Novo grupo de estudos busca compatibilizar biotecnologia recente e medicina tradicional

Novo grupo de estudos busca compatibilizar biotecnologia recente e medicina tradicional

por Victor Matioli 
 
 
 
O Conselho Deliberativo (CD) do IEA-USP aprovou a criação do Grupo de Estudos Biotecnologia Terapêutica Recente e Medicina Tradicional. A proposta, aprovada durante a 190ª reunião do colegiado, realizada no dia 12 de dezembro, foi encaminhada ao CD por Silvano Raia, médico e professor da Faculdade de Medicina (FM) da USP, que coordenará o grupo. A responsável pela vice-coordenação será Mayana Zatz, geneticista e professora do Instituto de Biociências (IB) da USP.


O objetivo do grupo, de acordo com o projeto entregue ao IEA, é “discutir a compatibilização dos novos métodos terapêuticos baseados na biotecnologia recente com os métodos terapêuticos da medicina tradicional, focalizando aspectos éticos, religiosos, legais e médicos”. A atuação do grupo está prevista para o biênio 2019/2020.


Raia, que em 1985 realizou o primeiro transplante de fígado da América Latina, defende que a harmonia entre os métodos é mais urgentemente necessária na área dos transplantes.

Justificativa

Segundo ele, os bons resultados obtidos nos últimos anos com transplantes de órgãos criaram uma demanda inatingível para o sistema de saúde, que não consegue atender as filas de espera cada vez mais longas. O desenvolvimento do método de transplante intervivos — no qual a doação parte de um paciente vivo e saudável — remediou a escassez de órgãos, mas não trouxe a solução definitiva, já que muitas vezes o transplante causa a morte do doador.


Um dos casos mais graves, para ele, é o da espera por transplantes de rim. “No Brasil, em 2017, 150 mil pacientes estavam em diálise, dos quais 21.059 com indicação para transplantes”, registrou o médico no documento de apresentação do grupo. “Destes, 1.176 faleceram por falta de órgãos.” Raia lembrou ainda que, somente no ano passado, os pacientes em terapia dialítica custaram dois bilhões de reais ao Sistema Único de Saúde (SUS).
 
 
Em uma tentativa de superar a escassez de rins transplantáveis, Mayana e Raia conduzem, no Centro de Estudos do Genoma Humano e Células Tronco (CEGH-Cel) da USP, um projeto de viabilização do xenotransplante de rim. O método consiste na utilização de órgãos suínos nos transplantes em humanos. Segundo Raia, a rejeição do órgão pode ser evitada por meio de engenharia genética, especificamente pelo método CRISPR-Cas9.


No documento apresentado ao CD, Raia afirma que o procedimento seria capaz de “modificar radicalmente o cenário de transplantes de órgãos sólidos no Brasil e no exterior”. Ele lembra, entretanto, que o uso de órgãos de animais em seres humanos suscitará discussões éticas, religiosas, legais e médicas na sociedade. “Esforços terão que ser dirigidos para compatibilizar esse novo enfoque com os princípios da medicina tradicional”, defende. “É desta compatibilização que trata o grupo de estudos proposto ao IEA.”
 
Membros e metodologia
Além dos coordenadores Silvano Raia e Mayana Zatz, o grupo terá outros quatro membros permanentes. Os médicos Jorge Alberto Costa e Silva, presidente do Instituto Brasileiro do Cérebro (Inbracer), Jorge Elias Kalil Filho, professor da FMUSP, e Rodrigo Vianna, professor da Universidade de Miami, e a geneticista e professora do IB-USP Maria Rita dos Santos e Passos Bueno.
 
 
Cinco pesquisadores colaboradores também farão parte do grupo: Luiz Carlos de Caires Júnior, Ernesto da Silveira Goulart Guimarães e Luciano Abreu Brito, do IB-USP, Pe. Mário Marcelo Coelho, zoólogo e doutor em teologia moral pela Accademia Alfonsiana, e Roberto Romano da Silva, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


As atividades serão desenvolvidas por meio de reuniões bimestrais e seminários temáticos semestrais, que contarão com público ampliado e especialistas convidados. No documento de apresentação, o grupo demonstra ter interesse em elaborar um projeto de pesquisa que será submetido a agências de fomento “para fortalecer as atividades e a produção do grupo de estudos”.


Além disso, fazem parte das atribuições do grupo a delimitação de subtemas e tópicos que serão discutidos, levantamento bibliográfico e de especialistas que possam contribuir com os assuntos tratados e a elaboração de um termo de referência para orientar cada um dos seminários temáticos. O grupo demonstrou ainda o interesse de desenvolver suas atividades concomitantemente às que vêm sendo realizadas na Academia Nacional de Medicina (ANM). De acordo com Raia, que também é membro da ANM, os estudos paralelos já foram aprovados pela diretoria da Academia em uma reunião realizada no dia 22 de março deste ano.


Foto 1: Gabriel Borda/Flickr
 
http://www.iea.usp.br/noticias/novo-grupo-de-estudos-busca-compatibilizar-biotecnologia-recente-e-medicina-tradicional?utm_source=Boletim&utm_medium=not%C3%ADcia&utm_content=novo
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