Governo russo está revendo as políticas neoliberais

Segundo várias notícias, o governo russo está reavaliando as políticas neoliberais que tão pouco ajudaram e tanto prejudicaram a Rússia, desde o fim da União Soviética. Se a Rússia tivesse adotado política econômica inteligente, a economia russa estaria em muito melhores condições do que está hoje. E, se tivesse restaurado a confiança no autofinanciamento, teria evitado a maior parte da fuga de capitais russos para o ocidente.

Washington aproveitou-se de um governo russo desmoralizado, que buscou orientação em Washington, na era pós-soviética. Acreditando que a rivalidade entre os dois países teria acabado com o fim do regime soviético, os russos acreditaram no conselho que os norte-americanos lhes deram, para modernizar a economia russa na direção de ideais ocidentais. Mas Washington logo traiu a confiança nos russos e acabrestou a Rússia numa política econômica concebida para assaltar o patrimônio econômico russo e transferir a propriedade deles para mãos norte-americanas no específico e não russas em geral. 

Com aplicar esse golpe contra a Rússia, levando os russos a aceitar a entrada de capital de fora e expondo o rublo à especulação, Washington garantiu que os EUA conseguissem desestabilizar a Rússia com fluxos de saída de capitais e assalto direto contra o valor de câmbio do rublo. 

Só governo que não conhecesse o objetivo neoconservador dos EUA obcecados com alcançar a hegemonia mundial, teria algum dia exposto o próprio sistema econômico a esse tipo de manipulação por interesses organizados nos EUA e contra interesses locais de qualquer tipo.

As sanções que Washington impôs - e obrigou a Europa a impor - à Rússia mostra o quanto a economia neoliberal trabalha obcecadamente contra a Rússia. As altíssimas taxas de juros e a 'austeridade' (não é austeridade: é ARROCHO) fizeram naufragar a economia russa - sem qualquer ganho para a Rússia. O rublo foi derrubado pela fuga de capitais, resultando no processo pelo qual o Banco Central 'torrou' as reservas estrangeiras da Rússia no esforço para 'sustentar' o rublo, mas processo que, na verdade, só  'sustentou' a fuga de capitais.

Vladimir Putin até acha atraente a noção romântica de uma economia global à qual todos os países tenham igual acesso. Mas os problemas que resultaram da política neoliberal forçaram-no a recorrer à substituição de importações para tornar a economia russa menos dependente de importações. Aqueles problemas também levaram Putin a dar-se contra de que, se o plano era a Rússia manter um pé na ordem econômica 'ocidental', ela teria de manter o outro pé na nova ordem econômica em construção com China, Índia e as repúblicas asiáticas ex-soviéticas.

A economia neoliberal prescreve uma dependência política que depende de empréstimos de fora e investimentos estrangeiros. Essa política cria dívidas em moeda estrangeira e entre a propriedade sobre lucros auferidos na Rússia, também a estrangeiros. São duas perigosas vulnerabilidades no caso de nação que Washington já declarou "ameaça existencial aos EUA".

establishment econômica que Washington preparou, no qual a Rússia sonhava 'integrar-se' sempre foi neoliberal. Considerem-se, dentre outros, a presidenta do Banco Central Elvira Nabiullina; o ministro de desenvolvimento econômico Alexei Ulyukayev; e os ministros das Finanças, o atual e o anterior, Anton Siluanov e Alexei Kudrin - todos eles neoliberais doutrinais. Todo esse pessoal, para lidar com o déficit no orçamento russo, só sabe vender patrimônio público dos russos, a estrangeiros. Se tivesse sido efetivamente implantada, essa política daria a Washington cada vez maior controle sobre a economia russa.

Serguey Gaziev

Contra essa seleção de "economistas de lixão" [orig. junk economists], está Sergey Glaziev.[1] Boris Titov e Andrei Klepach, ao que se sabe, são aliados de Glaziev.

