Rússia: Jogo de poder por trás da ‘mudança de regime’

Com “amigos” como o presidente do Conselho da Europa Donald Tusk e o comandante da OTAN general Philip Breedlove [literalmente “filho do amor”, ou, mais, “da raça do amor” (NTs)], a União Europeia (UE) com certeza não precisa de inimigos.

O general Breedhate [literalmente “filho do ódio”, ou, mais, “da raça do ódio” (NTs)] anda encarnando seu melhor arremedo de Dr. Fantástico”, a alertar que a Rússia-do-mal está invadindo a Ucrânia todos os dias. O establishment político alemão não está gostando.Tusk, no encontro com o presidente Obama dos EUA, virou de cabeça para baixo a máxima “Divide e Impera”: insistiu que “adversários estrangeiros” tentam dividir os EUA e a UE – por mais que, na verdade, sejam os EUA que só fazem tentar dividir a Rússia e a União Europeia. Na mesma linha, culpou a Rússia – que se teria aliado ao falso Califato doISIS/ISIL/Daesh.

O que Tusk está(ria) fazendo? A UE que assine o sistema fraudulento concebido pelos EUA-empresa, conhecido como Tratado Transatlântico de Parceria para Comércio e Investimento [orig. Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP)], nada além de uma OTAN comercial.  E daí em diante o “ocidente” reinará para sempre.

A OTAN pode, sim, realmente, incarnar o paradoxo geopolítico/existencial máximo: uma aliança que existe para administrar o caos que ela mesma cria e ceva.

E ainda, orbitando em torno da OTAN, há muitas outras táticas diversionistas até onde a vista alcança. Considerem-se as mais recentes jaculatórias do conhecido russófobo Dr. Zbigniew “Grande Tabuleiro de Xadrez” Brzezinski. Em conferência no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, o Dr. Zbig pregou que EUA e Rússia devam acertar entre elas que, no caso de a Ucrânia vir a ser membro da UE, ela nunca será membro da OTAN.

Ora, ora, caro Doctor, temos um problema. A UE tem interesse zero em incorporar um estado falido, mantido vivo artificialmente (sistema caríssimo de vida artificial) pelo FMI, e mergulhado, tecnicamente, numa guerra civil.

Por outro lado, os EUA têm interesse monolítico, não diviso, em meter a Ucrânia como membro da OTAN: aí está todo o fundamento digamos ‘racional’ para a incansável demonização pós-Maidan, do presidente Putin da Rússia.

Digamos que seja manobra do Dr. Zbig; pensamento maníaco-desejante de neoconservador; coisa pela qual algumas facções do Império do Caso/Masters of the Universe morreriam; ou todas as anteriores; o alvo definitivo, radical, é conseguir ‘mudar o regime’ na Rússia e esquartejar a Rússia. A inteligência russa sabe tudo dessa ‘história secreta’.

 

A reação igual e contrária, da Rússia, exige que, para haver qualquer acordo, só se se acabarem as sanções contra a Rússia; fim do ataque especulativo contra o rublo/guerra dos preços do petróleo; todos os países do leste europeu fora da OTAN; a Crimeia reconhecida como parte da Federação Russa; o leste da Ucrânia convertido em região autônoma, mas ainda como parte da Ucrânia.

Todos sabemos que, tão cedo, não acontecerá (se algum dia acontecer). Assim, o mais provável é que continue essa horrível atmosfera de Guerra Fria 2.0 – além de campanha de incansável demonização da Rússia, que já começa a dar seus frutos. 

Uma nova pesquisa Gallup mostra que mais americanos veem hoje a Rússia – mais que a Coreia do Norte, a China e o Irã – como inimigo público n. 1 dos EUA e como principal ameaça contra o ocidente.

O sonho do Império do Caos, de conseguir ‘mudança de regime’ na Rússia, sempre foi condição absoluta para que os EUA controlem grandes porções da Eurásia. Um fantoche em Moscou – cópia carbono de Yeltsin, o pateta beberrão – facilmente ‘liberaria’ todos os imensos recursos naturais da Rússia para o ‘ocidente’, junto com os dos “-stões” contíguos, na Ásia Central, como brinde.

Se, por outro lado, a Rússia mantém sua influência, mesmo indireta, na Ucrânia e sobre o petróleo e gás natural da Ásia Central, Moscou é capaz de se projetar outra vez como superpotência.  Como se vê, é sempre sobre a dominação do Oleogasodutostão Eurasiano; tudo que não seja isso significa como ameaça direta ao mundo unipolar.

A inteligência russa está bem consciente da incansável pressão dos EUA sobre a Rússia, com vistas a arrancar pedaços da Rússia, enfraquece-los, até a Rússia seja convertida em terra devastada e caos, não diferente de Iraque ou Iêmen – com seus recursos naturais fluindo livremente para o ‘ocidente’.

 

Esse é o motivo pelo qual a pressão continua gigantesca, já alcançando proporções de guerra nuclear. Mas alguns adultos na UE, parece, estão começando a entender do que realmente se trata.

