Investigadores da Universidade de Coimbra participam em estudo europeu sobre a radicalização violenta
Isoladamente, os fatores culturais dificilmente podem ser responsáveis pela radicalização violenta. Esses processos são demasiado complexos e diversificados para que possam ser reduzidos a causas únicas. No entanto, a cultura pode ser um terreno fértil para esses fenómenos quando associada a fatores políticos e económicos, revelam os primeiros resultados do projeto europeu de investigação SAFIRE, um projeto financiado pela União Europeia, através do 7º Programa Quadro, para estudar os processos de radicalização violenta na Europa.
Iniciada em 2010, a investigação é coordenada pelo TNO (organização holandesa para investigação aplicada) e reúne investigadores, peritos e especialistas em ética, de uma dezena de instituições de seis países: França, Holanda, Inglaterra, Itália, Israel e Portugal (Universidade de Coimbra).
Os investigadores Joaquim Pires Valentim e Ana Figueiredo, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra focaram-se justamente no papel dos elementos culturais nos processos de radicalização violenta que conduz a atos terroristas.
Os investigadores de Coimbra começaram por estudar os documentos oficiais europeus sobre o tema e por fazer uma extensa revisão da literatura neste domínio.
Com base nesse trabalho, realizaram de seguida um vasto conjunto de análises utilizando as bases de dados europeias disponíveis em acesso livre (e.g., Estudo Europeu dos Valores) centrando-se nas variáveis que se relacionam com a cultura. Variáveis essas que incluem, por exemplo, índices de democracia, de orgulho nacional, de respeito pelos direitos humanos, de tolerância à diversidade, atitudes para com os imigrantes, experiência de discriminação e taxa de desemprego entre outros, e estudaram as possíveis relações entre essas variáveis e os indicadores de terrorismo na Europa.
Os resultados preliminares mostram a preponderância dos aspectos socioeconómicos (como o PIB e o desemprego) e políticos. Em especial, constata-se, de forma consistente a importância que têm a participação política dos cidadãos e a confiança nas autoridades (parlamento nacional e europeu, sistema legal, polícia, partidos políticos, Nações Unidas), porque estão associadas a valores mais baixos nos indicadores de terrorismo.
As análises revelam também que «há muitos mitos sobre a problemática do terrorismo. A perceção da ameaça é muito superior à realidade no que respeita a incidentes terroristas. Verifica-se uma clara discrepância entre a perceção dos cidadãos e a realidade», observa o investigador Joaquim Pires Valentim.
O estudo pretende construir um «modelo não linear e dinâmico que ajude clarificar a complexidade dos fenómenos de radicalização e extremismo violento que levam ao terrorismo na Europa, colocando ênfase na sua divulgação e na disponibilização dos resultados obtidos de modo acessível aos diferentes intervenientes neste domínio (decisores políticos, educadores, técnicos de serviço social e de intervenção comunitária, forças policiais, organizações não governamentais)», diz a investigadora Ana Figueiredo.
Em síntese, o projeto SAFIRE visa obter um conhecimento aprofundado dos processos que geram os fenómenos de radicalização violenta e desenvolver princípios que possam ser úteis na formulação de políticas preventivas a vários níveis e na melhoria das intervenções no terreno que procuram prevenir, impedir e reverter processos de radicalização e extremismo violentos associados ao terrorismo.
Cristina Pinto