Esse grupo compreende que as políticas neoliberais deixam a economia da Rússia suscetível a golpes de desestabilização manobrada por Washington, sempre que os EUA queiram punir governos russos por não obedecerem à política externa ditada de Washington. O objetivo deles é promover uma Rússia mais autossuficiente, de modo a proteger a soberania nacional e a capacidade do governo para defender interesses nacionais da Rússia, em vez de subjugar esses interesses aos interesses de Washington. 

O modelo neoliberal não é modelo de desenvolvimento: é modelo puramente extrativo. Norte-americanos o têm caracterizado em termos de Rússia e outros dependentes serão 'rachadores de lenha e puxadores de água para os príncipes' [Josué 9:21], ou, no caso da Rússia, puxadores de petróleo, gás, platina e diamantes.

Autossuficiência significa não depender de importações ou de capitais externos para investimentos que possam ser financiados pelo banco central da Rússia. Também significa conservar partes estratégicas da economia em mãos públicas, não privadas. Serviços básicos de infraestrutura devem ser postos a serviço da economia nacional a preço de custo, ou com preços subsidiados ou gratuitamente, nunca entregues a proprietários estranhos ao país, para que deles extraiam lucros de monopólio. 

Glaziev também quer que o valor de câmbio do rublo seja determinado pelo banco central, não por especuladores no mercado de moedas.

Economistas neoliberais não veem que o desenvolvimento econômico de um país superdotado de recursos naturais como a Rússia pode ser financiado com o dinheiro necessário criado pelo banco central. Para eles, seria procedimento . 

Os neoliberais negam o fato já reconhecido há muito tempo de que, em termos da quantidade de dinheiro, não faz diferença alguma de onde venha o dinheiro, se do banco central ou de bancos privados (os quais, como o banco central, também criam dinheiro, não com a Casa da Moeda, mas com juros de empréstimos ou 'recolhidos' fora do país). A diferença é que, se o dinheiro vem de bancos privados ou do exterior, os juros são devidos aos bancos privados e os lucros têm de ser divididos com investidores estrangeiros, que sempre acabam por controlar a economia.

Aparentemente, os neoliberais russos são insensíveis à ameaça que Washington e vassalos europeus fazem contra o estado russo. A partir de mentiras completamente inventadas e cevadas na/pela mídia-empresa, Washington impôs sanções econômicas à Rússia. Essa demonização política é tão fictícia quanto toda a propaganda da economia neoliberal. Apoiada nessas mentiras, Washington vai ampliando as forças militares e o número de bases de mísseis empurrados para perto das fronteiras da Rússia e em águas russas.

Washington obra para mudar regimes nos estados que foram províncias soviéticas, para ali instalar regimes fantoches hostis à Rússia, como fizeram já na Ucrânia e na Georgia. A Rússia é continuadamente demonizada por Washington e pela OTAN. 

Washington politizou viciosamente até os Jogos Olímpicos, e conseguiu impedir que muitos atletas russos (e TODOS os paratletas olímpicos russos) participassem dos jogos no Rio de Janeiro em 2016.

Apesar de todos esses movimentos hostis contra a Rússia, mesmo assim os neoliberais russos ainda acreditam que as políticas econômicas que Washington insiste em impor à Rússia considerariam interesses dos russos. Não. As políticas econômicas que Washington insiste em impor à Rússia visam, exclusivamente, a expor a economia russa a ser controlada por/de Washington. Nessas condições, ancorar o destino da Rússia à hegemonia belicosa dos EUA é entregar a soberania russa à soberania dos EUA.*****

 


[1] Sobre ele, ver, dentre outros artigos, "Para pôr fim às guerras dos EUA em todo o planeta: Assessor de Putin propõe Aliança Antidólar", 18/6/2014, Tyler Durden, ZeroHedge (traduzido emRedecastorphoto; e "Entrevista com Sergei Glaziev - Para compreender a Ucrânia em 15 minutos", 23/8/2014, Redecastorphoto (NTs). 

 

10/8/2016, Paul Craig Roberts e Michael Hudson, Paul Graig Roberts Website

 


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Pravda.Ru Jornal