Bem, amigos do Debates Culturais, bom dia, boa tarde ou boa noite. Bem, amigos! Em pleno mundial de 2014, essa Copa do Mundo não desce nem redonda nem quadrada, porque há muita coisa entalada em nossa garganta canarinho.
Explico que comecei a me interessar por futebol aos oito anos de idade, no Mundial da Suécia. Porque via meu pai grudado no rádio, os olhos cheios de lágrimas. "O senhor tá chorando, pai?". "É, mas de alegria". E porque num domingo maravilhoso (a final foi num domingo?), vi meus tios e primos festejarem feito uns loucos, em volta de um rádio ligado. Eles passavam por baixo da mesa, pulavam e se abraçavam.
Um dos meus primos teve a bondade de me explicar o que estava acontecendo. Voltei correndo para casa: meu pai ria e chorava. "Pai, eu sei o que é tudo isso, o Brasil ficou campeão do mundo, não é?". Ele me abraçou com uma alegria que poucas vezes vi em seus olhos.
Desde então gosto de futebol, pois o associei à alegria. Não vejo os jogos para admirar as pernas lindas dos jogadores, e sei que não estão posando para uma foto no momento da barreira. Aprendi muita coisa perguntando ao meu lindo que, pacientemente, ia elucidando minhas dúvidas.
Na Copa de 1962, que foi no Chile, eu tinha 12 anos, e então Didi, Garrincha e Pelé eram os ídolos de uma nação apaixonada. Em 1966, aos 16 anos, ouvi do diretor da Escola Normal, onde eu estudava para ser professora: "Amem o nosso país. Ele é lindo. As pessoas que foram para a Copa na Inglaterra nos contam que lá é frio, cheio de neblina e tem um ar triste." A classe queria ouvir mais, porém ele encerrou aí. Afinal, aquele ano fora terrível para a nossa seleção. Mas já éramos as garotas que amavam os Beatles e os Rolling Stones. Rá tá tá tá...
Veio a Copa de 1970 no México, eu fazia faculdade e lecionava em escola de zona rural. Havia uma explosão de ufanismo no ar. Não sou aquela torcedora brasileira de quatro em quatro anos. Desde menina, torcia pelo glorioso XV de Novembro de Piracicaba, vendo a paixão do meu pai pelo "Nhô Quim". Nos tempos de namoro, me apaixonei pelo torcedor são-paulino com quem me casei e também pelo time que ele amava.
Homem sempre acha que mulher não entende de futebol e da regra do impedimento. Nem sempre ela é aplicada com retidão pelo árbitro, que pode se enganar, anular gols legítimos ou marcar impedimento quando há condições legais de jogo.
Meu lindo dizia que a beleza e a graça do futebol residem nos erros da arbitragem, dando faltas demais, marcando pênaltis duvidosos, expulsando injustamente. Ponham um chip na bola e o futebol perderá a graça. Não pode haver esse detalhamento de falhas, em busca da precisão: é vital para o nobre esporte o desempenho limitado do homem imponente de calção preto, em seu papel técnico e humano, para o bem ou para o mal.
Finalizo com minha homenagem ao mais notável dos árbitros na história do futebol: Armando Marques. Rigoroso, folclórico e muito respeitado. Eu o vi no Programa do Jô noite destas. O eterno juiz continua lúcido, sagaz e inteligente. Olé!
*Marisa Bueloni mora em Piracicaba, SP. Formada em Pedagogia e Orientação Educacional. É membro da Academia Piracicabana de Letras - marisabueloni@ig.com.br
Por Marisa Bueloni em 16/06/2014
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