Pesquisa revela que os óculos melhoram o aprendizado de mais da metade das crianças com problemas na visão. Cuidados devem começar na pré-escola.
O atraso escolar de pelo menos 2 anos para cerca de 20% dos alunos apontado pelo censo 2013 da Educação Básica poderia ser reduzido em mais da metade só com o uso de óculos. Isso porque, o baixo rendimento escolar está associado à falta de óculos para 51% das crianças. É o que indica pesquisa feita com 36 mil alunos matriculados nas escolas municipais de Campinas. De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, o levantamento foi realizado pelo braço social do hospital em parceria com a Secretaria de Educação de Campinas. Fez parte do projeto social, Mais Visão, em que as crianças receberam óculos após triagem visual e exame médico.
"O estudo é resultado da avaliação dos pais e professores no período de um ano" afirma Queiroz Neto. Para ele a análise explica porque o Brasil tem a terceira maior taxa de evasão entre 100 países. Segundo o relatório do Pndu ((Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) 1 em cada 4 cria nças brasilerias abandonam a escola no ensino básico.
Outros efeitos dos óculos
Os professores também afirmam que 51,1% conseguem desenvolver atividades que antes não conseguiam, 57% concentram-se mais, 49% finalizam tarefas que antes não terminavam e 36,2% estão menos agitadas. Para os pais o uso de óculos fez com que as crianças que sentiam dor de cabeça parassem de se queixar, 88% passaram a ter mais interesse pelos estudos e a concentrar-se mais nas tarefas. Eles também afirmam que 68% não se incomodam em usar óculos e que 91% conseguem realizar tarefas que antes não conseguiam.
Maioria das crianças nunca foi ao oftalmologista
O especialista diz que 7 em cada 10 participantes do programa realizado no hospital nunca tinham passado por consulta oftalmológica. A estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) é de que 30% das crianças brasileiras precisam usar óculos. Na infância o exame oftalmológico é essencial porque o olho está em desenvolvimento até a idade de 7 anos. "Qualquer bloqueio sem tratamento adequado neste período pode se transformar em deficiência visual grave e até levar à perda irreparável da visão", alerta.
Olho preguiçoso causa cegueira
Não por acaso, um levantamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostra que 5% das crianças brasileiras são cegas de pelo menos um olho e 60% dos casos de cegueira são evitáveis. O especialista destaca que a maior causa de cegueira monocular na infância é a ambliopia ou olho preguiçoso que atinge 4% das crianças brasileiras. Acontece quando o desenvolvimento de um dos olhos fica comprometido. As causas podem ser: estrabismo (olhos desalinhados), catarata congênita unilateral e diferença importante do grau de miopia, hipermetropia ou astigmatismo entre os olhos.
Diagnóstico precoce simplifica tratamento
Queiroz Neto afirma que o diagnóstico do olho preguiçoso antes dos 5 anos permite que o tratamento seja feito com a oclusão do olho de melhor visão para forçar o desenvolvimento do outro. Isso porque, a criança só usa o olho bom e o outro fica cada vez mais fraco.
Ele diz que a oclusão pode funcionar como suporte à cirurgia para alinhar os olhos nos casos mais avançados de estrabismo que não respondem bem à terapia de exercícios e óculos. Também é fundamental para restaurar a visão após o implante de lente intraocular para corrigir a catarata unilateral.
Estrabismo pode passar despercebido
Nem todo estrabismo, destaca, pode ser percebido pelos pais. Há casos em que a doença é latente e só pode ser notada nos testes de motilidade ocular feitos no consultório. Dores de cabeça e torcicolo freqüentes podem indicar necessidade de consultar um oftalmologista para diagnosticar desvio latente do olho.
Sinais de problemas de visão
Queiroz Neto afirma que os problemas oculares mais comuns na infância são os vícios de refração - miopia, hipermetropia e astigmatismo. Ele explica que na miopia a visão de longe é ruim porque as imagens são projetadas na frente da retina pelo sistema de foco do olho - córnea e cristalino. No astigmatismo, irregularidades no formato da córnea fazem com que as imagens sejam projetadas em mais de um plano e a visão fica distorcida. Já na hipermetropia as imagens são projetadas atrás da retina e a visão de perto fica fora de foco. Em geral os vícios de refração surgem a partir da idade de 3 anos, mas podem aparecer antes, principalmente quando os pais usam óculos. Como a criança não tem noção de como enxerga o mundo, pais e professores devem estar atentos aos sinais de problemas de visão. Os principais elencados pelo médico são:
Até 2 anos |
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De 3 a 7 anos |
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Excesso de computador aumenta risco de miopia
Na volta às aulas, muitas crianças podem ter dificuldade de enxergar a lousa. Um estudo feito por Queiroz Neto mostra que passar muitas horas usando computador e videogame quase dobra o risco de contrair miopia (dificuldade de enxergar à distância). O médico explica que isso acontece porque quando o olho está em desenvolvimento o excesso de esforço para enxergar de perto pode enfraquecer a acomodação e causar miopia. O problema pode ser transitório ou permanente, dependendo do esforço visual e de fatores genéticos.
Os sinais de necessidade de consulta médica são dor de cabeça no final das aulas, sentar sempre nas primeiras carteiras ou aproximar muito os livros dos olhos.
Avaliação pela internet
Pais e professores que quiserem assegurar o melhor rendimento escolar das crianças podem fazer a avaliação visual através de testes auto-explicativos disponíveis no site do médico - www.drqueirozneto.com.br. Ele diz que a avaliação pela internet não substitui a consulta médica. Apenas sinaliza como a criança enxerga.
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Eutrópia Turazzi