No material do "The Financial Times" chamava-se a atenção para uma carta que o primeiro ministro da Grécia Alex Tsipras tinha, de acordo com o jornal, mandado para a tróika dos credores internacionais, a qual é composta por representantes da Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. [Tróika- palavra de origem russa que sinifica um comité de três membros]
Por Vladimir Nesterov
Traduzido por Anna Malm - Correspondente de Pátria Latina na Europa
Quanto a mensagem de Tsipras dizem que ele estaria "de acordo com a maior parte das sugestões a respeito da reforma econômica publicada pela Comissão Europeia no domingo". Não foram anunciadas novas consultações do grupo europeu com Atenas antes do referendum na Grécia, previsto para o 5 de julho.
Poucos meses depois da vitória de Syriza nas eleições gregas dois partidos governando o país desde 1974, o Pasok e Nova Democracia, foram sendo completamente desmoralizados e Syriza passou a ter grande popularidade. Esse era o primeiro governo de esquerda na Grécia desde o tempo do "governo nas montanhas" o qual era o governo inoficial dos guerrilheiros do tempo da ocupação nazista do país. A tróika, ou seja, as três partes agora responsáveis pela catástrofe econômica no país (Comissão Européia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) continua com a sua política de ameaças, chantagens e ultimatos. Esse é o conjunto dos meios com os quais a tróika tenta obrigar o primeiro ministro Alex Tsipras a continuar a implementação do "plano econômico" executado obedientemente pelos seus antecessores.
Depois de ter perdido nos últimos quatro ano ¼ do seu PIB, e sofrido 27% de taxa de desemprego (50% entre jovens até 25 anos) a Grécia vem vivendo uma profunda crise social. O governo tenta implementar a austeridade exigida pela tróika, apesar dos resultados da eleição em janeiro desse ano terem dado ao partido de Alex Tsipras um mandado para terminar com a "economia de austeridade [lê-se, a economia que exige a corda no pescoço da população mais pobre]. Mesmo assim a União Europeia continua acusando a Grécia. [Grécia está então sendo acusada de não estar apertando a corda até ao ponto de pô-los a todos fora de ação].
A complexa situação desenrolando-se na Grécia faz lembrar a do Chile no começo dos anos setenta, de quando o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon foi para a remoção e eliminação de Salvador Allende, e isso para que "nos quintais dos Estados Unidos" ninguém pudesse levar a cabo uma política econômica auto-suficiente. "O caminho econômico do Chile estava desafiando, e aos uivos" - condenou então Nixon. De quando se ouviam os "uivos" lá vinha Pinochet com seus tanques. A quieta organização do golpe desenrolando-se na Grécia agora usa meios mais modernos como agências de ratings, bancos e a imprensa.
Como resultado disso tudo para o governo de Tsipras existem agora só dois cursos de ação: implementar seu próprio programa e ficar financeiramente sufocado, ou capitular frente a tróika o que o levaria a deixar o seu cargo. Nesse caso o povo grego seria o claro perdedor da batalha.
Tem-se mais do que qualquer outra coisa aqui que a "tróika" está lutando mesmo é contra uma "epidemia" Syriza por toda a Europa. Nas vésperas das eleições gregas o presidente do Banco Central Europeu, Mário Draghi, disse que o seu programa de resgate de títulos do governo, ou seja, a dívida dos países da zona do euro (de 60 bilhões de euros mensais) poderia ser adotado na Grécia só em determinadas condições. Em outras palavras, a "ajuda" [ênfases acrescentadas] só seria dada no caso de um acordo com a tróika quanto a governança interna do país ser dirigida por Bruxelas.
Entretanto, os gregos parecem não ter entendido essa dica indireta e elegeram Syriza nas eleições de janeiro. O líder do Eurogrupo, Jeroen Deysselblum, logo os pôs no devido lugar: "Os gregos deveriam compreender que os grandes problemas de sua economia não iriam acabar só porque se teve uma eleição". Lá também foram lembrados pela diretora administrativa do FMI, Cristina Lagarde, de que exceções para esse ou aquele país não seriam feitas pela sua instituição. Traduzindo o dito: Cale a boca e pague.
