O povo Yanomami está contaminado por mercúrio do garimpo
Estudo inédito da Fiocruz, em parceira com o ISA aponta presença de altos níveis de mercúrio em habitantes da Terra Indígena Yanomami
Viver em um território que tenha em seu subsolo grandes reservas de ouro pode parecer uma benção e um sinônimo de riqueza. Infelizmente, para os Yanomami, esta situação tem sido a sua maior maldição. Um estudorecente conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), mostra que a contínua invasão ilegal de garimpeiros em seu território tem trazido graves consequências: algumas aldeias chegam a ter 92% das pessoas examinadas contaminadas por mercúrio.
São muitos os garimpeiros que trabalham ilegalmente em nossos rios e além do desastre ambiental e social que causam, nós desconfiamos que nosso povo está sendo envenenado com o mercúrio utilizado pelos garimpeiros (Davi Kopenawa Yanomami, março de 2013)
Coleta de amostras cabelo de moça Ye'kwana na aldeia Maloca Nova, região de Waikás. Foto: Marcos Wesley/ISA, 2015
Atendendo ao pedido daHutukara Associação Yanomami (HAY) e daAssociação do Povo Ye'kwana do Brasil (Apyb), uma equipe de pesquisa visitou 19 aldeias, em novembro de 2014. Foram coletadas 239 amostras de cabelo, priorizando os grupos mais vulneráveis à contaminação: crianças, mulheres em idade reprodutiva e adultos com algum histórico de contato direto com a atividade garimpeira. Também foram coletadas 35 amostras de peixes que são parte fundamental da dieta alimentar destes índios. O estudo foi realizado nas regiões de Papiú e Waikás, onde residem as etnias Yanomami e Ye'kwana.
Coleta de amostra de cabelo de rapaz Yanomami na comunidade de Aracaçá, região de Waikás. Foto: Marcos Wesley/ISA, 2015
O caso mais alarmante foi o da comunidade Yanomami de Aracaçá, na região de Waikás, onde 92% do total das amostrasapresentaram alto índice de contaminação. Esta comunidade, entre todas as pesquisadas, é a que tem o garimpo mais próximo. Na região do Papiú, onde foram registrados os menores índices de contaminação - 6,7% das amostras analisadas - a presença garimpeira é menos acentuada.
Como se dá a contaminação por mercúrio
Ouso do mercúrio faz parte do processo tradicional utilizado no garimpo para viabilizar a separação do ouro dos demais sedimentos. Uma parte dele é despejada nos rios e igarapés e a outra é lançada na atmosfera. Uma vez na atmosfera, ele acaba caindo nas proximidades das áreas de exploração. As águas dos rios e os peixes que ingerem o mercúrio podem levá-lo para regiões mais distantes. A contaminação de seres humanos se dá especialmente através da ingestão de peixes contaminados, sobretudo os carnívoros e de tamanho maior.
Mulheres e crianças yanomami participando da apresentação dos resultados do estudo sobre contaminação por mercúrio de garimpo. Terra Indígena Yanomami, região do Papiú. Foto: Marcos Wesley/ISA, 2016
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