Por Jairo Martins, presidente executivo da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ)
Mesmo com a crise econômica instaurada, alguns setores da economia vão muito bem, obrigado. Um bom exemplo é o agronegócio, que deve apresentar expansão de 2% em 2017, de acordo com estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Além disso, o setor representa 48% das exportações totais do País e só no ano passado os produtos do agronegócio cresceram mais de 4%. Não é pouco dizer que a lavoura será a salvação de uma economia que prevê fechar este ano próximo de zero. Contudo, o bom desempenho de agora não assegura a plenitude do negócio para sempre.
Estar fora da crise não quer dizer que não se precise de atenção. Pelo contrário, tendo em vista que o agronegócio, mais uma vez, é um dos agentes de sustentação da economia e possui outros setores atrelados, é importante uma visão sistêmica para impulsionar e primar pela excelência da cadeia produtiva como um todo.
O agricultor compra maquinário, precisa de pessoas capacitadas, utiliza transporte e embalagens que necessitam de serviços, insumos e infraestrutura, que, por sua vez, geram um ciclo virtuoso. Porém, se as políticas públicas e os fornecedores não conseguem atender às exigências ou não estão qualificados, o processo sofre entraves que impactam na entrega do produto. Se não houver uma gestão estruturada que permeie toda a cadeia de valor, imprescindível em época de crise, vamos perder uma grande oportunidade de fazer o Brasil voltar a crescer.
Nas últimas semanas temos sido testemunhas do estado deplorável em que se encontram as nossas estradas, impossibilitando o escoamento da safra do centro-oeste, que apodrece no meio do lamaçal. Se não era novidade que a colheita de 2017 iria ser a salvação do Brasil, por que os responsáveis pela infraestrutura logística não adotaram uma postura proativa para tomar as medidas necessárias? Novamente nos deparamos com o grande erro dos governos que continuam a lotear cargos, colocando políticos despreparados, e não técnicos competentes, em Ministérios e Secretarias. Não podemos mais entregar cargos estratégicos nas mãos de partidos, que não têm visão coletiva e só miram objetivos eleitoreiros. Quando o governo vai entender que esta prática já fez estragos suficientes no Brasil?
É preciso colocar a lupa no desenvolvimento desses setores, por isso, tanto o Ministério da Agricultura quanto o Ministério dos Transportes, entre outros órgãos públicos como o BNDES, têm a função de priorizar setores, preparando a infraestrutura e retomando a linha de crédito também ao produtor rural, à indústria de máquinas, para que o Brasil se levante.
Já dizia um provérbio oriental que "homens fracos criam tempos difíceis, tempos difíceis criam homens fortes, e homens fortes criam tempos fáceis". Em tempos difíceis, em que as instituições e setores precisam fortalecer suas operações, é necessário dar base não só para aquelas que estão mal, mas especialmente para aquelas que estão bem para fazer crescer ainda mais. Independentemente da condição favorável ou não, medidas podem ser tomadas, como a utilização de sistemas de gestão, que estão à disposição do governo e das instituições.
Agora é o momento de alinhar iniciativas e investir na melhoria dos processos, ainda mais que o agronegócio tem condições para isso. Afinal, a lavoura será a salvadora do Brasil nestes tempos difíceis.