A luta que se trava hoje é luta pela cultura econômica e política dominante (Leitkultur) na Europa. As potências da UE defendem o status quo tecnocrático que preserva e mantém há décadas a inércia da Europa.
Em suas Notas para uma Definição de Cultura, o brilhante conservador T.S.Eliot ensina que há momentos nos quais a única escolha que há é entre a heresia e a não crença, i.e., quando a única maneira de poder manter viva uma religião é fazer um corte sectário no âmago do corpo principal.
Essa é nossa posição hoje, em relação à Europa: só uma nova "heresia" (representada hoje pelo Syriza) pode salvar o que ainda vale a pena salvar do legado europeu: a democracia, a confiança no povão, a solidariedade igualitária.
A Europa que vencerá, se o Syriza for atropelado, é uma "Europa com valores asiáticos" (o que, é claro, nada tem a ver com a Ásia, mas tem tudo a ver com a tendência visível e atual no capitalismo contemporâneo, de suspender a democracia).
Nós, da Europa Ocidental gostamos de olhar para a Grécia como se fôssemos observadores distanciados que acompanham, com compaixão e simpatia, o suplício de uma nação empobrecida. Esse confortável ponto de vista repousa sobre uma ilusão fatídica. Verdade é que o que se passa na Grécia nessas últimas semanas nos concerne a todos, o que está em jogo é o futuro da Europa. Portanto, quando lemos sobre a Grécia desses dias, não nos esqueçamos que, como diziam os antigos, de te fabula narratur [a fábula fala de ti]. *****
1/7/2015, Greek Left Review