Servil aos EUA e desrespeitoso com o Brasil

Servil aos EUA e desrespeitoso com o Brasil

Editorial do site Vermelho:

Foi-se o tempo em que o Brasil, na pessoa de seu presidente da República, era homenageado no mundo - trazendo grande orgulho para os brasileiros, numa época em que o Brasil, ciente e zeloso de sua soberania e independência, desempenhava papel ativo na diplomacia mundial. O tempo em que, num encontro do G20 (que reúne os países mais ricos e influentes do planeta), realizada em Londres (Inglaterra) o então presidente dos EUA, Barack Obama, chamou Lula de "o cara" - ele disse, literalmente: "I love this guy". Isso ocorreu há exatos dez anos, em abril de 2009.

Hoje, infelizmente, o Brasil - de joelhos perante os EUA e seu presidente, o truculento Donald Trump - perdeu esse papel, esse desempenho, essa graça. O capitão-presidente Jair Bolsonaro não é motivo de orgulho para os brasileiros, mas de constrangimento, como se viu nas últimas semanas. Nas quais não conseguiu sequer marcar um evento em que Bolsonaro seria homenageado pela Câmara do Comércio Brasil-EUA. Marcado inicialmente para ocorrer em Nova Iorque, não se conseguiu um local para sediar o evento. Primeiro o Museu de História Natural de Nova Iorque e, depois, o Hotel Marriott Marquis, na Times Square, onde funciona o restaurante Cipriani Hall, não aceitaram acolher a homenagem - resultado das intensas pressões de grupos democráticos locais, que rejeitam os pontos de vista autoritários e antidemocráticos de Jair Bolsonaro.

O prefeito de novaiorquino, Bill de Blasio, do Partido Democrata, congratulou-se com o cancelamento e resumiu, numa frase, os motivos: "Jair Bolsonaro é um homem perigoso. Seu racismo evidente, sua homofobia e decisões destrutivas terão um impacto devastador no futuro do nosso planeta. Em nome de nossa cidade, obrigada Museu de Nova Iorque por cancelar este evento." As empresas que patrocinariam o evento também se afastaram dele: a companhia aérea Delta, o jornal Financial Times e a consultoria Bain & Company decidiram acompanhar a reação anti-Bolsonaro.

Em consequência, o governo brasileiro anunciou, no dia 3 de maio, que Bolsonaro desistiu de ir à metrópole estadunidense. E agiu às pressas para improvisar uma agenda para o mesmo evento, marcado agora para Dallas, no Texas, onde ocorreu finalmente nesta quinta -feira (16), num encontro com investidores. Sem a presença do prefeito de cidade, Mike Rawlings, do Partido Democrata, que disse discordar "fortemente de algumas das posições do presidente Bolsonaro". Que, antes, na quarta-feira (15), fez uma visita de cortesia ao ex-presidente dos EUA George W. Bush, que não o havia convidado.

No jantar, em Dallas, o servilismo do capitão presidente desdobrou-se de maneira notória. Ele insistiu que "o Brasil de hoje é amigo dos EUA" e quer "o povo e os empresários americanos ao nosso lado". E, avesso à verdade, continuou: o Brasil vivia até pouco tempo "uma política de antagonismo" aos americanos e os tratava "como inimigos". E, de maneira deselegante, insólita e outra vez faltando com a verdade, acusou a presidenta deposta em 2016, Dilma Rousseff, de terrorismo - numa frase onde homenageou um torturador, o capitão Charles Chandler, agente da CIA que, nas ditaduras como a brasileira, ensinava técnicas de tortura aos agentes da repressão. Bolsonaro disse: "quem até há pouco ocupava o governo teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão - como eu sou capitão - naqueles anos tristes que tivemos lá no passado. Rendo a homenagem aqui ao capitão Charles Chandler, também um herói americano". Outro torturador que Bolsonaro homenageia!

Em uma fala paranóica, Bolsonaro atacou a imprensa que, disse, está tomada "pela esquerda", da mesma forma agrediu os professores e estudantes que naquele dia estavam nas ruas de todo o país para defender a educação, duramente castigada pelo governo entreguista e seu ministro mal-educado. E, em sua sabujice errou inclusive o bordão que usa frequentemente: "Brasil e Estados Unidos acima de tudo, Brasil acima de todos" - trocou a palavra "Deus" pela palavra "Brasil".

Foi uma visita lamentável sob todos os aspectos. Como disse o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), a declaração, feita pelo presidente do Brasil, de que "os Estados Unidos estão ´acima de tudo´ é um disparate, pois coloca a nossa nação em posição subalterna. Essa viagem presidencial aos Estados Unidos não deveria ter ocorrido".

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Pravda.Ru Jornal