As sanções ocidentais não esmagaram a economia russa porque falharam em minar a base do sistema financeiro. A baixa participação das importações no PIB também desempenhou um papel positivo.
A economia russa conseguiu resistir às sanções ocidentais devido à influência de vários fatores, disse Dmitry Timofeev, diretor do Departamento de Controle de Restrições Externas do Ministério das Finanças no Fórum Econômico Oriental.
"A Rússia está seguindo uma política de chamada estabilidade financeira. Isto inclui o orçamento equilibrado, pelo qual o Ministério da Fazenda é responsável. O Banco Central está perseguindo uma política de inflação direcionada e uma taxa de câmbio flutuante. Isto tornou possível evitar um cenário difícil, com o qual o Ocidente aparentemente contava. O sistema financeiro russo funcionou, ele continua funcionando e continuará funcionando", disse Timofeev.
Crises financeiras importantes ocorrem quando a circulação financeira é interrompida em primeiro lugar, declarou Timofeev.
"Por que houve tal declínio na Rússia após o colapso da URSS? Houve hiperinflação porque a circulação de dinheiro foi perturbada em algum momento, não há economia de mercado sem dinheiro. <...> Houve uma grande crise financeira na Grécia, porque o trabalho dos bancos gregos também foi perturbado. Quando não se pode manter dinheiro em um banco porque não se confia neles, não haverá economia normal", disse ele.
A política de estabilidade financeira é correta. O setor bancário sofreu 1,5 trilhão de rublos de perdas no primeiro semestre do ano, mas os bancos russos estão passando pela crise sem muita dor, disse o primeiro vice-presidente do Banco Central, Dmitry Tulin, em entrevista ao RBC. A maioria dos bancos está passando por um período conturbado, com reservas de capital suficientes.
Uma participação relativamente baixa das importações no PIB é outra razão que explica a resiliência da economia russa às sanções ocidentais.
"Nós não temos muitas importações. Se considerarmos o PIB, ele é de cerca de 20%. Mas se houver exportações, haverá importações - não há outra maneira. A questão é o que importamos", disse Timofeev.
De acordo com Rosstat, em 2021, as importações russas representavam 21% do PIB (para comparação, a média global era de 28%, conforme o Banco Mundial).
A Rússia abandona gradualmente a infra-estrutura financeira ocidental e muda para assentamentos em moedas nacionais.
"O Ocidente proporcionou um importante estímulo com suas sanções. É bastante perigoso usar agora as moedas de reserva. A Rússia está ciente deste problema, mas é preciso convencer os países parceiros disso também". Não acho que será um processo fácil, mas chegaremos a isso", disse ele.
A rotatividade do par rublo-yuan já supera o dólar. A Rússia se tornou o terceiro país do mundo em termos de liberação cambial do yuan. Em 6 de setembro, a Gazprom anunciou que mudou para pagamentos em moedas nacionais com o CNPC da China para o fornecimento de gás russo à China.
A situação atual define a tarefa da Rússia de mudar o sistema financeiro em todo o mundo, porque a Rússia não poderá continuar a viver como vivia antes.