Depois de um tempo Mário Draghi concluiu que a economia da Grécia estava "começando a uivar". Sem maiores explicações ele suspendeu o financiamento dos bancos gregos. O único estável instrumento de financiamento para a Grécia era agora o programa de ajuda financeira de emergência (Emergency Liquidity Assistance, ELA). Esse é um mecanismo nada confortável exigindo renovação diária. Foi assim que Draghi colocou a espada de Damocles sobre a cabeça do governo Syriza.
Os gregos serão despojados, privados, negados e roubados de ainda mais uma coisa. O bundesbank declarou que a ELA (fundo de emergência) de acordo com as regras da União Europeia não deveria ser usado como um financiamento de governos (os bancos gregos ainda compram a curto prazo obrigações de dívida do governo. A agência de ratings Moody´s por sua parte apresentou ao mundo de negócios a vitória do Syriza como tendo um impacto negativo no crescimento econômico.
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O tema principal das negociações do governo Tsipras com a "Tróika" apresenta-se da perspectiva dos credores. Infelizmente o conhecido memorando que em 2010 foi apresentado a Atenas levava à polític do "apertar os cintos" - ficar magrinho - e ao "aumento dos impostos". Cerca de 90% da soma dada pelos credores voltam a eles mesmos, as vezes até já no segundo dia, porque eram destinadas a pagar as dívidas antigas.
Em tal situação corrigir falhas econômicas já não é mais possível, e um não-pagamento significaria falência. Os credores tem em suas mãos poderosas armas para chantagens. Contra-requisitos de Atenas bateram de frente com ameaças de total suspensão de financiamento, até mesmo através da ELA.
Já em fevereiro o eurogrupo estava a dar aos gregos ultimatos: continuar o curso dos antecessores ou ir buscar dinheiro em outro lugar. Tsipras pediu uma pausa de quatro meses para recuperar o fôlego. Isso significava que não teriam que pagar 7,2 bilhões de euros dentro do prazo determinado anteriormente pelas partes. Isso poderia então permitir a revitalização da economia permitindo depois renegociar o pagamento da dívida. O governo grego estava contando com 1,2 bilhões de euro do fundo europeu (EFFS), o qual não tinha sido utilizado na época da recapitalização dos bancos gregos. Contavam também com 1,9 bilhões de euros, os quais o Banco Central Europeu tinha comprado em obrigações gregas prometendo retorná-las. Entretanto, em meados de março o Banco Central Europeu recusou-se a retorná as mesmas.
Além disso, Tsipras começou a entrar no caminho das concessões e dos descontos. Decidiu aqui questionar e contestar o programa das privatizações dos antecessores, aguardando o momento propício para minimizar os pagamentos.
Ainda, os credores exigiam o desregulamento do mercado de trabalho e a legalização de demissões maciças. A Comissão Europeia insistia na privatização a longo prazo. Interesse nisso mostrava-se principalmente por parte da Alemanha, que também queria que os bens da Grécia fossem dados na barateira.
Os gregos sugeriram que suas dívidas fossem discutidas numa conferência internacional semelhante a da conferência de 1953 para a Alemanha ocidental, na qual os alemães se livraram de grande parte das suas dívidas relatadas ao custo das reparações de guerra. Os gregos queriam que se abrissem semelhantes caminhos para um seu "milagre econômico". Entretanto essa sugestão só fez por cair num mar de ameaças e ultimatos.
Os dois últimos meses de discussões com a "Tróika" foram feitas conjuntamente pelo ministro das finanças da Grécia e seu delegado Euclides Tsakalotos. Esse então de quando avaliando as discussões disse que "o governo enfrenta um golpe de estado de um novo tipo. Esse golpe não está sendo feito através de tanques blindados como em 1967. Os bancos são as suas armas e os tanques blindados de hoje.
Referências e Notas:
Владимир НЕСТЕРОВ - Греция: переворот нового типа - www.fondsk.ru
Anna Malm - Phil.Lic. - Risk Research. Stockholm School of Economics
https://artigospoliticos.wordpress.com - http://www.facebook.com/anna.malm.1238