História: E se...
Não existe o SE na História.
Mesmo assim, nada é mais tentador do que imaginar como as coisas poderiam ser diferentes, SE...
Em 1917, ao instaurar o primeiro sistema socialista de governo no mundo, os russos encheram o mundo de esperanças de que finalmente uma parte da humanidade, pelo menos, viveria num lugar onde a exploração do homem pelo homem seria banida.
A necessidade de defender o novo sistema das agressões internas e externas e de um bloqueio econômico que durou décadas, impediu que a ideia de transformar o reino da necessidade no reino das liberdades se transformasse em realidade.
Mesmo assim, em determinado momento histórico, a partir da década de 60, a antiga Rússia, transformada numa confederação de repúblicas, a URSS, parecia ter consolidado sua condição de grande potência mundial e começaria a se abrir para a realidade com a qual sonharam os revolucionários de 1917.
O governo de Gorbachev seria aquele que faria essa mudança com os seus projetos da Perestroika (reestruturação) e da Glasnost (transparência)
Aí, entram os SEs que a História não contempla.
SE, Gorbachev tivesse sido capaz de mobilizar o partido e a população para defender seus projetos, a URSS teria sobrevivido?
SE, no final da década de 80, quando Gorbachev, em vez de uma abertura política dentro do socialismo, pretendeu restaurar o capitalismo, ele fosse destituído do seu poder dentro do Comitê Central do Partido Comunista, a revolução teria sido salva?
SE, quando ficou claro, em agosto de 90, que os Estados Unidos, a OTAN e até o Papa, trabalhavam juntos para a destruição da URSS, os velhos comunistas que prenderam Gorbachev em sua dacha, tivessem tido mais determinação em suas medidas, Ieltsin teria sido vitorioso em sua pregação nacionalista?
Pensar desse jeito é apenas um jogo intelectual sem sentido, mas pode ser usado em qualquer circunstância histórica.
Pegue por exemplo, o golpe de 64 no Brasil e veja quantos SEs podem ser usados.
SE, quando aquele general Mourão, que se auto-intitulava de "vaca fardada", começou seu movimento em Minas, contrariando a cúpula militar do golpe, Jango tivesse mandado, como queria o Ministro da Aeronáutica, bombardear a frente das colunas que desciam para o Rio, o golpe que infelicitou o Brasil por mais de 20 anos, teria se consolidado?
SE, quando Brizola quis resistir aos golpistas novamente a partir do III Exército, Jango tivesse concordado, teria acontecido a ditadura militar?
E SE...
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS