os povos vítimas da agressão imperialista.
O PCP apela aos trabalhadores, aos jovens a todos os amantes da paz para que fortaleçam a luta contra o militarismo, contra a ingerência e a guerra e pela paz, pelo desarmamento - em particular, pelo desarmamento nuclear -, pela resolução pacífica dos conflitos internacionais, pelo fim das bases militares estrangeiras, pela dissolução da NATO, pelo respeito da soberania e independência nacionais, pelo progresso social, a amizade e a cooperação entre os povos.
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