É Fantástico! Quem diria? Em meio a tantas futilidades que a "revista semanal" da TV Globo leva ao ar todos os domingos, no programa do dia 15 uma reportagem de Marcelo Canellas fugiu à regra. Com imagens do cinegrafista Lúcio Alves, ele acompanhou a saga do casal Iara e Eduardo Xavier, os "Caçadores de bons exemplos".
Orlando Pontes*
Os dois resolveram abandonar a vida tranquila que levavam na pacata Divinópolis, no interior de Minas Gerais para uma empreitada digna de reconhecimento: encontrar em todo o território nacional pessoas que desenvolvam ações em prol do próximo.
O primeiro passo foi pedir demissão de seus respectivos empregos e vender o único imóvel que possuíam. Com o dinheiro, equiparam um carro e o personalizaram com os dizeres "caçadores de bons exemplos". E puseram o pé na estrada, adotando como regra número um não consultar internet ou qualquer outro tipo de mídia.
Iara e Eduardo simplesmente chegam nas cidades e conversam com populares. Se receberem alguma indicação sobre alguém que faça trabalhos voltados para ajudar o próximo, imediatamente deslocam-se para lá, sem qualquer aviso prévio. O objetivo é verificar o que é feito sem maquiagem.
Até o início deste mês, o casal já havia percorrido 160 mil quilômetros e catalogado - pasmem! - mais de 700 (setecentos) projetos de solidariedade em 18 diferentes estados brasileiros. Tudo é filmado, com a coleta de depoimentos e os dados entram para um arquivo que eles estão produzindo sem ainda saber como o utilizarão no futuro.
Os planos do casal são de continuar com o pé na estrada até o final de 2015. Iara, emocionada com as novas experiências que vive a cada dia, revela que o dinheiro está acabando, mas a determinação de seguir em frente só aumenta. "Vamos a pé, de mochila nas costas", garante. Eduardo concorda.
O que impulsiona a dupla são exemplos como o projeto "Canarinhos da Amazônia", um coral em Roraima que livra crianças da pobreza extrema pela força da música. Ou a iniciativa de uma mulher chamada Maria das Dores, que preside o projeto Anjos de Luz, em Boa Vista. Das Dores tem uma filha com deficiência e decidiu ajudar famílias camponesas a procurar tratamento na capital do estado.
Em Manaus (AM), o casal localizou o Instituto Alguém. A única filha da diretora, Carolina Varella, morreu aos 7 anos de um tipo raro de câncer. A partir daí, passou a lutar para dar condições a famílias pobres a tratar seus filhos em hospitais de referência.
Quem dera a vênus platinada aproveitasse sua condição de líder de audiência para pautar matérias como esta de Marcelo Canellas. Isto sim, seria Fantástico.
*Orlando Pontes é diretor e editor do semanário BSB Capital em Brasilia