 

A UE simplesmente não tem dinheiro para realmente investir nos “-stões” da Ásia Central ou para bombear bilhões de euros (desvalorizados) em oleogasodutos através do Azerbaijão. Líbia, Nigéria e o Oriente Médio (do Iraque até o Iêmen) são uma confusão só. A UE não recebe nenhuma garantia de fornecimento de energia, nem do Oriente Médio nem do Norte da África. E se não receber garantias da Rússia, de que a energia continuará a fluir até lá, não terá nenhuma garantia, de coisa alguma.

Esse conjunto de circunstâncias expõe o fantasma de uma Guerra Fria 2.0 que vai esquentando muito perigosamente.  Desnecessário dizer, Polônia, Ucrânia e outros leste-europeus desamparados nunca passarão de peões, se explodir guerra civil total na Ucrânia – objetivo explícito daquela Terra do Nunca, o Kaganato de Nulands, ou Nulandistão.

Num cenário – admitidamente aterrorizante – de guerra, a Rússia fechará o espaço aéreo do leste da Ucrânia servindo-se de seus sofisticados mísseis de defesa. Pela primeira vez na história seriam usadas armas nucleares táticas. A Europa lá ficaria, basicamente sem defesas, no caso de os Drs. Fantásticos da OTAN serem tentados a iniciar guerra nuclear total. 

Seja como for, os Mísseis Balísticos Cruzadores Intercontinentais e mísseis cruzadores e jatos de caça da OTAN não fariam nem cócegas nos sistemas S-400 e S-500 de mísseis russos de defesa.

 

Provocar o urso russo é posição perdedora. A Rússia já desligou-se do Tratado sobre Forças Convencionais na Europa – o que é negócio realmente sério (a OTAN está mais que muito alarmada). E, isso, ainda sem falar que Moscou já anunciou que tem pleno direito de instalar (e talvez já tenha instalado) armas nucleares na Crimeia. Enquanto isso, os militares russos continuam a testar as defesas inimigas, mandando seus aviões voar sobre o perímetro protegido pela OTAN.

A Eurásia balança de um minuto para outro, entre reconciliação e provocação. Cui bono?Quem ganha com isso? Moscou é mestra em manter Washington e OTAN cercadas, num mar de palpites.

Putin foi o primeiro a propor, anos atrás, que se criasse uma rota comercial que iria de Lisboa a Vladivostok, incluindo também a China, usando trens de alta velocidade para evitar os oceanos e mares controlados pelos EUA. Foi o plano original movido a comércio, em vez de alguma aliança China-Rússia contra a OTAN.

O que o Império do Caos conseguiu na Ucrânia, pelo menos por enquanto, foi dividir a Eurásia em três blocos em disputa entre eles: Alemanha-França aliadas aos EUA (mas os dois países já muito preocupados como os desenvolvimentos da aliança); a Rússia; e a China perturbada pelo Japão. Mais uma vez, é “Divide e Impera” – com os EUA como hegemon perpétuo, sempre capaz de adaptar e acionar sua proverbial estratégia de política exterior: “Bombardeie e Abuse”.

Mas a ópera (geopolítica) só acaba depois que a dama gorda canta [2] A parceria estratégica Rússia-China continua a evoluir – bastará ver as próximas reuniões dos BRICS e da Organização de Cooperação de Xangai na Rússia, nesse verão. 

A riqueza de petróleo e gás natural da Rússia e Ásia Central continuará a fazer a volta, de volta, para China e Ásia. E em poucos anos o mantra dos “Excepcionalistas que reinam sobre as ondas” deixará de ser fator determinante pró excepcionalistas.

Mudar o regime? Vão sonhando. 

[1] “Venha passear no meu cruzeiro”: Frankie Ford, em "Sea Cruise" (cruzeiro marítimo). Levado ao ar no programa Saturday Night Beech-Nut Show, 21/3/1959 [NTs].

[2] No orig. Yet it ain’t over till the fat (geopolitical) lady sings. Sobre “Depois que a dama gorda canta”, vide Edward Hugh, 25/11/2012: “Os jornalistas financeiros em todo o mundo ficaram surpreendidos e intrigados quando ouviram, muito recentemente, Christine Lagarde utilizar uma estranha expressão. “Sabem: a coisa só termina depois que a dama gorda canta, como diz o ditado” – disse ela aos espantados jornalistas numa conferência de imprensa em Manila. Que senhora gorda, e o que é que ela canta, devem ter sido questões que atravessaram a mente de muitos dos presentes. Se fossem ver, descobririam que, longe de ser alguma nova deixa de sabedoria feminina que a Directora-Geral do FMI quisesse transmitir, a frase, na verdade, tem origem no mundo machista dos negócios e dos comentadores desportivos de jogos cujo resultado se mantém incerto até ao último minuto, e, nos negócios, para significar que um negócio não está efectivamente fechado até que seja feito o último lance 

 

16/3/2015, Pepe Escobar,Sputnik

http://sputniknews.com/columnists/20150316/1019554833.html


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